Aviso: Este capítulo contém conteúdo pesado. Se for sensível, não leia.
15 anos antes
Adrien andava a passos lentos pelos corredores escuros e assustadoramente silenciosos de sua casa, estremecendo com o contato de seus pés quentes com o piso de mármore gélido do corredor, esfregando os próprios braços, descobertos pela manga curta da camiseta do pijama, em uma falha tentativa de se aquecer em meio ao frio da madrugada, suspirando ao ver que aquilo mal surtia efeito.
O garoto sentiu uma pitada de medo apertar seu coração, um arrepio subindo por sua coluna enquanto apertava a vista, tentando enxergar melhor na escuridão de sua casa, olhando para trás constantemente por pura paranoia e apenas enxergando o breu atrás de si.
As vezes, o jovem desejava que sua visão fosse como a de um gato, não apenas noturna, mas única. Sua mãe costumava lhe dizer que gatos enxergavam o mundo de uma forma diferente dos humanos, como se a peneira que filtrasse a visão das pessoas simplesmente não existisse para os felinos, seres envoltos em mistério e romantismo. Ele gostava de acreditar que aquilo era verdade, pois era um amante de histórias e mitologia, mesmo que fossem contados por alguém como sua mãe.
Adrien apertou os lábios um contra o outro, os deixando em uma linha fina e séria ao ver o vão da porta iluminado pela luz amarelada do quarto de seus pais — agora apenas de seu pai —, se aproximando dali. Ao tocar na maçaneta redonda, o garoto sentiu um choque gelado ultrapassar sua pele e queimar por suas veias como fogo, afastando os dedos do lugar rapidamente, hesitando sobre tomar sua próxima ação. A casa já era silenciosa em seu natural, mas naquele momento, o silêncio e o frio pareciam tocá-lo com mãos frias e invisíveis, eriçando os pelos de seus braços e nuca, os olhos verdes arregalados enquanto tentavam não piscar, encarando a maçaneta dourada como ouro com hesitação. Adrien tentava se convencer de que sentir medo do escuro era uma simples bobagem infantil, mas seu coração palpitante e mãos trêmulas lhe diziam o contrário. Ainda era um covarde no fim de tudo, pensou ele. O garoto mal imaginava que futuramente passaria a amar a escuridão, e talvez ser parte dela.
Porém, esse mesmo medo o movia, esticando a mão novamente para tocar na maçaneta da porta, girando-a até ouvir o clique característico de abertura, indicando que, para sua surpresa a mesma já estava aberta, pois recentemente vivia trancada. Seus olhos já acostumados com a escuridão semicerraram-se com a repentina claridade vinda da porta, soltando a mão da maçaneta e a pondo no bolso da calça de moletom, empurrando a porta minimamente para espiar por seu vão.
O pai de Adrien possuía um senso estético singular, decorando sua casa com tons de preto e branco, principalmente seu quarto, a cama de dósseis da mesma cor centralizada em meio ao lugar, enormes vidraças polidamente limpas abertas, o vento noturno entrando por ali, fazendo Adrien se arrepiar, observando ao redor e vendo diversos papéis jogados no chão. Alguns vasos com crisântemos brancos* enfeitavam o quarto aqui e ali, contudo, quem não conhecesse a linguagem das flores* apenas veria belas flores harmoniosamente distribuídas em vasos de porcelana chinesa e não saberia de seu significado, Adrien sentindo o coração apertar ao se dar conta do motivo, abrindo mais a porta e entrando de vez no quarto, tentando ignorar aquela sensação ruim.
O garoto se aproximou dos papéis no chão, se agachando ao lado dos mesmos e os observando, vendo as cores vibrantes de croquis de moda datados de mil novecentos e oitenta e quatro saltarem dos papéis já amarelados e amassados com o tempo, estreitando os olhos. Há dias seu pai não saía do quarto, e aquilo o preocupava muito mais do que gostaria. Nem quando Adrien esmurrava a porta ou ameaçava arrombá-la Gabriel a abria, deixando o garoto ainda mais irritado e angustiado. Adrien ainda não havia se acostumado com a ausência de sua mãe em casa, que havia apenas se tornado um lugar frio e cheio de solitude sem sua voz e cantorias pelas manhãs frias de outono enquanto fazia o café da manhã para ele.
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Criminal
FanfictionFurtos e roubos, invasão de propriedade privada, falsificação e assalto à mão armada são alguns dos crimes que fazem parte do extraodinário currículo de Chat Noir, um fabuloso e profissional criminoso - atualmente preso. Medalhas e inúmeras honraria...