5. ela estabelece as regras

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5. ela estabelece as regras

Muitas coisas tinham acontecido em um curto período de tempo. Uma das coisas foi que eu tinha tomado a louca decisão de aceitar Aquiles como meu colega de apartamento. Essa decisão foi, na realidade, o motivo principal de todas as outras infelicidades acontecerem, e o motivo de eu estar tão apreensiva enquanto esperava o próprio peste chegar com as suas caixas de mudança.

Com essa decisão, eu já tinha perdido a cabeça em função do estresse e quebrado dois pratos, os quais eu ia ter que gastar dinheiro e os repor, porque tinha ainda o sentimento de que logo o meu apartamento estaria cheio de pessoas que eu não conhecia, e eu teria que ter pratos para elas mesmo que eu odiasse a ideia de outras pessoas frequentarem minha casa.

Essa era a infelicidade maior: reconhecer que, ao aceitar, teria que abrir mão de algumas coisas. Relutantemente? Sim. Mas em respeito e como uma forma de fazer ele se sentir melhor, pois eu ia com certeza cobrar que todas as minhas regras fossem postas em prática e ia fazer a vida dele no máximo um inferno. Era uma brecha para ele convidar alguns familiares e reclamar de mim, algo que sabia que ia se tornar necessário.

Eu não ia pegar leve com ele.

Estava repensando como proceder a parte de fazer a vida dele um inferno, já que ele estava atrasado e aquilo só alimentava a raiva que eu estava guardando como um animal de estimação. Era uma ótima oportunidade para já começar a impor as regras, mas acabei me desligando.

Lucas não sabia do que estava acontecendo, e eu estava preocupada que a minha sede de vingança fosse alertar os vizinhos, o que imediatamente significava que eles iriam ligar para o meu (ex) namorado.

E, suspirando, admiti que queria ligar, e talvez quisesse que outros ligassem. Se ele soubesse que era Aquiles que viria morar comigo, talvez criasse um tipo de ciúmes e alguma motivação para ele voltar ao apartamento, mas ele me atender era ainda improvável e causar ciúmes de propósito não era correto.

Girei o telefone nos meus dedos, sentando na calçada na frente do prédio. As ruas estavam quietas demais para um sábado de noite, eu ainda estava com as roupas do meu trabalho: uma calça preta de linho, camiseta social branca e uma gravata vermelha com listras pretas. Eles exigiam a vestimenta mais comportada, e eu podia muito bem usar um vestido como todas as outras colegas, mas preferia as calças.

Assim não corria o risco de acabar quebrando mais uma vez a mão de algum homem executivo que adorava e se achava no direito de passar a mão nas mulheres só porque suas pernas estão a mostra. Não era como se eu gostasse de ser assim, mas tinha se tornado um reflexo, e eu estava na minha contagem de quatro no total, e não só no trabalho.

Se isso acontecesse lá mais uma vez eu perderia o emprego e já estava sofrendo para pagar as minhas contas do jeito que estava. Nisso, lembrei exatamente porque tinha concordado com Aquiles e a raiva diminuiu, abrindo espaço para a frustração.

Passando as mãos no rosto, deixei meu pulso cair e olhei as horas. Sabia que era demais esperar pontualidade, mas ainda tinha expectativa que ele não passaria de 20 minutos de atraso, o que meu relógio mostrava cinco para fechar exatamente esse limite.

Suspirando de novo, vi os ponteiros seguindo os seus mesmos caminhos rotineiros, escutei os carros acelerando e buzinando. Senti meus olhos começarem a cair por causa da fadiga que os meus dois trabalhos e esperar por Aquiles causavam.

Não era divertido estar naquela posição, não era como eu esperava estar.

Mas era exatamente onde eu estava, então, o que isso mostrava de mim? Limpando meus olhos de novo, estralei meu dedos, tentando alimentar o meu tédio com barulhos que não fossem dos poucos carros contra o asfalto e o silêncio da noite.

Boa noite, Aquiles ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora