O casamento sob contrato

Capítulo 1

O dia amanheceu cinza, uma típica manhã de inverno. Daniela andava pela rua com passos rápidos, caminhando contra o vento gelado que batia em sua cara pálida e bagunçava seus cabelos loiros.

Olhou apressada para o relógio que corria apressado, faltando 5 minutos para as 08h00.

Vou chegar atrasada – Pensou nervosa.

Pensamento que fez com que seu estomago fizesse um barulho alto. Na verdade, o barulho não foi ocasionado somente pelo nervosismo, o maior responsável por esses sons era a fome. Sua última refeição tinha sido o almoço do dia anterior, deixou o restante da janta para sua mãe poder almoçar hoje, pois sabia que como estava indo no primeiro dia de trabalho receberia o vale, ou alguma ajuda de custo. Pelo menos era com isso que contava, precisava disso mais do que tudo, considerando que não teriam mais nada para comer em sua casa.

Chegou no prédio e se apresentou para a recepcionista.

– Bom dia, hoje é meu primeiro dia. Acredito que devo falar com Joana, secretária do senhor Gonzales – Falou sorridente entregando seu documento de identidade para a moça bem vestida a sua frente.

Ao falar essas palavras se lembrou da Joana, uma senhora de idade simpática que ajudou no processo seletivo.

Daniela iria substituir Joana nas suas atividades, pois a mesma estava em processo de aposentadoria, a senhora queria aproveitar o resto da vida com sua aposentadoria e cuidando de seus netos e familiares. O processo seletivo foi todo conduzido pela Joana, que mesmo com olhar de bondosa era muito objetiva e organizada. Afinal, seu papel era ser secretária de um dos sócios majoritários de uma empresa de logística de grande porte, cargo que esta ocupava há mais de 10 anos.

Durante a entrevista Daniela se lembrou do Sr. Gonzales, seu futuro chefe, um homem muito bonito de 30 e poucos anos, porém muito sério.

Ele tinha um cabelo preto bagunçado, maxilar que marcava bem, barba por fazer e olhos castanhos escuros. Era quase um ator de um filme faroeste, daqueles que fazia qualquer garota se apaixonar.

Claro, tenho que ter uma distração dessas no meu novo trabalho. – Pensou ela assim que entrou na sala da primeira entrevista.

Tinham mais umas 10 mulheres concorrendo o mesmo cargo, percebeu que muitas ficaram animadas com o novo chefe, afinal, ele era lindo.

Porém, em nenhum momento durante todo o processo ele se deu o trabalho de olhar para a garota, inclusive para qualquer uma, exceto uma mulher que era extremamente vulgar e claramente estava dando em cima dele, fazendo todo mundo ficar sem jeito. Daniela inclusive achou que essa seria a escolhida, e não ela, e a atitude dele de não ligar para quando ela falasse também fez com que essa se sentisse insegura sobre a oportunidade.

Mas ficou muito feliz ao receber a ligação da Joana uma semana depois do ocorrido e uma semana antes do primeiro dia, informando que tinha passado no processo.

– Pode subir, sabe qual o andar? – perguntou a recepcionista, trazendo Daniela de volta para a realidade.

– Sei sim, muito obrigada – respondeu a garota ainda com o sorriso no rosto.

Percebeu que a recepcionista estava avaliando as vestes da garota. Daniela estava de social, mas sabia que aquilo não era uma roupa de marca como o restante dali, sabia que isso poderia ser um problema, porém precisava de tempo para poder se organizar financeiramente para poder comprar roupas melhores.

Entrou no elevador ainda sorridente, uma coisa que aprendeu com sua mãe é que haja o que houver sempre esteja sorrindo. As pessoas gostam de pessoas felizes, deixe seus problemas e preocupações somente dentro de você, e resolva eles o quanto antes.

Sua mãe era uma mulher lutadora, sofreu muito ao longo dos anos, principalmente nos últimos anos. Nem sempre foram pobres desse jeito, por uma boa parte do tempo tinham dinheiro. Daniela sempre estudou em escolas particulares, falava três idiomas, fez intercambio, fez cursinho e passou em uma faculdade renomada publica, onde fez sua faculdade de comercio exterior.

A dificuldade financeira aconteceu oito anos antes, quando o seu pai faleceu por uma parada cardíaca ao descobrir que seu meio irmão roubou tudo o que tinham. Seu pai era dono de uma média empresa, que ainda levava seu sobrenome, Aria.

A vida foi difícil depois disso, sua mãe, que há anos não trabalhava teve que voltar para o mercado de trabalho, e Daniela, tinha que focar ainda mais em sua faculdade. Foram anos de dificuldades, onde foram sempre decaindo no seu estilo de vida, até a descoberta mais recente que sua mãe estava com um Alzheimer, doença que faz com que a pessoa não se lembre de muitas coisas.

A doença ainda estava no inicio, mas Daniela sabia que não podia deixar a mãe sozinha em casa, o risco dela sair e se perder era grande, ainda mais dela fazer algo arriscado. Era como se tivesse voltado a ser criança.

Parecia que aquele sofrimento e vida complicada não teria fim, porém, focou em conseguir um trabalho melhor, estava até então trabalhando na área, porém o salário era muito baixo e a expectativa de carreira muito complicada. Portanto esse novo emprego veio a calhar muito bem.

Desceu do elevador, tendo uma visão de um hall lindo, todo de mármore, madeiras caras e bonitas, tinham duas salas em lados opostos do andar. Uma saindo do elevador e virando a direita, que continha uma parede de vidro, e uma porta enorme, com o nome de Guilherme Gonzalves em uma delas, na outra, uma sala igual a primeira, porém com os dizeres Agatha Morreti na porta. No meio existiam duas mesas de recepção, uma delas estava Joana sorridente de pé. Sorriu também e foi caminhando até a Joana.