Por Micaela
— Nada no quarto, tudo bem. Mas e fora dele?
Tentei forçar minha mente a lembrar de todos os acontecimentos da noite anterior, mas o que deu para lembrar era tudo confuso e em um borrão, sem contar a dor que também trazia.
— Nada, também.
— Onde é o banheiro? – perguntei, antes que eu pudesse fazer alguma besteira.
— Bem ali. – apontou para uma porta branca dentro do quarto, fechada. – Por favor, não vomite na cama nem no tapete.
— Tá bom.
Ela saiu do quarto sem mais nem menos e o barulho da porta fez com que eu fechasse os olhos por um momento. Sinceramente, nunca tive uma enxaqueca até aquele momento e foi primeira experiência mais horrorosa de todas.
— Tome. – abri os olhos, vi que ela me estendia um copo com água em uma mão e um comprimido na outra. – Tome isso e deite um pouco. - o fiz.
— Foi na aula hoje?
— Eu não. – sorriu travessa. – Eu não estava disposta pra isso depois de ontem. Duvido muito que os meus convidados foram.
Realmente, não foi uma boa idéia fazer uma festa daquelas tendo aula no dia seguinte. Mas, me pareceu que ela não se importou ou se lembrou daquilo, nem eu mesma lembrava. Eu, com minha inocência, achei que fosse uma festa de aniversário 'normal', nada de bebidas extremamente fortes ou farras, isso não combinava muito com a Julie. Mas eu me enganei, e como...
Na verdade eu mal a conhecia.
Sobre a festa, eu apenas me lembrava quando ela disse que beijou o Matt e algumas coisas antes. A bebida tinha apagado minha memória.
Mas eu, naquele momento, evitava forçar minha mente em pensar em qualquer coisa. Isso diminuía a enxaqueca.
— Eu guardei sua bolsa dentro do meu closet.
— Obrigada. – sorri. – Eu fiz algo humilhante ontem? – perguntei, lembrando-me de alguns filmes e livros que os personagens bebiam diziam ou faziam coisas sem pensar.
Ela pareceu pensativa por um tempo, o que me causou agonia.
— Só me lembro da parte em que você empurrou um garoto que estava dançando bêbado em cima da mesa e falou pra ele parar porque estava ridículo e que as garotas não queriam ver a barriga dele balançando. – ela riu.
Cobri meu rosto e fiz uma nota mental: nunca mais por bebida na boca.
— Aí o garoto sentou no chão e começou a chorar. – me encarou. – Mas você fez uma cara fofa, pediu desculpas e acariciou o cabelo dele. – ela sorriu.
Mesmo todos estando bêbados no dia anterior, continuava sendo vergonhoso para mim. Desejei que meus pais não ficassem sabendo daquilo e que todos na escola não lembrassem.
— Que horas são?
Perguntei após um tempo de silêncio no quarto. O cansaço não tinha me permitido reparar no mesmo, apenas algumas cores e alguns móveis.
— Deve ser uma e meia. – arregalei meus olhos e ela ficou confusa. – Por quê?
— Estou atrasada! – cambaleei até a porta do banheiro.
— Espere. – virei-me, ela correu até seu closet e mexeu em algumas roupas. – Você está com a mesma roupa de ontem e com cheiro de bebida. – entregou-me uma peça de roupa. – É melhor você tomar banho aqui, mesmo sua casa não sendo tão longe.
Agradeci, logo entrei no banheiro. A última coisa que eu queria era desapontar a Tia Suzie mas acabei fazendo isso, esquecendo do meu compromisso. Julie havia me emprestado sua roupa; uma blusa cor azul claro e decotada, e um short branco. Além disso, ela me emprestou um tênis.
Após avisa-la sobre minha saída, fui rumo a casa da tia Suzie. Toquei a campainha algumas vezes e estranhei, a casa estava silenciosa e com certeza ela não levou sua filha para o trabalho. Resolvi dar meia volta, mas tive que voltar, a porta foi aberta.
— Finalmente. – a pequena bufou e deixou-me entrar. – Acho mamãe está blava com você.
— Eu esperava por isso. – suspirei fundo.
A vi jogar-se no sofá, com seus olhinhos castanhos vidrados na Tv, onde passava um desenho esquisito.
— Que desenho estranho é esse? – decidi quebrar o silêncio.
— Maçã e cebola. – ela respondeu, parecendo animada. – É um desenho muito legal.
— E estranho... – murmurei. – Você já comeu alguma coisa?
— Sim. – ela mal piscava enquanto fitava a Tv. – O Matt ligou para uma pizzaria. Vamos brincar?
— Acho que tudo bem.
Enquanto desliguei a Tv, ela correu para o seu quarto e voltou com duas bonecas. De tanto insistir, acabamos brincando de boneca no quintal mas, após um tempo, voltamos para a sala novamente. O sol quente me incomodou bastante, mas algo me fez querer ficar do lado dela e aproveitar cada segundo. Estranhamente a garota estava comportada aquele dia, sempre falando ou coisas fazendo coisas agradáveis em vez de discutir comigo ou se sujar toda.
—Você quer comer alguma coisa? – perguntou.
Ela sempre foi uma criança levada, inocente e energética, como as outras, porém algo a diferenciava dos demais. As vezes, mesmo sendo que raramente, ela dava conselhos ou agia como se tivesse mais experiência na vida.
— Não, obrigada.
Ela já tomava seu café da tarde e tudo o que eu comia não ficava no estômago. Me recusei ir ao médico, sempre odiei aquele lugar.
— Conta uma histórinha pra mim?
— Claro. – ela sorriu, pegou um livro jogado sobre o sofá e me entregou. Era a história da Branca de Neve. – Era uma vez...
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No meio da história, consegui convence-la a tomar um banho rápido e depois continuei a leitura. Comparando com os dias anteriores, passamos o dia juntas e isso foi ótimo.
Fizemos massinha caseira, desenhamos, assistimos Tv e brincamos de pique-pega uma vez que a minha enxaqueca melhorou. Para minha surpresa, ela não hesitou ou reclamou quando disse que iríamos ter que limpar a cozinha para retirar as massinhas grudadas.
— Você é muito legal. – ela sorriu.
Estávamos sentadas na grama aproveitando a sombra de uma árvore.
— Obrigada. –eu sorri, um tanto surpresa pelo seu comentário de repente. – Você também é.
— Todos dizem isso, mesmo sem me conhecer de vedade. Tsc. –estalou a língua. – Eles devem fala isso pa qualque criança que veem na frente.
O que aconteceu com ela de repente? Essa era a pergunta que mais ocupava minha mente desde que cheguei na casa.
— Como assim?
— Enfim, vamos blincar mais um pouco?
E novamente ela mudou de assunto, era o que mais acontecia naquele mesmo dia. E assim fizemos. Nós brincamos mais um pouco. Foram tantas brincadeiras que ao coloca-la na cama o sono não demoraria para chegar.
Mas aconteceram certos imprevistos.
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My Life (PAUSADA)
Teen FictionEssa é a história da Micaela, uma garota jovem de cabelo rosa. Uma família amorosa, um melhor amigo incrível e um amor grande pela leitura. Mas, de repente, coisas estranhas começam a acontecer. Tudo começou com um simples beijo em seu melhor amigo...