Surpresas na Suíça

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Se tem uma coisa da qual estou certa hoje, é que gêmeos canadenses causam bloqueio criativo. Depois que nos aproximamos dos garotos nem uma única palavra escrita por nós fazia sentido. Thaís acreditava que podia ser pela falta de tempo. Mas não... Eu tinha certeza de que isso era o efeito dos gêmeos.

Depois da competição, dez pesquisadores foram selecionados para integrar uma nova equipe do CERN. E apesar de não ser minimamente capaz de consertar um aquecedor, eu e Thaís estávamos entre nós. E é claro, por conspiração do universo, os gêmeos também. O projeto em que trabalharíamos inicialmente nos prenderia por cerca de seis meses na suíça. Ao menos agora, eu tinha alguém a quem eu odiava mais do que os malditos gêmeos. Eu tinha um chefe mais do que insuportável, me obrigando a passar horas olhando para uma tela tentando achar um padrão em dados que não faziam o menor sentido. Enquanto isso, o Max sentava na bancada logo em frente projetando algum equipamento que parecia incrível. Era o cúmulo do absurdo.

-Eu não sei por que eu fui estudar física! Tantos cursos para escolher, e agora estou eu aqui passando o dia inteiro atrás de uma tela de computador. – reclamei. Thaís e o Zac estavam trabalhando juntos em algo, e ficaram até mais tarde no laboratório, me obrigando a desabafar com o Max.

-Vocês descobriram a tecnologia da máquina do tempo. Não conseguiriam sem estudar física.

-Golpe de sorte. Acabei como todos os outros físicos. Thaís pelo menos está se divertindo até agora.

-Trabalhar agora é diversão? – ele riu.

-Melhor que ficar entediada. – suspirei.

-Minha companhia é tão ruim assim? – questionou parecendo chateado.

-Desculpe, não foi o que quis dizer.

-Mas disse. – ele pareceu pensativo – Vem comigo. Vou te levar num lugar que vai te animar.

-Acho pouco provável. Estamos num restaurante, nada me anima mais que comida.

-Tem que pagar pra ver. – ele disse enquanto se levantava. Eu não tinha mesmo nada melhor para fazer, então o segui.

Eu não sabia para onde estávamos indo, mas quando o Max falou um lugar animado à última coisa que eu imaginaria era um museu. Eu já não tinha uma boa experiência com esse tipo de ambiente, de mau humor então aquilo seria uma completa catástrofe.

-Achei que ia me levar a um lugar animado. – alfinetei.

-Com a cara que você está, ia ficar parada num canto de boate praguejando até a hora de ir embora.

-Provavelmente sim. – ri ao imaginar a situação – mas ainda não entendi como um museu me ajuda.

-É um museu de arte contemporânea. – ele revelou, como se depois disso tudo fizesse sentido.

-Aaah sim. – disse como se realmente fizesse algum sentido.

-Você não entende nada de arte contemporânea, não é? – me olhou intrigado.

-Nenhum pouco. – confessei.

-Ótimo. – sorriu – Agora vamos entrar por que temos apenas uma hora antes que feche. E agradeça por hoje ser quarta feira e ele estar aberto à noite.

Segui o Max que apertou o passo até entrarmos no museu. Porta adentro, nos deparamos com um ambiente repleto de objetos, e coisas sem sentido nenhum.

-Isso é arte? – questionei olhando para os lados para garantir que ninguém ali falava a minha língua.

-Eu sabia que daria certo. – Ele começou a rir.

-Do que está rindo? – questionei.

-Vai extravasar todo o seu mau humor falando mal dessas peças.

-Não é difícil achar defeito nessas coisas. O tiozinho do reggae que vende artesanato na esquina da minha casa entende tem coisas mais bonitas. Quem em sã consciência paga por algo assim? – questionei andando pelo salão. – Olha aquele ali. – apontei – Eu posso fazer aquilo com os pés.

-Não exagera. – ele me seguia achando muito divertido todo o meu repertório.

-Exagero seria se eu dissesse que faria apenas com o pé esquerdo, mas sou modesta. Olha aquele outro. Um monte de forma geométrica colorida, parece até que bebês gigantes estavam brincando com pecinhas.

Andamos por todo o museu até nos mandarem embora por que o museu ia fechar. Eu já nem lembrava que estava mal humorada, e os músculos da minha face estavam com câimbra de tanto que eu ri. Andamos pelas ruas de Genebra e o Max me garantiu que não estávamos longe do hotel. Eu não tinha a menor noção de onde nós estávamos. No meio do caminho o Max parou e começou a olhar o movimento nas ruas.

-O que foi agora? Não me diga que está perdido, por favor.

-Não. É só que eu queria fazer algo antes de voltar para casa. Não sei se vou ter outra oportunidade.

-Vai demorar? Eu preciso ir ao banheiro.

-Não muito. Mas... Talvez não seja o momento. Melhor deixar para outra hora.

-Faz logo. Agora eu quero saber o que é.

-O momento não é propício. Não é como eu imaginei. – ele riu.

-E como era o momento na sua imaginação? – Questionei, embora não fizesse a menor ideia do que ele estivesse falando. Mas desde que não colocasse a minha vida em risco, não podia ser loucura maior do que tudo que eu já havia feito na vida.

-Sei lá. Violinos tocavam, ou sinos. Ou fogos de artificio. – Mal as palavras saíram da boca dele, fogos de artificio começaram a enfeitar o céu de Genebra.

-Acho que não vai ter desculpa. Estão ai seus fogos. Eu devo me preparar para ver você dançar ou pular pelas ruas? Vou fingir que não te conheço... – disparei a falar, mas parei quando percebi que ele estava se aproximando de mim. Levei alguns segundos tentando identificar o que ele pretendia fazer, mas fui pega de surpresa por um beijo.

Eu nunca parei para pensar em como se beija, era tão automático que só acontecia. Mas naquele momento eu não sabia como reagir, e meu cérebro travou. Eu não sabia se devia corresponder, ou empurrá-lo para longe. Então apenas fiquei parada com os olhos arregalados. Aquele deve ter sido o pior beijo da vida dele, e eu me sentia uma retardada. De olhos arregalado, localizei uma torre que eu reconheci pois ficava logo em frente ao hotel onde estávamos hospedados. Quando o beijo acabou, eu apressei o passo em direção ao hotel, sem dizer uma só palavra. Eu sentia a presença do Max logo atrás de mim, que também seguia calado.

Entrei no meu quarto sem olhar para trás, não queria ver a cara do Max tão cedo. Thaís estava jogada na cama com os olhos vidrados no teto.

-Ainda bem que você chegou. Preciso contar uma coisa estranha.

-Não tão estranho quanto o que aconteceu comigo agora. – afirmei.

-O Zac me beijou. – meus olhos a encararam sem acreditar no que eu havia acabado de ouvir.


***

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