Reparos

63 21 0
                                    


Gerda sentiu uma ansiedade louca tomar conta de si. Era uma mistura estranha de animação, surpresa e medo. Não era para menos, afinal, ela finalmente encontrou alguma pista que poderia leva-la a seus parentes! Atordoada pelos sentimentos em conflito que floresciam, chegou a se virar para os passarinhos, perguntando-lhes onde estaria a Rainha da Neve, e se sabiam algo sobre o que houve quando ela passou por ali. Eles, parecendo compadecidos, voaram até uma janela em que se via uma longínqua montanha congelada. A seguir, foram na direção de uma rena que estava no estábulo. Ao se aproximar dela, Gerda não acreditava: era Sven! Na mesma hora em que lhe viu, a menina deu um abraço enorme nele. Depois, quis saber tudo, conversando com o bicho, assim como seu pai fazia:

— Sven, meu grande amigo, ainda bem que te encontrei! Você está bem, rapaz? Como que veio parar aqui? – E respondendo por ele, completou:

— Ora Gerda, é claro que foi com a tempestade maluca da Rainha da Neve! Mas isso não é assunto para agora, o que importa é que nos encontramos! Ai, como eu estava com saudade dos seus mimos! – Dizia a "rena" entre várias lambidas e o caloroso abraço emocionado de sua antiga dona (sendo filha de Kristoff, ela também era considerada dona de Sven).

Eles continuaram "conversando" por um bom tempo. Precisavam matar a saudade. Entre uma coisa e outra, a garota foi se certificando de que, se queria encontrar Kai, deveria seguir sempre na direção das gélidas montanhas da Finlândia, que ficavam na direção que os passarinhos apontaram. Quando descobriu isso, teve certeza de que deveria continuar sua jornada, pois constatou que se ele realmente estivesse em um lugar tão frio, não estaria passando nada bem... E perguntaria mais, se sua amiga ladra não tivesse pedido silêncio, pois já era tarde e todos estavam dormindo.

Na manhã seguinte, a loira explicou com calma para a outra garota tudo o que havia descoberto. A jovem bandida ficou séria por um momento, e depois que acabou de ouvir, pensou bastante e teve uma ideia. Foi até um canto do estábulo com Sven só para verificar se o que tinha em mente valia a pena. Lá, notando que os olhos do veado imploravam para que ela lhe deixasse ir embora com a outra, tomou a seguinte decisão:

— Eu realmente gostaria de continuar com você aqui. É um dos meus animais mais abobalhados, é bem divertido te assustar! Contudo, eu vou te livrar desse tipo de coisa, para que ajude Gerda a adentrar pelos caminhos montanhosos da Lapônia. Lá, certamente encontrará a tal Rainha da Neve.

Na mesma hora, foi possível ver a alegria nos olhos de Sven. Em seguida, a princesa soube o que a menina ladra estava fazendo por ela e ficou muito agradecida. Como não tinha tempo a perder, rapidamente se arrumou com seu cervo e saiu rumo à montanha onde estava o castelo de gelo.

— Mal posso esperar para nos reencontrarmos! –Gritava a bandidinha para eles, enquanto partiam.

— Até breve! –Respondeu Gerda. Em seguida puxou a as rédeas de sua rena e lá se foram, vagarosamente rumo à Lapônia.

Assim, os dias foram passando, e cada vez mais próximos ficavam de seu provável destino. Sim, pois de qualquer forma, não havia certeza absoluta sobre aquele ser realmente o lugar onde Kai estaria... Mas como Gerda era muito valente, e não desistia fácil, resolveu arriscar. Se não encontrasse seu pai e seu irmão ali, sabia que seria, então, praticamente impossível encontra-los em qualquer outro lugar, visto a dificuldade que já foi para descobrir que podiam estar por lá. Enquanto se aproximavam, Sven ia lembrando saudoso de quando viveu uma aventura parecida com Kristoff, em que deviam encontrar Elsa para ajudar Anna...

