Um Conto de Aniversário

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Nós havíamos planejado absolutamente tudo! Thaís já havia deixado claro que queria que o tema da sua festa de aniversário fosse flamingos. Ainda havia sobrado algum dinheiro do prêmio de nossa última feira de ciências e eu queria que esse aniversário fosse especial. Daiane logo concordou com a ideia e embarcou comigo literalmente. Thaís ficaria radiante quando encontrasse flamingos de verdade na decoração da sua festa, e nós ficamos muito felizes em saber que havia alguns se reproduzindo no Amapá poucas semanas antes do aniversário.

-Ela vai matar a gente Letícia. – Daiane reclamava enquanto desembarcávamos no aeroporto.

-Nós vamos voltar a tempo. – afirmei.

-Não dá para enfiar flamingos roubados no avião, vamos gastar uma fortuna para contrabandear e ainda por cima teremos que voltar de caminhão até a Bahia. Foi uma péssima ideia.

-Deveria ter pensado nisso antes de vir. Precisamos dar um jeito de chegar antes do dia da festa. Vão entregar um caminhão de areia da praia do caribe logo cedo.

-Você comprou areia do Caribe? – ela me olhou espantada! – Não é igual a qualquer outra areia?

-Claro que não Daiane! Thaís merece a melhor festa de todas. – ela concordou.

No dia seguinte logo cedo fomos até o local onde estavam os flamingos. Havia pouco mais de dez ali, ninguém sentiria falta se dois sumissem. Daiane encontrou um homem que topou nos levar para casa. A princípio eu fiquei apavorada com a expressão do sujeito, cheguei a pensar que seríamos sequestradas no caminho, mas não havia alternativa. Depois de alguns dias as pessoas que cercavam o local para ver os flamingos começaram a ficar raras e então podíamos colocar nosso plano em ação. O caminhão ficou parado há metros do local para não levantar suspeitas e Daiane e eu deveríamos conduzir os animais até lá. Nos abastecemos de vermes e minhocas para atrai-los e começamos a executar o plano. Já estávamos na metade do caminho quando um guarda nos parou.

-Eu falei que era uma má ideia. – Daiane cochichou no meu ouvido.

-O que pensam que estavam fazendo? – o guarda nos olhou de cima a baixo.

-Nós só estávamos levando eles para passear. – falei.

-Para passear onde?

-No hotel onde estamos hospedas. Lá tem uma piscina maravilhosa. Imaginei que eles se divertiriam. – perdi completamente o controle do que eu estava falando. Daiane parecia ter ficado muda.

-Isso é tráfico de animais. – o guarda parecia incrédulo com a cena.

-Mas... – Daiane apavorou-se – Nós não sabíamos.

-Desculpem, mas vou ter que conduzi-las até a delegacia. – Perdemos a cor.

O desespero tomou conta de nós e faltou pouco para explodirmos a sala apertada onde fomos levadas a prestar depoimento. Nós não podíamos ser presas, faltavam apenas dois dias para o aniversário. Choramos tanto de desespero que o delegado acabou concluindo que éramos inofensivas. E nos liberou. Assim que saímos da delegacia o meu telefone começou a tocar.

-Alô. – atendi – Como assim? – voltei a me desesperar – Mas, não vai conseguir levar? – a resposta negativa do outro lado completou a tragédia que havia sido aquele dia.

-O que aconteceu? – Daiane já não tinha forças para entrar em desespero.

-Não vamos ter areia do Caribe. – sentei na calçada.

-Olha para trás Letícia. – Daiane mantinha o olhar num ponto fixo atrás de mim.

-Não tenho forças. – respondi.

-Olha logo! – me virei. Ela apontava a fachada de uma loja de conveniências.

-Não é a mesma coisa. Mas pode servir.

Acabei obrigando Daiane a esvaziar as malas e deixar todas as roupas no Amapá para levar as compras que fizemos naquela loja. Compramos duas estátuas de flamingo em tamanho real, e todas as lembranças de flamingo que encontramos. Chegamos à Bahia faltando algumas horas para a festa. Decoramos o local o mais rápido que pudemos, e eu quase perdi o pescoço quando a minha mãe viu o buraco no quintal onde eu tirei areia para fazer a praia artificial. No fim das contas tudo estava perfeito. Todos os amigos e familiares dela estavam lá. Só faltava Thaís.

-Thaís, precisamos de você aqui. – não era difícil convencê-la a me socorrer sempre que eu precisava – É uma emergência!

-Chame Daiane. – foi seca.

-Mas eu preciso de você.

-Você não viajou sozinha com Daiane? Pois bem, espero que vocês sejam felizes sem mim.

-Deixa de drama Thaís. Eu preciso de você aqui.

-Drama? Aposto que nem sabe que dia é hoje. – era a primeira vez que eu não desejava feliz aniversário logo cedo. Mas era por uma boa causa, e eu esperava que ela entendesse. – Esqueceu não foi? – ela começou a choramingar do outro lado.

-Claro que não. – Eu não sabia mais o que falar. – É que... – pensei um pouco.

-É uma festa surpresa. Anda vem logo. – Daiane gritou alto o suficiente para ela escutar do outro lado. Não foi exatamente como eu planejei, mas ela acabou indo para lá e era só o que importava.

-Vocês são as melhores amigas! – exclamou ao chegar na festa.

-Nós queríamos que fosse especial. – falei – mas infelizmente sequestrar flamingos de verdade, ou transportar areia do Caribe parece não ser tão fácil.

-É o aniversário mais especial de todos. E não é por causa da decoração de flamingos. Mas por que vocês estão aqui comigo. – ela tinha mesmo o poder de nos fazer sentir melhores.

-Feliz aniversário Thaís. Você merece muito mais.

***

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