Capítulo final

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"Em direção à luz eu caminharei

Então aprenderei a mover o primeiro antes do próximo

Os passos que sigo vão pavimentar a estrada à minha frente

(The Gathering – Your Troubles Are Over)


Então John voltou, voltou rapidamente, ainda risonho. Com o coração leve, sem demora, logo estava em casa. Não havia muito a ser feito ali. Ao ver a cama de seu colega, John apenas pensou que logo não mais estaria ali, pois voltaria ao lugar que lhe pertencia, a duas portas de distância.

Saiu após pegar a chave do carro. Foi para o estacionamento e adentrou o veículo.

A vontade era de dirigir em velocidade máxima, mas a prudência era muito grande e apenas ela inibia essa vontade. Pacientemente, ouvindo o mesmo CD de música chillout do primeiro dia, John percorreu o longo trajeto da estrada solitária. Dentro de duas horas e alguns minutos, lá estava ele, em Atma.

A cidade continuava linda como na primeira vez em que John esteve lá. Mas agora havia uma diferença: ele dirigia. E outra: não sabia o caminho para a casa dos pais de Andrew, que ficava a muitas ruas e curvas de onde estava. Isso não foi problema. Na primeira vez, enquanto cumprimentava o carteiro estranho, John viu e leu a placa que nomeava aquela rua. Assim, encontrar o local seria questão de tempo.

Tempo. Muito tempo. As orientações que John recebia das pessoas que abordava eram confusas e controversas. Umas anulavam outras, outras levavam a lugares pelos quais John já passara, outras conduziam a lugares desertos e nada familiares... Vire na próxima à esquerda, entre à direita depois de passar a padaria, siga até o hospital, volte duas casas... Nada levava a lugar algum, até que uma alma abençoada instruiu o caminho certo e levou ao local que John procurava. Aquela rua cheia de casas coloridas e carteiros amigáveis.

Em velocidade reduzida, John procurou pela casa dos pais de Andrew. Todas as fachadas eram parecidas, mas John se lembrava de que a que procurava era branca e azul claro. Não demorou muito para que achasse, mas havia algo estranho: o carro de Andrew não estava lá.

Uma pontada de preocupação passou pelos pensamentos de John, que saiu do carro devagar e temeroso. Caminhou por entre o caminho de pedras brancas do jardim e tocou a campainha sentindo um misto de sentimentos não muito bons.

O latido de Bob soou dos fundos da casa. Dentro de poucos instantes, a porta se abriu, revelando a imagem miúda de Linda.

— Oi, John.

— Oi, Linda.

John esboçou um sorriso, mas Linda parecia estar sem muito humor. Na verdade, parecia bastante abatida, e, fosse impressão ou não, seus olhos estavam vermelhos e um pouco inchados.

— Entra — disse ela, abrindo passagem.

Com um pedido de licença, John entrou. Algo ali parecia muito, muito estranho. O clima parecia pesado, o silêncio parecia pesado, algo angustiante.

— Foi bom você ter vindo aqui — disse Linda, adiantando-se enquanto coçava os olhos com as duas mãos. Sua voz doce soava de forma quase inaudível.

Caminharam ambos até a cozinha, onde não havia mais ninguém. O latido do cachorro cessara. John, acompanhando Linda, apenas observava, tentando encontrar Andrew em cada e qualquer canto.

— Você aceita um café? Acabei de passar — ofereceu ela, indo em direção à cafeteira sobre a cômoda.

— Eu aceito, sim.

Entre o Amor e o Fogo (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora