d e z e s s e i s

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O quarto parecia imenso agora que eu estava sozinha deitada no chão frio, chorando.

Eu falei com Catarina para que ela contasse toda a verdade pra mamãe, e agora ela estava furiosa comigo. Com direito à castigo, o que raramente fazia. Ela também me proibiu de ter qualquer contato com outras pessoas que não fossem Deus e meu anjo da guarda, já que também não queria falar comigo.

Ela recolheu meu celular e até meus livros. Qualquer fonte de entretenimento está no fundo do armário de mamãe, para eu poder sentir as consequências dos meus atos. Palavras dela, não minhas.

Eu achei o cúmulo quando ela realmente deu um jeito de tirar a televisão do meu quarto, e a partir daí eu entendi que ela era capaz de qualquer coisa.

Eu estou destruída.

E eu gostaria que fosse porque contei toda a verdade pro Shawn, e agora ele me odeia e me despreza. Mas, não. É porque sou uma covarde que fez exatamente o contrário disso, e ainda foi convidada para seu show de noite. Eu precisei negar com uma desculpa esfarrapada, mas faria de tudo pra tirar o olhar triste que Shawn me deu. Eu me senti mais idiota ainda por fazer isso com ele.

Eu me sentia péssima agora e, se uma caçamba de lixo parasse aqui em frente para recolher o lixo, eles com certeza me levariam. E então, me descartariam minutos depois de perceber a má qualidade que eu tenho.

— Ariel, levanta. — Amélia disse entrando no quarto, séria. Ela também já sabia que a irmã era uma idiota e que havia feito algo ruim, e estava chateada.

— Me deixa. – pedi, me sentando no chão e passando a mão no rosto para limpar qualquer resquício de lágrimas.

— Você precisa ver isso, rápido. — Diz, estendendo o celular que ela deu um jeito de pegar de mamãe sem que ela percebesse. Eu a repreenderia por isto, mas acho que não posso. E não quero.

Haviam várias mensagens não lidas e ligações perdidas de Violette, Lucy e Shawn. Eu primeiro abri as mensagens de Lucy e depois as de Violette, ignorando suas perguntas sobre a noite anterior. Tinham mensagens de Shawn desde hoje de manhã, antes dele vir aqui. Era noite agora, seu show começaria em uma hora.

S: Eu não sei o que houve, mas saiba que ficará tudo bem, sweetheart.

Ele mandou essa minutos depois de sair daqui. Sorri brevemente ao ler.

S: Talvez aqui não seja o lugar certo para dizer algo tão importante. Mas... eu quero que saiba que eu te amo, senhorita Deville.

S: E espero poder vê-la o mais rápido possível, para dizer isso pessoalmente.

S: Vou sentir sua falta hoje no show. Até mais.

Essas chegaram mais ou menos trinta minutos atrás. Observei Amélia, olhando tranquilamente os próprios pés enquanto eu me matava internamente. Nessa análise, ela levantou os olhos cor de mel para mim e sorriu gentilmente. Eu respondi Shawn e devolvi o celular, falando pra ela levar de volta antes que mamãe também a deixasse de castigo.

Assim que ela saiu do quarto, eu me xinguei milhares de vezes, me sentindo pior ainda. Ele não merecia nada disso. Não merecia sofrer, mas também não merecia ser enganado.

Estava quase chorando de novo quando Amélia voltou, três minutos depois, um pouco ofegante.

— Sei que você fez coisa errada, Ari, mas eu confio em você. Sei que vai fazer a coisa certa agora, e sabe por que? Porque você nunca continuaria fazendo algo que poderia machucar alguém que você gosta. Você é boa, Ariel. E quando eu crescer, quero ser boa como você. — Ela disse, então beijou meu rosto demoradamente e me abraçou de um jeito encorajador, que aqueceu o coração e me fez querer ser melhor que isso.

— Como pode você ser tão inteligente, hein?! — Perguntei, baixinho. — Quer dormir aqui hoje? Acho que preciso de um pouco de proteção. — Ela assentiu, me ajudando a levantar.

— Quero! Vou escolher um filme bem legal pra gente assistir. — Disse, arrastando o "bem". Então ela olhou para a parede vazia e se deu conta que não daria pra assistir nada agora, nem pelas próximas semanas. — Ou você pode contar uma história bem legal pra gente dormir feliz!

— Acho que ela não consegue tirar minha voz, não é? — Perguntei, apertando a bochecha de Amélia antes de pegar minha toalha e ir até a porta do banheiro.

— Mamãe não é a bruxa, Ariel! — Ela reclamou e manteve a pose séria, mas só por alguns segundos. Depois, ela sorriu com a ideia. — Imagina ela com olheiras roxas, e aquele cabelão branco... — Gargalhou baixinho, ficando com os olhinhos pequenos e se tornando ainda mais fofa.

— Deixa só ela te ouvir... — Falei antes de entrar no banheiro.

Tomei um banho e, quando voltei, minha irmãzinha já vestia com seu pijama de gatinho e tinha sua pelúcia na mão, uma cenoura. Seu nome era Laranjinha, ou Sr. Batata, não tinha certeza.

Eu deitei ao seu lado, percebendo que ela já estava quase dormindo. Com o movimento da cama, ela abriu os olhos e disse que não precisava de história hoje.

— Você pode só me abraçar. Eu não quero que você se sinta sozinha hoje. — Falou baixinho antes de se acomodar em meus braços e fechar os olhos.

Pela última vez no dia, olhei em seus olhos. Eu sabia quem eles lembravam.

Eu não queria ser igual a ele.

E não iria ser.

Encostei a cabeça levemente na de Amélia e dormi, pensando no dia seguinte e nas decisões que tomaria. De uma vez por todas e sem enrolações, eu contaria toda a verdade.

E aguentaria as consequências.

E aguentaria as consequências

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