Feijões Mágicos

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-Aaaaaaaaaaiiiiii! – Thaís urrou de dor como se estivesse morrendo.

-Não seja dramática Thaís! Não dó tanto assim. – Os anos de convivência me ensinaram a reconhecer o nível de exagero em seus dramas.

-Não foi você quem acabou de ser cortada! – reclamou.

-Foi só uma cirurgia no dente. – Destaquei.

-Mas eu não posso mastigar nada. Vou morrer de fome!

-É para isso que eu estou aqui, trouxe sorvete e vou fazer sopa.

-Não quero sopa. Eu quero comer milho assado.

-Você não pode comer assado.

-Está vendo? É o fim! Eu vou morrer de fome!

-Vai comer a sopa nem que eu tenha que enfiar na sua garganta.

-Credo! Você já foi mais gentil.

Eu não era a melhor cozinheira do mundo, mas com certeza cozinhava melhor do que Thaís. Abri a geladeira e peguei todos os ingredientes que achei e coloquei em cima da mesa. A ideia era colocar tudo numa panela e esperar que aquilo virasse uma sopa. Descasquei os legumes e escutei a campainha tocar. A mãe de Thaís não estava em casa, então tive que deixar a cozinha para atender a porta.

-Oi Daia! – sorri ao ver nossa amiga.

-Oi Leh! – sorriu estendendo uma sacola em minha direção. – Trouxe feijões.

-Não acho que vai combinar com a minha sopa. – me arrepiei ao lembrar a última vez que comi sopa de feijão. Definitivamente não era a minha comida favorita.

-Não são para a sopa sua tonta. São feijões mágicos. – seus olhos brilharam.

-Ai meu Deus. Quanto você pagou por isso? Espero que não muito. Não acredito que caiu nesse golpe.

-Não é golpe. Foi a senhorinha que me deu, e não cobrou nada por isso.

-Que senhorinha? – indaguei espantada.

-Uma andarina que me pediu comida e eu dei. Ela disse que era uma fada disfarçada e me deu isso como presente.

-Ata! – bufei desacreditada.

-Não vai testar para ver se funciona?! -Daiane questionou.

-Para que? – indaguei – Ver uma árvore gigante crescer e levar a casa pelos ares, encontrar com um gigante, roubar seus ovos de ouro e acabar morta? Já ouvi esta história antes.

-Anda lendo muito conto de fadas, bobinha. – Daiane me olhou como se eu fosse uma energúmena.

-O que isso faz então?

-Basta pingar duas gotinhas de água e o feijão se transforma em qualquer coisa que quiser comer.

-Eu quero um quebra-queixo! – Thaís gritou do quarto.

-Cala a boca Thaís, você não pode comer. – gritei de volta.

-Você ainda não aprendeu a lidar com ela, não é? Deixa que eu te ensino. – Daiane sussurrou no meu ouvido.

-Como assim?

-Ai meu Deus, Letícia! – ela falou alto o suficiente para Thaís escutar. – Você vai colocar batatas na sopa? Ela não pode comer potássio. – mentiu.

-Eu não sabia, não vou colocar mais.

-Por favor. – Thaís apareceu de repente na cozinha. – Eu amo batatas, me deixe comer.

-Daiane acabou de dizer que não pode. Ela estudou fisioterapia, deve entender alguma coisa de medicina. – pontuei.

-Não vai me matar, é só um pouquinho. – Insistiu.

-O que acha Daiane?

-Eu não me responsabilizo. – Deu de ombros.

-Tudo bem, mas vou colocar só um pouquinho. – A esta altura já estava me segurando para não cair na gargalhada.

-Obrigada! – sorriu – Mas e os feijões? O que vamos fazer com eles?

-Não sei. É melhor não brincarmos com isso enquanto estamos com fome. – tentei ser racional – Depois pensamos melhor.

Terminei de preparar a sopa, e antes que Daiane pudesse fugir a obriguei a comer com a gente. Não ficou de tudo ruim, talvez se eu usasse um pouco mais de sal ela pudesse ter gosto de alguma coisa.

-Quer mais um pouco Thaís? – perguntei ao notar que o prato estava vazio.

-Por favor, não me torture mais. – choramingou.

-Não está tão ruim assim.

-Eu queria mesmo comer um sorvete bem grande...

-Cale a boca Thaís. – Daiane olhou para ela desesperada, como se houvesse algo de muito errado.

-Com muita calda de chocolate, leite em pó e castanhas.

-Por que ninguém me ouve? – Daiane abaixou a cabeça frustrada.

-O que aconteceu? – perguntei.

-Eu derrubei um feijão na sopa por acidente. – arregalei os olhos.

-Ainda bem que essa história de feijões mágicos só existe nos contos de fadas. – suspirei fundo.

-Cedo demais para comemorar. – Thaís apontou para o prato onde Daiane derrubara o feijão.

A sopa estava borbulhando, como se de repente voltasse a ferver. Logo vi o feijão apontar, mas o pequeno grão já estava do tamanho de uma castanha. Ele continuou crescendo e mudando de formato e textura, até que se parecesse com uma bola de sorvete. Pude ver quando a calda de chocolate se materializou, seguida pelo leite em pó e as castanhas. Não tive muito tempo para admirar, já que a bola de sorvete parecia estar crescendo descontroladamente.

-Minha nossa! – exclamamos ao mesmo tempo.

A bola de sorvete já havia tomado toda a mesa quando corremos para um dos cantos da cozinha. Ficamos estagnadas enquanto aquele monstro crescia, e crescia, até que explodisse cobrindo toda a cozinha. Limpei o sorvete dos meus olhos para tentar enxergar melhor o estrago, mas continuava enxergando meio embassado.

-É sorvete de baunilha. – Thaís exclamou enquanto passava a língua nos lábios sujos de sorvete.

-Olha essa bagunça! – comecei a chorar de desespero.

-Acho melhor vocês manterem a calma por que precisamos nos concentrar em arrumar isso antes que a minha mãe chegue!

Definitivamente aquele não foi um dos nossos melhores dias. Tivemos duas horas para limpar toda a cozinha, e havia sorvete nos lugares mais improváveis. Cheguei a pensar que morreríamos no processo, mas não aconteceu. Quando a mãe de Thaís chegou, estávamos jogadas no chão, completamente destruídas.

-O que deu em vocês hoje? A cozinha está brilhando! Estão de parabéns.

-Obrigada! – procuramos forças para responder.

-Animem-se, vamos. Vocês merecem uma comemoração! Que tal uma rodada de sorvete?!


***

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