Capítulo VII

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Letícia:

Chegamos ao Brasil, mas ainda levaria algumas boas horas até chegarmos na pequena cidade de Cajati, no interior de São Paulo. Assim que o avião pousou, notei sentimentos diversificados entre minha mãe, papai e eu. Ele estava pensativo, seu salário cairia pela metade, no mínimo, e meu pai teima que precisa ganhar um bom dinheiro, para se manter bem, e para manter a família em ordem. Já a minha mãe, estava feliz, meu avô estava só, depois que minha avó faleceu com seus 67 anos completos. Já a mim, estava indistinguível. Faltava-me palavras para explicar. Saudade, amor, culpa —talvez — , mas isso não importa, eu estou aqui agora, não estou? Dessa vez quero fazer o certo.

O ar era totalmente diferente, as pessoas, as conversas, a língua falada, tudo. Eu já estava acostumada com o inglês, e ver conversas em português estava sendo estranho.

— Eu gosto! — disse minha mãe, como que se estivesse lendo os meus pensamentos.

— Será difícil a readaptação.

— Nós vamos conseguir.

Meu pai estava buscando as malas, enquanto eu conversava com a mamãe.

— Eu não sei o que cursar, ou se vou focar em publicidade mesmo. — digo à ela.

— Não precisa pensar nisso agora, você terá muito tempo ainda. Por enquanto, só reencontre seus amigos!

Amigos... como será que estão? Desde o primário eu estudava com eles, mas por causa da logística, eu me afastei nos primeiros meses, estando já na Nova Zelândia. Amanda, Rafael, Tom e… Richard. Como será que estão todos? Nós éramos um quinteto de amigos inseparáveis. Até que eu e Richard assumimos um relacionamento, e depois de um tempo eu tive que ir embora por... por problemas pessoais. Ele não ligou, ou pareceu não ligar pelo menos, mas conhecendo-o como eu conheço, tenho certeza que transformou isso em algo ruim, e certamente se afastou das pessoas, e por conseguinte das garotas, o que de certa forma pra mim é bom. Não escondo que ele foi o meu primeiro amor, e que ele é o rapaz com que me apaixonei perdidamente. Mas eu tive que ir, era isso ou deixá-lo para sempre.

Logo fomos embora, de táxi, a viagem ainda seria muito longa, em torno de 4h, 5h de viagem. Eu dormi boa parte do trajeto, e em outros, estava ouvindo músicas. Minha mãe e eu estávamos no banco de trás, enquanto meu pai ia na frente, de vez em quando eu notava ele olhando para nós. Por mais que ele tenha se tornado materialista, eu sabia o por quê. Ele não fazia isso para si próprio, mas sim por mim e pela mamãe. O meu pai era um herói. O Super Father.

...

Raquel:

Me sentia estranha, a vida estava sem graça nessas semanas que estava passando no Rio, por mais que eu tenha saído de Cajati para me afastar dos meus problemas, os pensamentos estavam todos lá. O garoto do sorriso fácil, olhar penetrante, habilidade com esportes e inteligente, estava em cada passo, em cada respiração minha, nada do que eu fazia estava mudando isso.

— Você está bem, filha? — questiona minha mãe durante o café-da-manhã.

— Estou apenas pensando, mãe! — abaixei minha cabeça e respirei fundo.

— Esquece isso tudo, você não precisa mais voltar pra lá. Pode transferir sua faculdade, e morar por aqui comigo e seu pai.

— Eu acho que isso é o melhor a fazer mesmo!

— Se lembra do primeiro garoto que você disse que gostava? — pensei um pouco e respondi.

— O Eduardo?!

— Esse mesmo.

— O que tem ele?

— Ele está morando aqui ainda.

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