Capítulo VIII

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Richard:

Há determinados dias em que você acorda com alguns pressentimentos. Basta abrir os olhos e pronto. Pior ainda se quando você levantar da cama, colocar o pé esquerdo antes que o direito no chão. Cara, é pedir pra ter azar durante o dia. E foi num dia assim, com essas cenas descritas acontecidas que o pior de mim voltaria à tona. Eu gostaria de ter ficado em casa do que ter ido ao mercado do centro da cidadezinha de Cajati naquele dia.

Voltando um pouco atrás, quando me levantei fui escovar os dentes e, quando abri a porta do banheiro, a pia estava vazando água. Teria que chamar um encanador. Liguei para minha mãe.

- Pois é, mãe, quando acordei a pia já tava assim. Não! Não sei se foi o Henrique. Como eu vou saber, mãe? Tava entupida, só isso. Ok, vou ligar.

E assim disquei o número do encanador, e fiz o que tinha que ser feito. Logo Henrique chegou em casa.

- Mas que mer...

- Sim, que merda mesmo. - completei - Já chamei o encanador, vou sair comprar alguma coisa pra gente tomar café.

- Eu já comprei.

- Comprou suco natural?

- Não.

- Então eu vou mesmo assim.

- Vai na panificadora da esquina?

- Vou lá no mercado central. Quero ver se vejo a Lorena ainda! - digo.

- Você anda estranho. Nem parece o mesmo irmão de um mês atrás. O que houve? Te abduziram? Implantaram um coração aí dentro? - questionou-me meu irmão.

- Deixa de onda, Rique. Não é nada sério, mas eu preciso manter as aparências pra ela. Vou indo nessa, bonitão. Se cuida!

E assim fui, pensando em qualquer coisa, pensando na Lorena também.
A vida é uma piada mesmo, daquelas que você ri pra vida toda, e ainda no túmulo, continua rindo.

Segui em direção ao mercado com meu carro. Andando pelas ruas notava que as lojas começavam a abrir. Teria que ir rápido, afinal tinha que ir para o serviço às 09h. A pequena cidade não conta com semáforos, aqui é tudo meio desorganizado nesse sentido, porém os motoristas respeitam os pedestres, na maioria das vezes pelo menos.

Eu parei antes da faixa branca, num determinado ponto do trajeto para uma senhorinha passar, ela ergueu a mão e disse alguma coisa, que eu fiz esforço mas não consegui compreender. Então segui. Andei mais algumas quadras e entrei no estacionando em frente ao mercado, saí do carro, liguei o alarme, e andei com os meus chinelos me incomodando rumo a entrada. Lá peguei uma pequena cesta-de-compra, e fui em direção as prateleiras. Peguei alguns pacotes de bolachas, e as minhas preferidas, aqui chamamos de pão de mel. Uma maravilha em vida. Amor não existe, mas abro uma exceção pra esse(a) biscoito/bolacha. Continuei procurando alguma coisa, algo diferente para o café-da-manhã, no entanto não encontrei nada em especial, então rumei a ala de sucos naturais, pedi 2litros de suco de goiaba e 1litro de suco de manga, porque era o preferido do meu irmão. Já eu e minha mãe preferimos goiaba.

Logo o rapaz me entregou o pedido e fui andando em direção ao caixa. Foi então que a cesta-de-compra quase caiu da minha mão, no caixa, estava a garota de dois anos atrás, que eu fazia o favor de esquecer todos os dias. Letícia. Confesso que pela primeira vez na vida senti algo estranho no meu peito, algo que eu naquele momento quis saber, nem que eu precisasse ter de arrancar meu coração para fora para descobrir. Ela estava sorridente.

Mas e se não for ela? Ora, não seja ingênuo, garoto, é claro que era ela!

Voltei alguns passos para trás, e me virei de costas. Voltei de onde eu tinha vindo, e fingi estar procurando mais alguma coisa. Logo notei passos em minha direção, e pelo jeito era uma garota. Era ela.

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⏰ Última atualização: Mar 19, 2019 ⏰

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