Letícia:
Esse dia demorou a chegar, a minha volta ao Brasil não foi programada. Recebi uma ligação nesta manhã, de que meus pais anteciparam nosso retorno. Se estou feliz? Ah! De volta a minha vida, numa pequena cidade de São Paulo. Creio que me fará bem, afinal conheço alguns amigos de muitos anos lá. Desde que nasci.
— Está pronta?
— Estou, pai!
— Muito bem, sua mãe está te esperando para o jantar. Desça depois que terminar esse...
— Livro? — sorrio.
— Isso, esse negócio aí mesmo.
Sorriu e logo se foi. Meu pai! Um homem culto, que ama escrever. Pena que livros não é o seu forte. Prefere seu blog.
Meu celular toca, é a Hannah. Uma amiga que fiz no curso de publicidade. Fomos inseparáveis até o término da faculdade.
— É... oi!
— Oi, Hannah!
— Então é amanhã, não é?
— Pois é.
— Deve estar feliz, certo? Vai voltar pros seus amigos de verdade.
— Ei... não é bem assim, Hannah — digo, mas sei que o ciúmes dela é forçado.
— Vou sentir saudades, e me ligue quando chegar.
— Está bem, vou te ligar todos os dias. Ou pelo menos nos dias que der!
— Ok, boa noite!
— Boa noite, Hannah!
A ligação se foi. Brasil, aí vou eu.
Durante o jantar pronunciamos poucas palavras. Mamãe nunca foi de falar muito mesmo, mas meu pai estava mais calado do que o normal.
— Você está bem, pai?
— Oh, sim querida. Só... só pensei que fôssemos ficar mais tempo aqui. Sabe como é, meu emprego é bom, e lá irei ganhar a metade do salário que ganho por aqui.
— Amor, já falamos sobre isso — minha mãe enfim pronuncia alguma coisa.
— Tudo bem. Vocês sabem que não me importo com dinheiro — entro no diálogo.
— Eu sei meu amor, mas...
— Pai... para. A gente vai ser muito mais feliz lá. Você sabe disso.
Depois da conversa saio da mesa e vou de encontro ao meu quarto. Abro-o, pego meu laptop e vou até a cama e me sento na beirada. Digito alguma coisa no meu livro. Mas apago tudo logo após. Ser feliz, será que eu sei bem o que é isso? Talvez. Tenho um pai legal. Uma vida bacana, ou quase pelo menos.
Escuto batidas na porta, minha mãe entra.
— Filha!
— Mãe, o que há com papai?
— Você sabe como ele é, querida! — diz minha mãe sorrindo e beijando minha cabeça.
— É... eu sei. Mas ainda assim, vovô precisa da gente perto dele, vai ser muito bom dar umas boas risadas com ele — notei um semblante alegre nela, algo que desde que chegamos aqui, eu não tinha visto mais. Lá ela estaria perto do meu avô, e isso seria bom. Para todos nós.
Minha mãe se despede de mim, e vai para o quarto, fico pensando na grande responsabilidade que será por lá.
Fiz meus dois anos de faculdade aqui, agora terei que arrumar um emprego. Mas provavelmente irei começar um novo curso.
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Elo
RomanceSINOPSE: Tom: "Eu me lembro que doía, não como um corte profundo ou uma doença que te mata devagar, mas sim a dor da consciência voltando aos poucos e, junto a ela, a certeza de que nada mais seria igual. Um acidente muda tudo, e desse tudo, sobr...