8. Como um clichê adolescente, sabe?

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É estanho saber que sinto algo pela sobrinha do meu treinador. Eu não sei exatamente o que é, não sei porque sinto a necessidade absurda de conversar com ela, ou porque meu coração parece errar as batidas toda vez que a vejo com Helena nos braços. E nem sei porque me sinto tão bravo quando esses malditos jornalistas de fofocas começam a publicar matérias e mais matérias de como ela está tendo um affair as escondidas com James Rodríguez - o que claramente não é verdade. Eu era próximo dela há alguns anos, mas quando me casei com Natalia, nos afastamos. Foi natural, na verdade, e não foi por causa de casamento. Foi na mesma época em que ela desistiu da pedagogia e decidiu que Cinema era sua paixão, foi quando eu tive que me dedicar a minha carreira e a minha esposa e nossos estilos de divas eram incompatíveis. E agora que sou divorciado e que ela é oficialmente tem o nome em um diploma de Cinema, parece que voltamos a nos falar melhor.

Eu a conheci quando seus olhos eram de um castanho tão puro que era possível a decifrar com apenas um olhar profundo. Mas agora, ela se tornou imprevisível. E eu adoro isso. Eu adoro como ela, depois de tantos anos, têm a mesma ferocidade de quando era uma garota com poucas responsabilidades e muita ingenuidade no coração. Ela amadurece, mas a essência é a mesma: encantadora.

Me tirando dos meus pensamentos, sinto alguém tocando em meu ombro e me viro, olhando Neymar, Cássio, Willian e Thiago juntos, com um olhar divertido. Ótimo, vai começar...

-Você anda pensando demais, irmão. -Thiago diz, como se não quisesse nada e se joga na poltrona do meu quarto.

-Pode se desconcentrar desse jeito...-Neymar continuou, me lançando um olhar de falsa inocência.

-Gostaria de saber no que você pensa tanto... -Willian continha, com uma falsa curiosidade, e eu sinto como se estivesse rodeado por adolescentes, mas absolutamente nenhum desses homens tem menos de 25 anos e só estão se comportando assim pra me verem perder a paciência.

-Eu sei muito bem no que ele tanto pensa... -Cássio fala, dando de ombros.

-Começa com 'Bruna' e termina com 'Taffarel'.-Thiago responde o que ninguém perguntou e eu imediatamente sinto meu coração acelerar com a simples menção do nome dela. Ignoro isso e dou espaço para a irritação tomar conta.

Rolo os olhos, sem paciência alguma para essas brincadeiras deles. Não estou com vontade de continuar com isso, preciso ir pra cozinha, ou para a sala, qualquer lugar que me deixe longe desse grupo de adultos disfuncionais com espírito de adolescentes. Funciono melhor sozinho.

-Pode ir se sentando, Becker. Vamos ter que conversar sobre a Bruna. - a voz de Neymar soa séria pela primeira vez desde que o conheci e uma sensação estranha toma conta do meu corpo. Não é possível que um cabrunco da minha idade esteja com borboletas no estômago pra falar sobre uma garota.

-Todos nós já percebemos como você vem agindo de uns tempos para cá. A forma como você a encara, e o jeito que você ficou quando o Gabriel comentou sobre ela ter ido ver o jogo da Colômbia com a blusa do James apenas confirmou a nossa teoria. -Cássio mantém sua postura calma de sempre, me olhando.

-E a teoria é: você gosta da Bruna. Como um clichê adolescente, sabe?

É óbvio assim?

-Então, viemos te dar um conselho: conversa com ela. fala com ela, beija ela. Apenas faça! É muito chato assistir você sendo um frouxo e fingindo que não gosta da garota.

-E quem disse que ela sente algo por mim? Eu não posso só chegar e beijar se ela não sente nada de volta.

- É um palpite, cara. - É tudo que Neymar responde e eu sinto como se ele tivesse acabado de dar uma de esfinge. - É isso, a gente vai sair. Vê se toma coragem e assume que gosta dela.

E eles foram saindo um de cada vez, deixando Thiago por último, comigo.

-Sem brincadeira, acho que é melhor você falar logo com ela. Não importa se você sente mas não sabe o que é, é melhor fala enquanto tem chances. James não é para brincadeira. -E saiu, fechando a porta.

Rolo os olhos, voltando a me deitar.

Eu realmente odeio não saber o que fazer.

angry || alisson becker Onde histórias criam vida. Descubra agora