Amigo

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Finalmente aquela estranha nevasca começava a se dissipar. Mas ainda assim, o reino de Arendelle estava bastante atordoado. Não bastasse a destruição do castelo, e o congelamento do rei, este e seu filho estavam desaparecidos. Fora Anna, ninguém ali tinha a mínima ideia do que poderia ter causado aquelas desgraças. Muito menos sabiam como encontrar os 2 nobres. Mal estavam dando conta de suportar o frio... E ainda tinha a questão da residência real: como passaria por muitos dias de intensa reforma, a princesa e a rainha estavam desabrigadas, precisando contar com a boa vontade dos cidadãos todas as noites para lhes oferecerem um lugar para repousarem. Elas inclusive, ainda tinham que acalmá-los, fornecer agasalhos; enfim, tomar a rédeas da situação.

Para Gerda, a parte mais difícil seria encontrar o pai e o irmão, afinal a única coisa que sabia era que aqueles meninos que estavam disputando corrida de trenó disseram que viram o garoto prender o dele num maior e mais elegante, que saiu voando e espalhando neve por aí. Assim, presumia que se fosse atrás deles, teria que lidar com algo desconhecido e muito poderoso, se enfiando em uma jornada bem perigosa, e que ainda tinha muitos mistérios. Nem sabia ao certo por onde começar... Pelo pai iria com certeza, mas tinha dúvidas se Kai merecia tal sacrifício. Um dia, Anna chamou-a para conversar sobre isso:

— Filha, sei que você se preocupa com os cidadãos do reino, mas eu já estou cuidando deles. Preciso que alguém de confiança inicie as buscas por Kristoff e seu irmão. Eu não posso ir, pois já não sou mais tão jovem para partir rumo ao desconhecido. Não espero que se afaste de mim ou que algo de mal lhe aconteça, mas você sabe dos perigos que podem surgir nessa missão, e deve também ter consciência de que é a melhor pessoa por aqui para comandar as buscas... É a única em quem posso confiar agora, meu amorzinho; espero que entenda.

A garota falou que já estava procurando por alguma pista e lhe contou o que sabia. Também disse que pela falta de informações precisas até considerava uma possível morte dos mesmos. E acabou desabafando, dizendo que não queria ter todo aquele esforço pelo irmão. Para desconcerto total da rainha, ainda completou seu discurso cobrando explicações sobre o que realmente havia ocorrido. Afinal, precisaria entender isso para poder saber, ao menos, por onde deveria procura-los. E percebia pelo jeito da mãe ao falar sobre o assunto que a rainha tinha alguma informação crucial, só estava escondendo. Também tinha outra questão: por que a própria mãe não seguia os seus prósprios planos ao invés de lhe mandar? Podia ser um oficial de busca, até um ministro... Precisava mesmo que fosse ela?

Para lhe explicar, Anna respirou fundo, tomou calma, e dosou as palavras. Ela falou que "acreditava" que tudo tivesse sido causado pela filha de Elsa, Rainha da Neve, em um momento de descontrole de seus poderes, mas que não tinha certeza. Ocorria que a monarca se sentia culpada pelo modo como tratou a sobrinha, pois deixou-se levar por um medo irracional. No fundo, ela sabia que a moça não foi a maior culpada pelo incidente. Tinha até pena dela, e por isso não queira ninguém lhe caçando, como fizeram com sua irmã uns anos atrás. Contudo, não tinha coragem de assumir para a filha sua culpa.

A princesa achou muito mal-contado aquilo que a mãe lhe dissera. E ainda não estava convencida se valia a pena ir atrás de Kai. A rainha então, resolveu apelar para um argumento que mexeu com a garota:

— Eu entendo perfeitamente esse seu receio quanto ao seu irmão. Mas faça isso por mim e seu pai. Pelo Kai de uns anos atrás. Pelos planos que vocês faziam quando eram mais novos. Pelo o que você esperava que ele virasse. Eu sei que só está tão magoada porque gostava muito dele. Veja isso como uma forma de se reconciliarem. Vocês passaram muito tempo brigados; alguém precisa fazer alguma coisa para acabar com todo esse rancor. Pensa bem, essa pode ser uma chance de fazerem as pazes... Eu te conheço tão bem a ponto de saber que você queria de certa forma, que ele estivesse ao seu lado numa hora difícil como essa. Sei igualmente, que apesar de tudo, você já se esforçou muito para não ficar brava com ele depois que virou príncipe, já que enfim a vida dele havia começado a melhorar, depois de tantos problemas. É também para esse e outros esforços não terem sido em vão que acho que vale a pena ir atrás dele.

