Gêmeos Canadenses

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Aqueles malditos gêmeos ainda nos tirariam do sério. Eles eram estupidamente lindos, e absurdamente inteligentes, mas não eram pálios para nós. Sempre que tínhamos algum projeto aprovado para alguma feira de ciências internacional o primeiro pensamento que nos vinha em mente era: "Será que eles também passaram?" A resposta era sempre a mesma. Sim, eles sempre estavam lá. Parecia uma espécie de perseguição, onde quer que estivéssemos, lá estariam eles.

Zachary e Maxwel, dois irmãos gêmeos canadenses muito bem apessoados e dotados de uma inteligência fora do comum. Eu adoraria poder dizer que eu os admirava por isso, mas não seria uma verdade. Nós já havíamos estado em duas finais internacionais, e parecíamos fadadas ao segundo lugar. Não importava o quão bom era o nosso projeto, eles sempre tinham algo melhor, o que nos deixava profundamente irritadas. Depois de perder para eles pela segunda vez, voltamos para casa com um único objetivo em mente: Ganhar deles! Fizemos uma enquete na escola na tentativa de encontrar algo incrível que precisava ser inventado. Entre sugestões de máquinas do tempo, poções da juventude eterna, asas, e chips para ler pensamentos, nós selecionamos as ideias mais viáveis.

Levamos cerca de um ano para finalizar o projeto, e embarcamos para mais uma feira internacional prontas para destruir aqueles gêniozinhos. Após terminar de montar nosso estande, subi num banco para posicionar melhor o nosso banner, e acabei em desequilibrando. Senti quando alguém me segurou impedindo que eu fosse de encontro ao chão. Minhas narinas ficaram inebriadas com o perfume amadeirado que fez meu corpo amolecer.

-É melhor tomar cuidado com esses bancos. – Maxwel sorriu para mim com aqueles dentes perfeitamente brancos que me tiravam do sério.

-Eu sei me virar sozinha! – disse me reaprumando.

-Tenho certeza que sim. – Ele voltou o olhar para o banner que eu havia acabado de posicionar.

-Incrível! Estou impressionado com o trabalho de vocês. – Elogiou, embora eu tivesse a mais absoluta certeza de que se tratava de uma ironia.

-Obrigada! – Thaís agradeceu com um sorriso simpático.

-Boa sorte! – Ele se virou para ir embora.

-Desejo o mesmo. – Tentei ser simpática também. Estávamos rodeados de jurados.

Com toda certeza o que eu mais odiava naqueles garotos era a capacidade que eles tinham de nos fazer sair do sério. Não importa o quanto nos concentrávamos para fazer o melhor possível, bastava que um deles chegasse perto de nós para começarmos a suspirar sem motivos. Mas não dessa vez, eu havia me alimentado com a força do ódio que só um brasileiro reconhece, e estava pronta para destrui-los.

-Não sei como você consegue ser simpática com eles. – eu disse a Thaís.

-Você deveria se esforçar mais. Estamos cercadas de juradas. – Ela disse olhando ao redor para verificar se alguém nos escutava.

-Eu estou tentando, mas eles são tão irritantes...

-Esse ano o prêmio é nosso. – ela afirmou com convicção.

-Por falar nisso, o que é o prêmio esse ano mesmo? – questionei ao me recordar que eu não havia lido nada a respeito do prêmio até então.

-Não sei. Para mim não há nada mais recompensador do que ganhar desses mauricinhos.

-Tem razão.

Logo os jurados começaram a chegar e já percebíamos a empolgação deles com o nosso projeto, pelo tempo que levavam fazendo perguntas. Normalmente eles passavam cerca de cinco minutos em cada estante, mas conosco demoravam o dobro do tempo causando uma certa aglomeração em nossa volta. Isso poderia nos dar certa confiança, mas no momento em que saí para ir ao banheiro entre um jurado e outro, passei propositalmente em frente ao estande dos gêmeos que estava igualmente lotado. Esqueci completamente onde estava indo e voltei correndo para o estande onde Thaís acabava de colocar os pés para cima aproveitando alguns minutos de descanso antes de voltar a apresentar.

-Já foi ao banheiro? – Questionou estranhando a rapidez.

-Não há tempo para isso. Não podemos parar, o estande deles está lotado. – falei sem pausar nem ao menos para respirar.

-E o que podemos fazer?

-Não sei. Precisamos atrair as pessoas. Precisamos de todas as atenções para o nosso projeto! – Enfatizei a última frase.

-Mas como?!

-Tive uma ideia genial! – Exclamei. – Vamos comprar bombons.

-Como isso vai nos ajudar?

-Nós vamos dar bombons de brinde a todos que passarem por aqui.

-Ainda não entendi aonde quer chegar. Bombons não vão fazer nosso trabalho parecer melhor. – afirmou.

-Quem não gosta de bombons Thaís? – perguntei - Se você estivesse numa feira de ciências visitando alguns estandes, e soubesse que um deles está dando bombons a todos os visitantes, o que faria?

-Eu iria visitar esse estande. – Ela finalmente entendia a genialidade da minha ideia. – Mas e quanto aos jurados, não acho que eles vão se deixar comprar tão facilmente.

-Quem não se deixa comprar por chocolate?

-Tem razão!

Não demorou até que o nosso estande estivesse lotado outra vez. Embora os jurados não demonstrassem muito interesse pelo brinde repentino, com certeza estavam impressionados com a quantidade de gente que estava se interessando em nos visitar. No domingo a tarde todos os concorrentes estavam no auditório onde seriam divulgados os vencedores e os prêmios seriam entregues. Nos seguramos para não pular de alegria ao escutar os nomes dos gêmeos ao anunciarem o segundo lugar. Deixamos toda a empolgação para o momento em que nos anunciaram como vencedoras do primeiro prêmio. Nos posicionamos ao lado deles no palco e recebemos o troféu.

-E é com grande prazer que convido ao palco Elon Musk, para a entrega do prêmio ao primeiro lugar.

"Ai meu Deus! Ganhamos um foguete!" Foi o que pensamos ao escutar aquilo, mas o nosso momento de empolgação não durou muito.

-Gostaria de parabenizar a todos pelos projetos, em especial as vencedoras. Fiquei particularmente admirado com o trabalho de vocês. E será um prazer tê-las comigo na próxima sexta feira para assistir ao lançamento do meu carro no espaço! - ele disse empolgado enquanto toda a plateia ia a loucura. Enquanto isso nós exibíamos sorrisos amarelos sem acreditar que o prêmio de um ano de dedicação e trabalho árduo seria assistir de camarote um maluco jogar um carro estúpido no espaço.

***

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