Kai, mesmo com a chegada da irmã, permanecia totalmente quieto, sem nenhuma reação, e completamente coberto de gelo. Gerda não aguentou lhe ver assim, e começou a chorar enquanto ia em sua direção. Suas lágrimas pareciam queimar de tanta tristeza e comoção. Aturdida, ela acabou se abraçando ao irmão, enquanto caia em prantos. O silêncio dominava no palácio, pois todos os outros lhe observavam em silêncio, em respeito à sua dor. Mas o que ninguém percebeu, foi que as lágrimas da menina foram penetrando a blusa de Kai e queimando em seu peito; descongelando assim, os fragmentos de gelo, e destruindo os cacos do espelho que haviam se alojado ali. Aos poucos, conforme os vidrilhos iam se desfazendo, ele foi conseguindo olhar para ela; que não percebeu, e balbuciou em meio a soluços a musiquinha que cantava para ele quando eram crianças:
"As rosas no vale se abrem tão doces,
E os anjos ali descem,
Cumprimentando suas cores"Subitamente, ao conseguir ouvir aquela canção, Kai também se entregou às lágrimas. Ele chorou tanto que o cristal gélido que estava na vista rolou para fora de seus olhos. Era estranho, porque o garoto não sabia porque estava chorando; aquela música simplesmente mexia com suas emoções sem que ele entendesse o porquê. Porém, assim que seus olhos ficaram livres do estorvo, tudo ficou claro: ele percebeu que a menina que estava ao seu lado era sua grande amiga de infância, Gerda! Num misto de felicidade e surpresa, o garoto exclamou:
— Gerda! Minha doce Gerdinha!
Ao ouvi-lo chamando-a desse jeito, a garota foi tomada por uma alegria e um êxtase súbitos. Num pulo, começou a abraça-lo e beija-lo (beijos de irmão) loucamente. E em cada lugar que beijava, o gelo sumia magicamente, dando lugar à pele normal de Kai. Kristoff, vendo que a filha estava salvando a vida de seu outro filho, correu ao encontro deles, lhes abraçando emocionadamente. O amor ali era tanto que a fina camada gélida que ainda cobria a pele do rei sumiu de vez também. Foi uma alegria geral, e todos os outros acabaram se juntando ao abraço, formando um grande montinho.
Passada a emoção inicial, os dois irmãos começaram a prestar atenção a algo bem estranho que acontecia ao redor deles: todo o frígido, enorme e pomposo palácio, com seus blocos de gelo congelantes e assustadores, cheio de estalactites e estalagmites, além dos perigosos fragmentos de espelho, começou a mudar de forma, ficando com suas paredes parecidas com cristal, assumindo um tom mais claro, e dando lugar a formas singelas que pareciam ter sido esculpidas no gelo. Os caquinhos também se juntaram todos, magicamente, e formaram a palavra eternidade; aquela que a Rainha da Neve disse que se Kai formasse com os cristais de gelo, garantiria sua liberdade. Foi realmente mágico e belo; todos ali ficaram encantados. Naquela hora, o ruivo perdeu-se em seus pensamentos. Imaginava se aquilo não seria exatamente o que sua Rainha planejara: Elsa, Kristoff, Gerda, Olaf, Marshmalow; todos sorriam, festejavam e se cumprimentavam. A nevasca ia enfraquecendo cada vez mais, dando lugar a um céu azul magnífico. O garoto ficou deslumbrado, e entendeu perfeitamente porque Neve tinha feito aquilo tudo. Contudo, começou a se sentir mal por ela, que tentou tanto ajudar a eles, mas continuava vivendo isolada e se achando um monstro. E ainda por cima, sabia que muitos realmente deviam lhe ver como uma ameaça real. O príncipe só não se sentia pior, porque começou a ser absorto pela euforia de seus entes presentes, que conversavam sobre tudo que lhes aguardava em Arendelle. E ouvir sobre aquilo realmente dava uma saudade louca nele, que passou tanto tempo sem nem se lembrar de onde tinha vindo. Então, assim que a princesa chamou todos para voltarem com ela e Sven, o ruivo se desligou um pouco de suas teorias, e juntou-se à turma que saia animadamente do castelo. Até Marshmallow e os bonequinhos de neve, foram junto, com uma nuvenzinha que não lhes deixava derreter. Elsa tinha feito-a porque achou que eles seriam ótimos para lhes escoltar até o reino. Além de que, Marshmallow era grande o suficiente para levar várias pessoas com ele, e havia sido isolado termicamente uns anos atrás quando Neve tentava controlar seus poderes. Ao lembrar da jovem, Elsa sentiu um aperto enorme no peito, mas logo recordou-se também que já poderia voltar a ficar junto do marido. Iria matar a saudade dele que foi embora primeiro, e depois viajaria para junto da filha, sem data para voltar...
