-Meu Deus Thais, eu sinto que a gente devia ter escutado nossas mães...
-Que paranoia Letícia, é só uma turbulência vai ficar tudo bem, não é mesmo Gildo? - Thais tentava me acalmar jogando a responsabilidade em um adulto responsável.
-Gildo? - ele estava paralisado olhando para frente.
-Fica tranquilo Mariano é só uma turbulencia. - A propósito o nome dele é Gildo Mariano, e sim ele conversa consigo mesmo. - Socorro, eu vou morreeeer. - gritou desesperado.
Eu sabia que devíamos ter escutado as nossas mães. Quando elas receberam a notícia que viajariamos sozinhas de avião para o Rio Grande do Sul piraram. Mas, como era nosso sonho resolveram nos deixar viajar, embora tentassem nos convencer de não fazer isso. Viajamos sozinhas, e o nosso professor orientador chegou dois dias depois. Tudo ocorreu na mais perfeita paz. Até a hora de voltarmos...
Ao invés de ficarmos mais tranquilas por viajar na presença de um adulto, acabamos ficando ainda mais desesperadas quando soubemos do mal tempo. Mas resolvemos pensar positivo, afinal ganhamos a Mostra Internacional de Ciências e Tecnologias. O que poderia dar errado? Nunca façam essa pergunta para o universo. Ele sempre responde. Não era só uma turbulência, de repente as máscaras de oxigênio caíram, dizem que elas servem pra nos acalmar, mas foi exatamente esse o momento em que entrei em desespero.
-Eu vou morrer! – Gritamos os três ao mesmo tempo.
Apaguei completamente. Quando achei que havia acordado, percebi que na verdade continuava desmaiada e delirando. Estava cercada por gelo, provavelmente na Antártida. Procurei por um rosto conhecido, mas não encontrava nada. Até que escutei uma voz familiar...
-Dançando o ula ula, com a Xuxinha... Ula ula... – resolvi segui o som.
Não podia acreditar no que encontrei. Gildo estava com colares havaianos dançando o ula ula no meio do gelo. Como se não fosse loucura o suficiente, ele estava rodeado de sereias. Isso mesmo, sereias. A minha imaginação não era tão fértil. Eu não estava sonhando, era um delírio. Eu estava maluca! Completamente maluca.
Eu precisava encontrar Thaís, ela com certeza teria uma solução pra me fazer voltar para a realidade. Procurei por todos os lados, quando achei que devia perder as esperanças me surpreendi. Ela, (ou uma versão maluca dela) saía de um iglu com roupas de esquimó.
-Os biscoitos estão prontos, meninas. – Ela gritou. Logo todas as sereias seguiram em direção ao mesmo iglu. – Letícia, você acordou?
-Na verdade não. Eu devo estar delirando. – afirmei.
-Claro que não. Eu também me assustei quando vi as sereias. Quando o nosso avião caiu no mar elas nos resgataram e trouxeram a gente para cá.
-Onde é que nós estamos?
-No polo Sul.
-Antártica? – Perguntei cética.
-Isso.
-Menos mal. Se fosse no polo Norte correríamos o risco de encontrar o papai Noel. – disse irônica.
-Bem... Aquele iglu grandão lá em cima é a casa de verão dele.
-Sério?
-Claro que não sua boba. Papai Noel não existe. – ela disse rindo.
-Sereias também não.
-Então quem é que está lá dentro comendo biscoitos? Por falar nisso, venha vamos comer também. Tá frio aqui fora.
-Para com isso Thaís. Você não sabe cozinhar.
-Pois é, sorte que a massa estava pronta, eu só coloquei no forno. Por pouco não queimou tudo.
Entramos e nos sentamos à mesa. No início eu estava brava por não saber como sair daquela alucinação, mas com o tempo acabei me envolvendo com as histórias que elas contavam. Eram ao todo seis sereias que moravam ali, Muriel, a mais velha, tinha uma cauda roxa, e olhos no mesmo tom, seus cabelos eram negros e contrastavam com a pele alva. Alana e Ariel tinha caudas e olhos azuis, e cabelos vermelhos como o fogo, estas eram as mais doces entre todas, e pareciam estar sempre procurando uma maneira de nos agradar. Melody e Moana, de cauda e olhos verdes e cabelos multicoloridos, eram as mais novas e brincalhonas, estavam sempre se movimentando e a cada história contada elas encenavam como se estivessem revivendo tudo, tornando as aventuras ainda mais incríveis. E a sexta sereia, Arethuza, era a única de cabelos cacheados e azuis escuros, seus olhos mudavam de cor o tempo todo, e ela permanecia calada e observando tudo. Ás vezes eu tinha a impressão de que ela lia os meus pensamentos quando olhava diretamente em meus olhos, o que me deixava assustada.
À medida que o tempo passava eu ia me envolvendo com as histórias contadas, e aos poucos me esquecia de tudo o que acontecera antes de chegarmos ali.
-Essa foi a primeira vez que passamos pelo Canadá, os peixes lá são muito simpáticos. –Disse Moana, enquanto contava mais uma de suas aventuras. Essa última frase ficou ecoando na minha cabeça como se houvesse algo que eu precisasse lembrar.
-CANADÁ!!! – gritei.
-Credo Letícia, você me assustou.
-O Canadá Thaís.
-Isso mesmo. Aquele país perto dos Estados Unidos. – disse Melody.
-Não... Thaís... O Canadá... A Feira Internacional de Ciências. OS gêmeos canadenses que vão competir com a gente na ISEF. Se não sairmos logo daqui não vamos ganhar deles.
-Ah meu Deus. Eu havia me esquecido. – ela pareceu desesperada pela primeira vez.
-Muriel, se não se importa. Poderia nos levar para casa? – Ela pediu como quem já tinha muita intimidade com aquela que parecia ser a líder das sereias.
-Claro. Será um prazer.
E foi assim que nós conhecemos as sereias. Depois de voltarmos para casa tentamos nos preparar para competir com os gêmeos canadenses. Com certeza teríamos ganhado se as nossas mães não tivessem nos proibido de viajar de avião por um bom tempo. Pra ser sincera, eu sou grata por isso até hoje.
***
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As Aventuras de Thaís e Letícia
Short StoryQuem nunca viveu grandes aventuras ao lado da melhor amiga? Thaís e Letícia são garotas populares e inteligentes, mas sem sombra de dúvidas a maior de suas qualidades são as histórias que tem para contar. Embarque nessa aventura com a gente...