7. ela não consegue dormir

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obs: antes de tudo vamos tirar um momento pra apreciar esse edit que eu fiz da Lívia? Obrigada.


7. ela não consegue dormir

O salto que eu usava estalava contra o chão do meu corredor, a sola gasta com certeza mostrando a cada passo que eu dava. Tinha esquecido de levar o tênis para o trabalho, o que fez eu ir de salto e todo o traje que eu usava direto para a minha aula e voltar da aula com mais bolhas que o permitido e com o estresse de ser notada pelos motivos errados.

Os olhares dos meus colegas me perseguiram por todo o prédio, descer as escadas e levar comigo o barulho do meu sapato não facilitava toda a minha ideia de não chamar atenção. Queria que pelo menos eles não olhassem para mim como o som irritante ambulante, e sim a colega que ajudava em todos os estudos, e que defendia coisas que eram do meu direito.

Aquele dia tinha sido um pouco mais relaxado que os outros, no entanto. Tirando aquela atenção horrorosa e a vontade que eu tinha de ou fugir ou quebrar o nariz de qualquer pessoa que me olhasse torto, o meu colega que precisava de ajuda foi falar comigo no primeiro período de aula e, de repente, não era tão horrível assim toda a função.

Matheus, o qual tinha aprendido ser o seu nome, realmente precisava de ajuda, e pelo que eu tinha entendido nenhum outro colega nosso tinha realmente tentado ajudar ele, nem mesmo os que ele considerava seus amigos. Ele estava sozinho, e por mais que estivesse me sentindo como a sua última opção, me senti bem em saber que ali dentro existia outro solitário como eu.

Tinha combinado com ele para que ele fosse ao apartamento. De alguma forma, sabia que Aquiles não estaria em casa para nos atrapalhar e também me sentia mais segura dentro do meu próprio espaço.

Abrindo a minha porta, balancei meus pés e atirei os saltos no chão. Estava com os dedos inchados, as veias saltadas e incomodadas com a força que estavam fazendo para que eu continuasse equilibrada.

Tinha apenas alguns minutos até que Matheus aparecesse lá, então usei eles para trocar de roupa e ver se tudo estava realmente em ordem.

Colocando uma calça legging e uma camiseta de banda, fui inconsciente. O círculo amarelo tinha no seu centro pistolas espelhadas uma na outra com rosas enfeitando, fazendo alusão ao nome que estava escrito em preto no amarelo, e fazendo eu lembrar pela vigésima vez de dois dias antes, onde eu ajudei e convivi com Apolo e Aquiles e descobri que Iara não era uma peguete do semi-deus. Inclusive, que ela detestava o jeito de Aquiles mais que eu.

— Idiota... — Disse alto, me xingando e arranhando a minha cabeça, coçando meu rosto enquanto de novo eu voltava a sentir.

Eu lembrei de como tinha sido estranho conversar com Apolo de um jeito leve, como se ele quisesse que eu e seu irmão e ele e todo mundo fossemos amigos. Talvez fosse o nervosismo dele, ou talvez fosse genuína a sua vontade e o pedido para que eu ajudasse.

Mas o que eu tinha levado mais do que aquele sentimento de pertencer, foi o sentimento de tristeza e incapacidade. Apolo e Aimée, que eu nem conhecia, estavam tendo o momento das suas vidas formando uma família, e eu não ia ter aquilo.

Eu chorei naquele dia, mais do que eu fazia quase todas as noites. De saudade, de raiva, de decepção.

E estava quase chorando novamente naquele momento, enquanto agarrava o tecido da camiseta e ia em direção ao sofá. Me sentando de pernas cruzadas e pedindo que aquele meu pequeno espaço me fizesse pensar com calma. Que minha garganta não estivesse com sede, que meu estômago não rejeitasse a ideia de comer, e que minhas memórias de antes não voltassem.

Boa noite, Aquiles ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora