Eu havia nos enfiado nessa, mas não conseguiria sair disso sozinha. Thaís precisava me ajudar embora não acreditasse que a minha prima tivesse algum poder espiritual. Bem... A esta altura do campeonato eu já havia entendido que perdera cem reais. Mas o fato é que o universo parecia ter se voltado de vez contra nós. Mal saímos da casa de Thaís e o céu azulado deu lugar a uma tempestade que pegou de surpresa até mesmo a tiazinha da previsão do tempo. Para completar, em alguns lugares a água começava a formar pequenas correntezas próximas às calçadas, e ao tentar atravessar a rua acabei perdendo um sapato.
-Eu não aguento mais isso! –Comecei a chorar.
-De onde veio a ideia de confiar na sua prima?
-Ela é da família. – abaixei o olhar envergonhada. Eu tentava acreditar que a minha prima não era uma pessoa ruim, mesmo depois de tantas coisas erradas que ela havia feito.
-Agora não adianta chorar. Precisamos dar um jeito nisso.
-Acha que vamos mesmo conseguir trazer os garotos para a "vida real"?
-É a única chance que temos. Eles são o nosso amor verdadeiro. – ela disse convicta.
Não era um plano. Mas era o único plano que tínhamos. Desde que o Cleidison fora embora eu não tinha esperança de achar outro namorado. Pelo menos não na Terra. Não havia tempo para isso. Nós dedicamos a vida quase toda para escrever nosso livro, mas parecíamos fadadas a nunca chegar ao final. Estávamos sempre ocupadas demais para fazer parte de um círculo social, e um relacionamento poderia custar a nossa tão sonhada publicação. Os únicos homens que faziam parte da nossa vida eram os nossos personagens, então não havia outra escolha.
Finalmente chegamos ao casebre de madeira, completamente isolado da civilização. Não haviam anúncios aos quatro cantos de alguém que fizesse bruxaria. Mas a minha mãe conhecia uma benzedeira, e se ela podia tirar mal olhado certamente poderia nos livrar da onde de azar que nos perseguia.
-Em que posso ajuda-las? – uma senhora de pele enrugada, e com as costas curvas abriu uma pequena frecha na porta.
-Precisamos de um feitiço. – fui direto ao ponto.
-Está no lugar errado. Eu não sou uma bruxa. – Ela me olhou torto parecendo ofendida.
-Por favor senhora. Nos rogaram uma praga. – Thaís se esforçou para fazer sua melhor cara de gato de botas.
-Entrem. – disse nos indicando o caminho com as mãos. – Podem explicar melhor?
-Eu contratei a minha prima para tentar tirar nosso azar, e ela disse que se não ganhássemos um beijo de amor verdadeiro até a meia noite teríamos o azar dobrado. – contei.
-A prima dela não tem poderes. – Thaís quis deixar claro. – Só queria nos tirar uma grana, mas de qualquer forma estão acontecendo coisas estranhas.
-Não existem poderes mágicos garotinha. Mas qualquer pessoa é capaz de rogar uma praga apenas emitindo vibrações negativas. Precisamos saber o quão carregada essa garota é. – Thaís me olhou assustada. A Verônica com certeza era muito carregada. – Deixe-me sentir vocês. – Caminhando vagarosamente aquela senhora se aproximou de nós e estendeu as mãos sobre nossas cabeças.
-Está sentindo alguma coisa? – questionei após alguns minutos.
-A energia é muito pesada. Eu posso benzer vocês, mas acho que não seria o suficiente.
-E o que vamos fazer? – Thaís começava a entrar em desespero.
-A força das palavras dela penetraram a carne de vocês. Precisam fazer o que ela disse.
-Impossível. Como vamos encontrar o amor verdadeiro em algumas horas?
-O amor verdadeiro é algo que já deve estar dentro de vocês.
-A senhora não está entendendo. – tentei explicar a situação. – Os únicos homens que estão na nossa vida não habitam o mesmo plano que nós.
-Eles já morreram?
-Não... Mas é que... – Não sabia ao certo como explicar. Eu sempre temia parecer uma idiota quando estava conversando com pessoas mais velhas. – Bem... Eles são personagens de um livro.
-Vocês se apaixonaram por personagens de um livro? – definitivamente aquela velhinha achava que nós éramos idiotas.
-Não exatamente. – Thaís tentou amenizar a situação. – Nós escrevemos um livro, e dedicamos muito tempo a ele. Não temos tempo de criar vínculos reais. – essa com certeza foi uma explicação mais inteligente.
-Deve existir alguém que vocês amem incondicionalmente. Alguém por quem vocês fariam qualquer coisa.
-Nossas mães? – Thaís arriscou.
-O amor de mãe é originado do laço de sangue. É algo forte demais para ser envolvido em feitiços, pode trazer sérias consequências.
-Acho melhor pensarmos em outra coisa. – Thaís afirmou.
-Continuo achando que o livro é nossa melhor opção. Nós já assaltamos um museu por ele.
-Do que estão falando? – A senhora pareceu se assustar.
-Não somos criminosas. – Thaís tentou limpar nossa barra. – Nós só procurávamos uma pedra que parecia realizar desejos. Terminar esse livro é o nosso maior sonho. É o trabalho das nossas vidas, e abrimos mão de muitas coisas por ele.
-Me deem suas mãos. – ela começou uma oração enquanto segurava as nossas mãos. – Pronto. Voltem para casa e comecem a escrever.
-É só isso? – questionei. Nada parecia ter mudado.
-Escrevam a melhor cena da história e finalizem com um beijo de amor verdadeiro.
-Era tão simples assim? – Thaís parecia frustrada.
-Poderes mágicos não existem menina. Não importa o quanto despejem energias negativas em cima de vocês. Se amarem realmente esse trabalho, dediquem-se a ele com todo esse amor. As coisas boas serão atraídas para vocês.
Saímos de lá confiantes de que tudo estaria resolvido. Nunca mais teríamos azar em nossas vidas. Nos despedimos da senhora na porta, após tentar pagar por seus serviços, mas ela se recusou a receber. De repente, um gato preto passa como um raio fazendo um ziguezague entre as nossas pernas e nos levando direto ao chão.
-Acho melhor vocês escreverem logo esse beijo de amor verdadeiro.
***
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As Aventuras de Thaís e Letícia
NouvellesQuem nunca viveu grandes aventuras ao lado da melhor amiga? Thaís e Letícia são garotas populares e inteligentes, mas sem sombra de dúvidas a maior de suas qualidades são as histórias que tem para contar. Embarque nessa aventura com a gente...