Todos estavam nesse clima, quando levaram um susto: Sven, que havia ficado o tempo todo aguardando Gerda do lado de fora, em frente às escadarias do palácio, estava acompanhado! Era uma rena fêmea, que ficava trocando carícias com o animal. O bicho nem havia percebido o rebuliço. Só saiu de seu "transe" quando ouviu a voz de seu grande parceiro de aventuras chamar por ele:
— Sven, meu camarada! Que saudade de você! Como veio parar aqui? Estou vendo que se deu bem, hein? Hehe!
O alce na mesma hora, correu desengonçadamente para cima de Kristoff, começando a lambe-lo. E o loiro, de tanta saudade que sentia, nem reclamou, como normalmente fazia. Gerda, rindo da situação, explicou:
— Quando eu saí atrás de vocês, dei por falta de Sven também! Mas, graças à Deus, encontrei ele no meio do caminho!
Kai disse, olhando para a namorada do cervo:
—Bem, acho que agora, teremos uma nova carona! Quer dizer, se alguém por aqui se cansar de andar, é claro!
— Então, prontos para descer as montanhas? – Perguntou Elsa.
Com um sim em conjunto, o grupo fui refazendo o trajeto de Gerda aos poucos. Seguiam devagar aproveitando ao máximo a viagem, que acabou servindo como uma forma de reaproxima-los. Pelo caminho, eles iam parando em pequenos acampamentos próximos aos vilarejos que passavam. No meio, encontraram Hans e Moly naquela casa da Lapônia. O casal fez questão de ajudar com os suprimentos e lhes abrigar por uma noite. Elsa, estranhando aquela boa-vontade repentina perguntou porque estavam fazendo aquilo. Hans disse logo:
— A Gerda nos fez perceber que a bondade dá muito mais poder a uma pessoa que qualquer outra coisa.
— Mas isso não seria agir por interesse? – Indagou a antiga monarca.
— Olha tia, o que importa é que ele está tentando melhorar. Ninguém muda completamente de maneira rápida; mas até onde sei, ele já está bem melhor!- respondeu o príncipe de Arendelle.
Visivelmente, Kai havia voltado a ser o menino bondoso e sonhador, que todos conheciam antes do acidente com os espelhos. Durante as paradas que faziam para dormir, ele era aquele que demorava a pegar no sono pensando em nunca mais se deixar virar o verdadeiro monstro em que havia se transformado. Estava ansioso para chegar em Arendelle, porém, não era para voltar a ser o príncipe, mas para rever sua mãe e sua vó; as flores do castelo; as feirinhas locais; deslizar de trenó no monte; até brincar com Gerda... Ele rezava todos os dias, prometendo que por mais difícil que ficasse sua vida, iria seguir em frente, ao invés de fazer os demais sofrerem por sua causa. Afinal, a vida continuava correndo, e o que deve se levar de um passado ruim são apenas lembranças vagas.
Para reforçar seus pensamentos, depois de alguns dias, encontraram com a amiga ladra de Gerda, que agora, vivia vagando por aí com a carruagem que roubou da outra. A moreena ficou feliz de ver que sua colega havia conseguido cumprir a missão, e quis logo conhecer aqueles de quem a loira foi atrás. Ao fitar Kai, ela falou, sem receios:
— Eu gostaria de saber, sinceramente, se você faria por essa garota o que ela fez por você. Não há maneira de descrever tudo que minha amiga passou para encontrar o senhor. – Completando com um olhar desafiador, ela disse- Se eu estivesse no seu lugar, eu nunca mais a maltrataria. Aliás, é bom que vossa alteza saiba que eu e ela nos tornamos grandes amigas, e com certeza eu irei depois para o reino, revê-los. Se souber que fez qualquer coisa de ruim para essa menina, eu não respondo por mim!
— Haha! Pode deixar!
Depois de mais alguns dias de viajem, finalmente chegaram a Arendelle. Jack Frost havia encontrado eles no meio do caminho, depois de se certificar que o clima estava estranhamente normal de novo... Quando reencontrou Elsa, foram só beijos e abraços. Porém, agora a tensão dominava, pois chegava a hora de verem como o reino havia ficado. Será que Anna queria revê-los? Será a avó de Kai o perdoaria? Será que o reino resistiu àquele inverno mágico? Será que a rainha tinha dado conta de governar o reino naquela situação? O menino ruivo também se perguntava: "Será que o povo está odiando a Rainha da Neve?" Ele sabia que algo ali, de qualquer forma estava bem errado: a Rainha que havia feito tudo para dar aquele final feliz a eles, estava isolada nos vulcões. E eles que só lhe deram trabalho, estavam tendo até então, uns dos melhores dias de suas vidas...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Frozen - A Rainha da Neve
FanfictionNessa história, fragmentos de um espelho mágico, criado há muitos anos, seriam a origem dos poderes de Elsa. Eles, parecendo bastante com a neve, teriam capacidade de congelar a cabeça e o coração de quem atingissem. Depois de aprender a controlar...