Nessa hora, Gerda começou a chorar, pois sabia que tudo que a mãe dizia era verdade. Na hora, foi como se sentisse de súbito, todo o amor que tinha por Kai. Não era algo de apaixonados; ela o amava como se fosse seu irmão de verdade. Naquele momento, pensando em tudo que já passaram, perdeu um pouco do rancor que tinha e substituiu-o por um desejo de que uma luz aparecesse na vida dele. Que ela lhe fizesse voltar ao normal; voltar para perto dela; que fizesse ao menos nada de pior acontecer com ele. Tudo isso rodeava sua mente em uma explosão de sentimentos, enquanto a menina chorava nos braços de Anna. Quando finalmente conseguiu falar, ela disse:

— No fundo, eu sempre quis procura-lo. Não quero deixar que essas nossas boas lembranças se apaguem; se percam no vazio, entende? Só que tenho medo de que Kai não queira a mesma coisa.

— Gerda, até uma pessoa que perde a memória não pode se desfazer da sua história. Por mais que não queiramos ou percebamos, são sempre nossas experiências que vão guiar nossos caminhos. Tu podes até mudar, arrepender-te, mas sempre terás no seu íntimo as coisas que marcaram tua vida. Então, mesmo que ele não queira mais te ver, ou até mesmo tenha te esquecido, tu sempre estarás na vida dele de alguma forma. Basta saber se farias dessa presença algo bom, ou ruim.

—Há, eu adoraria ver a cara de tacho dele quando percebesse o tamanho da minha importância. Taí, acho que vale a pena tentar mostrar isso para ele... – disse brincando.- Pena que demorou tanto para uma chance assim chegar. Mas eu vou fazer questão de falar tudo isso na cara dele quando eu o ver novamente.

— Ai, você é tão orgulhosa quanto seu pai. Porém sei que assim como ele, é só da boca para fora. Vocês 2 fazem tudo por quem amam. Vão até o fim para ajudar quem precise e são muito sensíveis, amorosos e dedicados. Vocês se entregam por causas nobres. Por isso que me enchem tanto de orgulho -disse Anna, relembrando-se de toda a jornada que Kristoff enfrentou por ela na época em que Elsa não sabia controlar seus poderes. Nesse momento sentiu um aperto enorme no peito, pois não sabia se encontraria o marido vivo mais alguma vez.

Em meio à tantas emoções, ambas deram um longo abraço. Quando se afastaram, Gerda disse que iria até um rio que tinha próximo dali, ver se achava pistas para começar a investigação. Então, foi atrás de Sven, para que, montada nele, chegasse lá mais rápido. Contudo, quando entrou no seu estábulo, que foi uma das partes do palácio que não foi atingida, levou um grande susto: ele também havia sumido! Foi correndo perguntar a avó de Kai, que morava na edícula ainda, se ela não estaria com o animal. Mas infelizmente, a pobre senhora não tinha nem ideia de onde o bicho estivesse.

— Sem Sven ...não pode ser! Ele era meu reconforto quando meu irmão me insultava! Aquele bichinho era tão fiel, tão amoroso... O mais inocente e mais amigo desse palácio. O único que me ouvia quando eu estava nervosa, sem me julgar; que nunca brigou comigo. O pior é que ele já tem idade, não aguentaria passar por maus tratos. Agora sim, vou organizar uma grande busca por todos esses desaparecimentos!

Assim, foi primeiramente pedir ajuda aos trols. Estes, infelizmente, não podiam sair de seu acampamento, pois estavam muito ocupados, mas tentaram cooperar, perguntando ao sol e aos céus se podiam ter alguma resposta que ajudasse. Porém, uma força estranha atrapalhava essa conexão, e eles só conseguiram descobrir que , para alívio geral, pai e filho estavam vivos

Frozen - A Rainha da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora