𝟏𝟐

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Lia Davis

Mary Davis.

Ela estava morta.

Ou pelo menos deveria estar.

Minha mente simplesmente não conseguia processar aquilo. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, uma sobrecarga impossível de organizar de uma vez só. Mas lá estava Mary, segurando minhas mãos com uma firmeza desconcertante, me guiando para fora como se tudo fosse fácil demais. Onde diabos estavam as outras bruxas? Sumiram?

Mas, para ser sincera, eu nem me importava com isso. Eu só precisava sair dali, rápido, sem fazer perguntas. Mary lançou um olhar dividido entre mim e Hayley, insinuando que a loba ficaria para trás. Não, não mesmo. Ela estava nessa comigo, e com certeza sairia dessa comigo também.

A loba, Hayley, estava carregando um filho de Klaus Mikaelson, o irmão de Elijah... e agora eu também estava. Cada célula do meu corpo gritava que isso nunca deveria ter acontecido, que um único passo em falso jamais poderia desencadear tanto caos de uma vez só. Mas aqui estava eu, no meio de tudo isso, atolada em problemas que eu nunca sonharia enfrentar.

Minha mente, ingênua e estúpida, tinha jurado que nunca cruzaria o caminho do híbrido mais temido do inferno. Eu jamais encontraria Klaus Mikaelson, o grande predador, o rei das complicações. Mas não só o encontrei, como também... dormi com ele.

Porra! Como eu deixei isso acontecer?

— Caralho, Mary, como você está respirando!? — A pergunta escapou da minha boca, e eu arranquei minha mão dela com brutalidade, como se o toque dela fosse algo que eu não pudesse suportar.

Ela revirou os olhos e gritou na minha cara, segurando meus ombros como se fosse me sacudir para me trazer de volta à realidade.

— Cala a sua boca, Liandra! Se a gente não sair daqui agora, essa criança vai destruir você! — Minha mãe... com medo? Isso era novo.

Eu me afastei, balançando a cabeça, recusando qualquer aproximação dela.

— Chega!  Não venha bancar a mãe preocupada agora.

— Você é tão burra! — Ela agarrou meu braço de novo, desta vez com força suficiente para deixar marcas. . — Por que você acha que está aqui, com essas bruxas no seu encalço? Por que acha que essa loba está aqui, e mais importante ainda... por que você acha que ela também está grávida!?

— Porque caímos no encanto do maldito híbrido, mãe. Só isso. Nada além disso.

Ela riu.

— As bruxas não estavam atrás de qualquer criança, Liandra. Elas estão atrás da criança certa, sua idiota!

— Do que você está falando?

Ela apertou ainda mais o meu braço, seus olhos agora escurecendo com algo muito mais intenso.

— Você carrega a criança certa, Liandra. Se não quiser ver um massacre acontecendo, sugiro que me siga agora. Você, e a loba. — O tom dela era áspero, mais autoritário do que nunca. Essa era a Mary que eu conhecia, cheia de fúria e impaciência, a mãe que sempre foi um vulcão prestes a explodir.

A criança iria acabar comigo? Como assim? Dez minutos atrás eu nem sabia que estava grávida, e agora, de repente, meu filho poderia me partir em duas? Que porra era essa!?

Minha mente girava em uma espiral de perguntas sem respostas. Tudo o que eu queria era entender o que estava acontecendo comigo, como tudo tinha virado de cabeça para baixo depois de ter cruzado o caminho de Elijah Mikaelson. Se eu soubesse o inferno que viria, teria feito tudo diferente. Tudo.

Tentei me aproximar de Mary, buscando alguma espécie de conforto, mas foi como ser atingida por um trem. Senti a costela quebrar, o estalo surdo reverberando dentro de mim, e a dor explodiu na minha mente como uma bomba. Minha visão ficou turva, a cabeça latejava e meu corpo inteiro começou a tremer descontroladamente.

