Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...
Sun Tzu
***
15 minutos e quarenta e quatro segundos antes
— Então, este é o acordo. O senhor concorda, Mestre?
Fu encarou a mulher sentada no chão a sua frente com olhos analíticos. O vestido de seda vermelha que ela usava contrastava com sua pele pálida como um banho de sangue em um cadáver ainda fresco, pensou ele, o decote solto realçando os ossos delicados na magreza de seu busto. Ele subiu o olhar para seus olhos, azuis como um céu crepuscular, frios como um iceberg. Suas feições finas e arqueadas lhe davam um ar de malícia, o olhar impossível de se ler, mas não para ele, que detectava uma mínima centelha de medo em meio a calmaria fingida.
Havia também o homem sentado ao lado da mulher, que usava um terno impecavelmente cortado e passado, as mãos nos bolsos e a postura curvada. Aquele homem era completamente transparente, assim como um lago: se olhasse de longe, logo poderia se perceber que ele estava entediado por estar ali e queria sair logo, apesar de seus interesses também estarem envolvidos. Mas aquele lago estava lentamente se maculando.
— Sabe, — disse o velho homem asiático após o que pareceu uma longa pausa, apesar de apenas segundos terem se passado. O sotaque suave em sua voz quase passava despercebido por Plagg, que observava a tudo com um interesse cínico. — seus olhos não são como os dela, apesar de vocês serem quase idênticas.
A mulher piscou, ligeiramente perplexa.
— Pardon?
— Seus olhos, minha querida. São escuros e maculados pela morte; os dela são claros e quase obcecados pela justiça. — declarou falsamente enigmático, o canto da boca se curvando para cima em um sorriso serpentino. — Você sabe que, se quisesse realmente ser ela, não estaria apenas usando uma peruca com a cor da noite em seus cabelos, certo? Ainda não existe uma cópia que conseguiu ser como o produto original.
Tikki corou. Plagg revirou os olhos.
— Eu apenas estou fazendo o meu trabalho senhor. Peço-lhe perdão se isso o ofende. — baixou a cabeça respeitosamente, Fu sorrindo e dando tapinhas em sua perna como numa espécie de tique.
— Ah, de maneira alguma isso me ofenderia. Contudo, me ofende que seu chefe não tenha vindo falar comigo pessoalmente. — pausou. Tikki estremeceu, e sentiu os pelos dos braços nus se arrepiarem. Aquele era um mal sinal. — Eu não mordo, sabia?
Aquilo era mentira. Fu atacaria imediatamente se sequer cogitasse que o chefe de Tikki e Plagg estava o ofendendo, e não hesitaria em acabar com tudo que eles tivessem. Os olhos castanhos e amendoados do homem se fecharam ao alargar o sorriso, os poucos fios de cabelos grisalhos em sua cabeça brilhando com gel. Plagg se sentiu como um animal acuado no escritório particular do homem, as paredes bege enfeitadas com alguns quadros de pintores orientais o enclausurando como as barras de uma cela. O detetive de fios negros olhou rapidamente para Fu, sentado em posição seiza* em uma almofada enquanto bebia uma xícara de chá, o cheiro das ervas da bebida se misturando com o aroma do incenso queimando na sala, tentando controlar um espirro. Plagg tinha alergia a cheiros fortes — exceto por seu amado camembert — , especialmente aqueles.
— Nosso chefe lhe pediu imensas desculpas por não poder comparecer neste encontro, Mestre. — respondeu Tikki formalmente, afundando as unhas nas palmas das mãos para afastar o nervosismo. — Ele teve contratempos antes de poder vir, por isso o viemos representar.
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Criminal
FanficFurtos e roubos, invasão de propriedade privada, falsificação e assalto à mão armada são alguns dos crimes que fazem parte do extraodinário currículo de Chat Noir, um fabuloso e profissional criminoso - atualmente preso. Medalhas e inúmeras honraria...