E assim foram, até que pararam em uma casa bem pobre, que parecia abandonada. Dentro dela, encontraram ninguém mais, ninguém menos que Moly. Ela estava ali, de passagem também, viajando rumo ao norte. Recebera uma carta do marido, informando que ele se encontrava na Finlândia, muito enfermo por causa do frio, e não conseguia voltar para casa sozinho.

Depois de explicar isso tudo para a menina que reencontrou, e meio que também se desculpar por tentar mantê-la em sua casa, Moly pediu para ela lhe dar carona, prometendo que Hans daria a localização exata do castelo da Rainha da Neve. Gerda acabou concordando, afinal, diferentemente de Sven, Hans parecia ter passado por lá há pouco tempo; se recordaria bem do caminho, e assim poderia lhes ajudar mais. Dessa forma, após descansar, e renovar os mantimentos que trazia em uma mala na garoupa do veado, com comida e roupa que encontrara numa lojinha perto da casa; as duas seguiram viajem montadas no cervo.

Passou-se mais algum tempo até encontrarem Hans. Elas se guiavam por um mapa que veio junto da carta, mas o caminho era bem longo. Para alívio da esposa, quando finalmente o acharam, ele já estava sadio. É que dentro da casinha onde estava, a temperatura era bem mais alta que do lado de fora; assim, pôde se recuperar da hipotermia. Tudo graças a Jack Frost, que com muito esforço, conseguiu criar uma barreira térmica que isolava a residência do clima frio do lado de fora. Ele havia alojado o ruivo ali, porque sabia que aquela casa havia sido abandonada há pouco tempo, estando então vazia, mas em bom estado. Infelizmente, Jack não estava mais por lá, pois tentava controlar o clima sem parar, durante dia e noite.

O antigo príncipe das Ilhas do Sul, ao reencontrar sua mulher, ficou bastante feliz, trocando longos abraços e carícias com ela. Porém, não conseguia ficar à vontade com Gerda e Sven lhes observando. Então, com sua delicadeza peculiar perguntou:

— E aí, não vai me dizer o que é que vocês estão fazendo aqui, ao invés de ficar só olhando, mocinha?

Tentando não se irritar com os modos de Hans, a princesa de Arendelle contou sobre a sua jornada para ele, pedindo toda a ajuda possível para conseguir chegar no palácio gelado.

— Olha, acho que perdeu seu tempo, infelizmente não posso te ajudar. – Disse secamente o homem.

A jovem, então, começou a chorar. Não podia acreditar que tinha ido até ali para nada. O ruivo, arrependeu-se instantaneamente da sua grosseria ao notar o estado da menina. Afinal, ela não tinha culpa por ele estar de mal-humor, e sem querer ouvir falar sobre o palácio de gelo. Na verdade, ela estava sofrendo por causa da mesma coisa, e ainda assim lhe ajudou, trazendo Moly até ali.

Embora tivesse melhorado bastante, Hans ainda tinha umas recaídas quanto ao seu caráter, mas logo voltava "ao normal". Ao voltar, não só fez um mapa com o caminho para se chegar lá, como contou tudo o que sabia a respeito do que estava acontecendo com Kai e Kristoff. Moly também se ofereceu para fazer uma poção que deixasse-a mais forte, porém o marido lhe interrompeu:

— Não há como dar mais poder a ela do que já tem. Não percebe como acaba "forçando" as pessoas e os animais a lhe servirem; como apesar de tudo, ela continua bem; forte e sadia? O poder dela não é visível porque está em seu coração.É a bondade e inocência. Se nem ela conseguir chegar ao palácio de Elsa, nós é que não vamos conseguir ajuda-la.

— Nossa, querido, nunca te vi falar assim!

— Haha, pois é, acho que no final das contas, nos fez bem conhecermos a princesa de Arendelle. Você também parece que está mais doce. Funcionou como... um reparo...

Como não tinha mais tempo a perder, Gerda se despediu logo deles e tratou de seguir com Sven rumo à residência de sua tia. Contudo, não contavam com o que aconteceu chegando lá...

Frozen - A Rainha da NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora