Capítulo IV

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Amanda:

A volta às aulas foram tristes. Ver o Tom naquela situação me causou o pior dos sentimentos. Ele ficou paraplégico fisicamente, e eu emocionalmente.

Eu o amo, está bem? E ele nunca vai querer saber disso. Não ligo se ele não pode andar, se ele mal pode se mexer. Só que ele escolheu outra, e disse que eu nunca o teria, por me considerar apenas uma amiga. E que sempre me consideraria assim.

Chego em casa depois desse dia horrível e vou de encontro a geladeira, estou faminta.

Vou até o quarto dos meus pais, para compartilhar com eles como foi horrível a sensação de vê-lo neutro. Em cima de uma cama. O cara que era ótimo em esportes, que jogava futebol como ninguém, e que conquistava as mais belas garotas, mas que nunca teve olhos pra mim, talvez a única que realmente o amava de verdade. A Raquel — namorada dele —, depois que soube do acidente foi viajar. Idiota. Ambos. Tanto ele quanto ela. A egoísta e o trouxa.

— Oi, pai.. mãe! — entrei já com as palavras entaladas na garganta, com os olhos lacrimejando.

— Oi, filha! — meu pai foi o primeiro a se pronunciar — como ele está?

Lhes apresento meus pais: Alex Gutierres e Carine Gutierres. Todo mundo tem pais, mas sinceramente, os meus são os melhores. Posso não ter a vida perfeita materialmente — as condições financeiras não são das melhores, mas estão longe das piores também —, no entanto, meus pais suprem tudo isso.

— Ele está mal, pai! — desabo em lágrimas — ficou paraplégico mesmo. Condenado a ficar em cima de uma cadeira-de-rodas pro resto da vida!

— Oh, filha. Deita aqui com a gente — diz minha mãe gentilmente. Não sei o que seria de mim sem meus pais. Não que eu seja mimada, mas porque eu os amo mais que tudo, e eles, também me amam mais que tudo.

— Não sei o que fazer! — digo aos dois. Percebi que eles se entreolharam.

— An... calma, filha. Vai dar tudo certo. Ele vai superar isso! — diz minha mãe tentando me ajudar, a verdade, é que era difícil de acreditar. Tom, o moleque idiota que conheci na quarta série, e me marcou pra vida toda.

— Eu vou pro meu quarto. Obrigado, vocês são os melhores.

— Boa noite filha — dizem quase que ao mesmo tempo.

Vou para o meu quarto, procurar alguma coisa para me distrair, mas desisto. Ligo a televisão, assisto alguma coisa e nada. Tom na minha mente, e isso não muda, as tentativas para esquecê-lo estavam sendo falhas.

Depois de não conseguir nada com o aparelho televisivo, decido utilizar o celular, apenas duas conversas abertas, e alguns grupos movimentando idéias. Não.

Jogo algum jogo chato no celular e paro logo após. Novamente decidi comer alguma coisa. Pego pão no armário e queijo, presunto, tomate e alface na geladeira. Ligo o microondas e coloco o sanduíche dentro. Um minuto e meio depois está pronto. Faço um suco de goiaba batido no liquidificador para acompanhar. Cessada a minha fome.

Resolvi andar pelas ruas depois disso, vou até meu armário e pego uma blusa, uma calça escura, e um tênis azul. Vou até a garagem para pegar minha moto. Esqueço o capacete, então volto dentro de casa para pegar. Mas meu pai está me esperando na porta:

— Aonde você pensa que vai? — questiona.

— Sair, dar uma volta — lhe respondo.

— A essa hora? — cruza os braços.

— Ok, tudo bem, eu não vou sair. As chaves estão na ignição — aviso ele.

Rapidamente meu pai busca as chaves e volta para dentro de casa. Me sento em uma das cadeiras da cozinha a sua espera. Logo ele chegou.

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