— Merda! — ouvi Mary dizer, a voz dela distante, quase como um eco. Ela correu até mim, segurando meu corpo que se desintegrava em gritos.

Hayley também se apressou ao meu lado, e eu conseguia ver o pânico nos olhos dela.

— É a criança, — ela disse, e eu quase não conseguia acreditar no que ouvia. — Ele está quebrando ela de dentro pra fora.

Era a única coisa que fez algum sentido antes de sentir outro estalo, mais uma costela quebrada, e a dor me inundou como uma maré impiedosa.

— Você vai morrer, sua burra! — Mary gritou, o desespero estampado em cada palavra. — Onde você colocou a sua magia!?

Eu tentei me concentrar, mas tudo o que conseguia ver era a dor. A dor extrema que nublava minha visão, que dominava cada célula do meu corpo. Quando tentei argumentar com Mary, senti o peso esmagador tomar conta do meu corpo. Meus olhos se apagaram por completo, e a escuridão envolveu minha visão, me engolindo por inteiro. Nada do que eu pudesse fazer mudaria isso. A criança dentro de mim estava me matando de dentro para fora, exatamente como ela tinha dito.

— M-Meu porão, — consegui sussurrar, completamente cega, a voz quase falhando de tão fraca que eu me sentia.

Essas palavras foram o suficiente para que Mary agisse. Num instante, ela já tinha as chaves do carro nas mãos e, com força, me empurrou para dentro, junto com Hayley. O som dos pneus cantando nas ruas e o vento forte que entrava pelas janelas abertas só confirmavam que ela estava dirigindo como uma louca. Ela sabia que minha vida dependia disso, e realmente dependia.

Minha mente oscilava entre a dor e a consciência. O vento batia no meu rosto, cada rajada um lembrete de que eu estava viva — por enquanto. A única coisa que martelava na minha cabeça era: será que Mary estava certa? Só minha magia poderia me salvar? O que essa criança era, afinal? Não era um anjo, isso eu sabia. Estava longe de ser.

Quando o carro virou bruscamente em uma esquina, senti que estávamos em casa. Mary abriu a porta num ímpeto, e eu segurei a mão de Hayley, apertando com o pouco de força que ainda me restava. Não conseguia ver nada, só sentia a dor aguda rasgando meu corpo, me consumindo.

— Respira, vai dar tudo certo, — Hayley murmurou, sua voz suave tentando me acalmar, mas até ela sabia que estávamos longe de qualquer tipo de "tudo bem". — Sua mãe está na porta da sua casa, abrindo os braços... como uma louca.

— L-louca? — O sussurro escapou dos meus lábios.

— Espera... Ela está pegando a sua magia? — Hayley perguntou, confusa com a cena diante dela.

Foi aí que o pânico me atingiu como uma avalanche. Mary estava me enganando? Fingindo que estava me ajudando, mas na verdade só queria o que sempre quis — o poder. Ela iria tomar minhas forças, sumiria com o que restava de mim. O vento que bateu no meu rosto com mais intensidade foi o sinal de que Mary estava conseguindo... Ela estava tomando tudo.

— Ela está voltando, — Hayley murmurou, a preocupação evidente.

A porta do carro se abriu com um estrondo. Mary agarrou minhas mãos, e de repente, um grito de feitiço rasgou o ar, ecoando nos meus ouvidos como um trovão.

— Saia daqui, loba! — Mary ordenou, e Hayley, relutante, se afastou com o pedido.

E então, tudo voltou. A queimação correu pelas minhas veias, mas desta vez, não era dor — era força. Um poder avassalador, uma sensação de invencibilidade tomou conta de mim. A dor, antes insuportável, finalmente se dissipou. Eu estava de volta.

𝐓𝐡𝐞 𝐎𝐫𝐢𝐠𝐢𝐧𝐚𝐥𝐬 - DαrkηєssOnde histórias criam vida. Descubra agora