d e z o i t o

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Vai dar tudo certo.


Vai dar tudo certo.

Vai dar tudo certo.

E, mesmo que não dê, é a coisa certa a se fazer.

Repeti isso baixinho pra mim desde que saí de casa hoje cedo, o sentimento de angústia apertando mais forte quando pus os pés no Dummont. Agora, eu sentia que não conseguia respirar, falar e nem me mover.

Eu estava na porta do quarto dele, respirando com dificuldade, as mãos trêmulas e algumas lágrimas caindo livres e sem permissão por meu rosto. Eu já tinha erguido minha mão pelo menos cinco vezes na esperança de conseguir bater na porta, mas eu sempre desistia antes de realmente fazer.

Eu queria mesmo era que ele sentisse que eu estava aqui e abrisse a porta. Tudo o que tínhamos mal havia começado e eu já estava estragando, isso doía pra caramba.

Engoli o choro, enxuguei as lágrimas e contei até três. Então, pela última vez, eu ergui a mão e encostei na porta, levantando-a novamente na esperança de bater. Entretanto, antes que eu pudesse finalmente fazer isso, duas mãos agarraram meu pulso.

— Pelo amor de Deus, Ariel! Você perdeu a cabeça? — Violette berrou comigo, aos sussurros, pressionando a mão de Lucy sobre meu braço.

— Você não pode fazer isso! Não aqui. Enlouqueceu? — Lucy chamou minha atenção, abaixando minha mão devagar.

Quando me largou, ela fez sinal pra eu ficar quieta e as duas me arrastaram pra longe do meu perdão. Elas me levaram pro vestiário e me fizeram sentar no chão, minhas costas encostadas nos armários.

— Eu preciso fazer isso. Vocês não podem me impedir. — Eu falei quando elas se juntaram a mim no chão.

— Ah, nós não vamos impedir. Mas você já imaginou a confusão que vai dar se você fizer isso aqui? É onde você trabalha, Ariel. Como você vai pagar a faculdade se não tiver um emprego? — Indagou Violette.

Ela estava certa, não estava? Contar aqui seria um desastre. E se ele me levasse até o gerente e contasse tudo pra ele? Bem ou mal, eu invadi a privacidade de uma hóspede. Eu seria despedida, o que significa "adeus, faculdade".

— Você vai contar pra ele, Ari. Mas não aqui. Espera seu turno acabar, e eu juro que a gente te ajuda com isso. — Lucy passou as mãos pelo meu cabelo, me confortando.

— Promete? — Perguntei, vendo suas cabeças assentirem nervosamente. — Então, tá.

Elas sorriram e me levantaram. Depois, fomos uma pra cada lado e eu sorri quando olhei pra trás.

Eu tenho muita sorte de ter vocês.

⚪⚪⚪

— Eu não vou. Não posso ir, e nem quero. Além disso, minha mãe está irritada comigo exatamente por essa confusão toda e não vai me deixar sair de jeito nenhum. — Falei com minhas amigas, escutando as máquinas lavando as toalhas do hotel.

Shawn havia me convidado pra uma festa. Uma festa! Que tipo de pessoa me convida pra uma festa? Ele iria voltar logo pra casa — não sei qual delas —, e disse que precisávamos conversar antes disso. Então ele me mandou um bilhete, quase uma carta, usando os melhores argumentos pra me convencer de ir. Shawn foi altamente persuasivo ao me deixar com a consciência pesada de não agarrar a minha — talvez última — oportunidade de lhe contar toda a verdade.

Perfectly Wrong | sprmOnde histórias criam vida. Descubra agora