v i n t e e d o i s

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Em toda a minha vida, eu nunca imaginei que sentiria tanto medo assim de alguém que não fosse minha própria mãe, mas olhando para a mãe de Ariel, agora, eu gostaria muito de sair correndo.

A forma como ela me olhou depois que a filha entrou em casa me fez imaginar mil coisas que ela poderia fazer, apenas usando aquela colher de pau, e em nenhuma delas eu conseguia sair vivo.

— Quando Catarina me contou, eu demorei mais do que você pode imaginar pra acreditar que isso tudo era verdade. — Ela abriu o portão e veio pra fora, ficando na minha frente. — Não só a história da Ariel mentir, mas o fato dela ter conhecido você. Ela sempre gostou muito de você, sabe? Antes de toda essa confusão. E talvez goste ainda mais agora.

— Eu não queria que ela perdesse o emprego. Sinto muito, muito por isso. E eu também gosto dela, senhora Deville. — Respondi e ela riu.

— Verônica. Meu nome é Verônica. — Ela diz. — Ela fez muitas coisas erradas, acabou acumulando mentiras e escondendo coisas, e isso a trouxe até onde ela está agora. O que você pensa disso? — Ela questionou e eu demorei um pouco pra encontrar minha voz, porque ela ainda segurava a colher de pau.

— Eu entendi o que aconteceu. Eu não a odeio ou algo do tipo, mas fiquei decepcionado ao saber de tudo. Fiquei realmente decepcionado.

A maioria dos meus relacionamentos não duraram muito, e eu havia me apegado mesmo à Ariel em pouco tempo. Descobrir tudo aquilo sobre ela me deixou surpreso e decepcionado. Eu nunca esperaria algo assim dela, mesmo que Geoff tenha me alertado sobre; eu apenas preferi não acreditar.

— Ela está péssima. Chegou arrasada e não para de dizer que precisa conseguir outro emprego imediatamente, mesmo sabendo que eu consigo segurar as pontas por aqui durante algum tempo. Eu fico realmente preocupada porque, ao invés de se preocupar com a faculdade, ela só pensa em conseguir outro emprego o quanto antes e blá blá blá. — Respirou fundo, parecendo indecisa ao dar o próximo passo. — Eu sou a última pessoa no mundo que ela imagina que viria aqui falar isso pra você, mas eu preciso que perdoe minha menina. Ela gosta de você, mas isso vai acabar a matando se ninguém fizer ela entender que está tudo bem. Eu não quero te forçar a aceitar essa situação ou coisa do tipo, o tempo e a decisão é você quem tem de tomar. Mas, quando conseguir se decidir, por favor, fale com ela.

Eu queria apenas que Ariel entendesse que eu não estava irritado, por mais que na hora eu tenha ficado com raiva — mais por Andrew e Geoff que não paravam de falar no meu ouvido —, mas que agora tinha passado. 

Eu me sentia idiota. E talvez fosse mesmo.

Mas, levando a vida que eu levo, eu odiava desperdiçar minhas oportunidades de ser feliz, e Ariel é uma delas. Eu não queria abrir mão da minha felicidade desse jeito.

— Eu prometo que vou dar um jeito nisso, Verônica. 

⚪⚪⚪

— Meu Deus, que história maluca! Sabe, eu lembro dela. Quando eu tive minha última briga com meu ex, ela me ajudou muito. Ela é um amor de pessoa, Mendes. — Camila falou depois que eu terminei de contar toda a história. Eu havia lhe mostrado uma foto de Ariel, e ela a reconheceu imediatamente.

— Ela é, sim. Mas, bom, eu não sei o que fazer agora. — Suspirei, frustado, e ela deu tapas leves em minhas costas. 

— Que tal descansar? Você acabou de sair de um show, então vai tomar um banho, comer alguma coisa e dormir. Amanhã você decide o que fazer. — Ela respondeu e eu assenti, estava mesmo exausto. Mas aquele era meu último show lá, estávamos indo embora daqui a alguns dias, e eu me perguntei o que aconteceria comigo e Ariel quando eu precisasse ir.

— E quando eu for embora? O que vai acontecer? — Questionei e deitei a cabeça em seu ombro, preocupado com o futuro. 

— Você vai dar um jeito, Shawn. Você sempre dá, huh?! Se precisar de ajuda, pode me chamar. Mas hoje, já deu. Vá dormir. — Me empurrou para fora do seu quarto, e eu fui, cansado demais para protestar.

Ficar no meu próprio quarto agora havia se tornado uma tarefa difícil desde que ela havia passado a noite aqui.

Eu podia sentir seu cheiro em cada pedaço deste cômodo, e ainda me lembrava claramente daquela noite.

Ariel estava marcada em mim, e cada célula do meu corpo havia se acostumado com ela. Eu poderia sentir sua presença a quilômetros de distância, conseguiria reconhecê-la em meio a uma multidão. 

Eu sou um quebra-cabeças, e Ariel é a última e única peça que se encaixa perfeitamente em mim.

Porque ela era única. Sua presença, seu cheiro, seus fios incrivelmente ruivos e seus olhos verdes, seu jeito de agir e pensar... 

Cada pedaço dela correspondia a uma parte de mim, e eu nunca me senti tão feliz em ser apenas um cara num parque de diversões abandonado com uma garota incrivelmente simpática e encantadora. 

Eu não me lembro exatamente quando entreguei meu coração a ela, talvez tenha sido no segundo em que a vi no quarto. 

Ou pode ter sido quando a procurei pelo hotel, e consegui fazê-la me levar a um parque abandonado para ver o céu.

Ou quando a convidei para o jantar, e ela foi. Sua presença era mais que suficiente para preencher o meu coração, e ela estava ainda mais linda quando nos beijamos na praia. Eu nunca esquecerei esse dia. Nem em um milhão de anos.

Talvez eu tenha tido certeza do meu amor por ela quando a observei dormir na minha cama, ao meu lado, e confirmei minhas suspeitas de que ela era realmente a obra de arte, jamais pintada, mais lindas que o ser humano seria capaz de admirar.

Eu me apaixonei desde o primeiro dia, e continuo me apaixonando ainda mais por ela todos os dias desde que descobri sua existência.

Apesar de tudo, eu sabia que nunca me arrependeria de ter permitido sua entrada em minha vida.

Ariel era a bagunça mais perfeita da minha vida, e eu não iria perdê-la tão facilmente.

Ariel era a bagunça mais perfeita da minha vida, e eu não iria perdê-la tão facilmente

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