Richard:
Muitas vezes eu quis me espelhar em alguém, mas não era bem assim. Um pai que te nega a vida toda, desde que te colocou ao mundo. E depois de alguns anos, um padrasto que simplesmente se foi, morto, suicídio. Isso não é uma história com contos de fadas, afinal essas porcarias de finais felizes nunca foram o meu perfil.
Odeio simplesmente cada "eu te amo" dito por pessoas que só falam, mas nada fazem, realmente. E quer saber? Amor, amor; isso não existe. Se existisse, o mundo não estaria um caos. O namoro começa, e os tais "eu te amo" começam, alguns meses se passam, talvez anos, e depois o cara mata a garota, simplesmente porque ela não quis fazer sexo com ele, ou de repente, até ao contrário. Hoje o mundo está lá e cá. Você pode negar essa realidade, mas é um fato.
Um outro exemplo de desamor, neste instante em que digito essas palavras, no Macapá um policial confunde um jovem de vinte e um anos com bandido, e atira, o garoto morre, e a mãe do rapaz? Desmaia em cima do corpo, com a infeliz notícia de quando acordar, que não foi um pesadelo, que tudo foi realidade.
Vidas que acabam a cada segundo, e o amor onde fica nisso tudo? É a pergunta que me faço regularmente, todos os dias. Vamos seguir. Já em Chicago, milhares de pessoas se manifestam contra as armas, esse é o mundo contemporâneo. Verdadeiro desapreço pela vida, e apreço pela dor alheia.
Amor não existe neste século, ponto.
Mas enfim... não estamos aqui para falar da vida alheia. Aqui estou eu. Faço faculdade de administração em uma pequena cidade do interior de São Paulo, cujo nome é Registro. Mas é dureza, moro na cidade ao lado, preciso pegar dois ônibus até chegar ao devido local. Gosto do curso, gosto das cidades, mas odeio o tempo que perco tendo que ir de ônibus.
Mais um dia, com aulas que aprecio. A disciplina da teoria da administração se faz presente no conteúdo aplicado pelo professor. Em tese, prefiro as aulas práticas, mas abro uma exceção pra essa matéria.
— Muito bem, classe. Alguém saberia me explicar o fundamento desse conteúdo? Onde deveria ser aplicada essa teoria? Em quais empresas funcionam: as pequenas, médias, talvez as grandes?
Um mosquito se ouvia passar na sala de aula. Eu até sabia as respostas, mas por sentar ao fundo da classe, prefiro mais uma vez guardar os conhecimentos só para mim.
Logo a aula acaba e me encontro com Rafael, que já estava me esperando do lado de fora, pra irmos para a cantina comer alguma coisa.
— E aí cara, como vai? — diz ele se aproximando.
— Ah! Bem cara, como foram as férias?
— Sabe como é: um terror. Nenhuma garota. E a Carol não saía da minha cabeça, acho que vou enlouquecer! — percebi as emoções dele, mas isso não quer dizer que acredito na porcaria do amor.
— Dá um tempo, Rafa. Você sabe que eu acho papo furado.
— Ah, qual é, cara. Talvez o que falta pra você seja acreditar mais no amor, quem sabe mude de idéia — suas palavras quase me tiraram o café-da-tarde do estômago.
— Ou talvez, falte coragem pra você chegar logo naquela garota, e se ferrar pra aprender que "amor não existe" — ele me olhou com pena, odeio que me olhem assim; seja quando eu conto sobre minha vida, o passado, ou quando penso diferente da maioria.
— Amor existe sim! — uma voz feminina ecoou no recinto. De imediato abraçamos a bela garota presente. Amanda. Uma das minhas amigas mais fiéis, ou talvez fosse a mais — Saudade de vocês rapazes, como foram as férias?
— O mesmo de sempre — digo.
— Pois é! — completa meu amigo.
— Ah! Qual é caras, a mesma vida? Os mesmos costumes e rotinas idiotas? — inquiriu incrédula.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Elo
RomanceSINOPSE: Tom: "Eu me lembro que doía, não como um corte profundo ou uma doença que te mata devagar, mas sim a dor da consciência voltando aos poucos e, junto a ela, a certeza de que nada mais seria igual. Um acidente muda tudo, e desse tudo, sobr...