Capítulo 1 - Os Orcs

33 1 0
                                    


Nossa missão era explorar, ser olhos e ouvidos de Númenor na costa de toda Terra Média.

Navegávamos para lá das terras do norte, onde os dragões ainda viviam e onde sempre nevava. Para o sul do grande deserto, onde o mundo não parece ter fim e outras línguas são faladas. Com o tempo nessas viagens, aprendi meu verdadeiro ofício, algo que posso afirmar com orgulho: eu era especialista. Sorrateiro e furtivo, conseguia andar na floresta quase como um elfo, subia montanhas sem derrubar uma única pedra e cruzava lagos e rios mal movimentando  a água, quase como uma leve brisa.

Os desembarques rotineiros em terra nos levavam a vários lugares desertos, às vezes cobertos de neve, outras vezes campos, também florestas e solos áridos. Muitas vezes, perigos nos espreitavam, mas raramente havia contato violento, geralmente ocorrendo com selvagens. Em outras ocasiões, pessoas em vilas fugiam diante de nossa presença, mas outras nos esperavam e éramos bem recebidos, tornando-se portos e cidades pequenas costeiras onde os ensinamentos de Númenor permaneciam e o comércio fluía em barcos cheios de peles, ferro, bronze, estanho, ervas e especiarias diferentes de região para região.

A rotina se tornava o exercício diário para nossa tripulação até que, numa manhã, mesmo sem sabermos, a sombra havia alcançado a costa do mar.

Na madrugada, essa manhã se aproximava cinzenta, e um vento a favor conduzia o navio quase deslizando sobre as águas escuras do mar. Foi como se Ulmo nos permitisse dormir um pouco mais antes de vestir nosso equipamento. Alguns afiavam espadas, outros rezavam, enquanto outros, com a rotina os dominando, iam de um lado para o outro procurando detalhes para arrumar. Nosso navio era grande, feito para longas viagens, e a tripulação era composta por mais de cinquenta homens e mulheres. Seguíamos em direção à ponta de uma floresta na costa, próxima às montanhas brancas. Na Baía de Belfalas, havia uma cidade pequena, um vilarejo, cujo povo vivia do comércio. Mesmo sendo o nosso navio de guerra, reservávamos parte do espaço para o comércio e sustento próprio. Assim, a cidade, mais parecida com um vilarejo costeiro, se tornava um posto de reabastecimento.

Assim, era cedo da manhã quando remávamos o pequeno barco de desembarque descido do navio. À nossa frente, ainda que distante e dourado contra o cinza, víamos luzes fracas de tochas acesas. No entanto, a neblina bloqueava boa parte da costa, e apenas nos dirigimos para o porto, avistando apenas um pequeno desembarcadouro de madeira que se estendia na água vindo do meio da neblina.

Como de praxe, um grupo de reconhecimento sempre ia à frente primeiro; éramos sete: eu, Aldamir, Lúndil, Hirion, Erendor, Ciryandil e Míriel, nossa tenente que guiava o barco enquanto remávamos. Mesmo em reconhecimento, nos lugares conhecidos, usávamos todo uniforme. Todos vestiam camisas e calças de lã. No peito, havia couro fervido, que, por sua vez, encontrava-se sob uma placa peitoral com entalhes prateados e dourados. Da cintura ao joelho, usávamos uma saia de escamas de ferro, ordenadas em dourado e prata, com uma proteção extra de outras placas de ferro por cima, apertadas pelo cinto da espada. Nas pernas, haviam placas até os sapatos de couro com ferro, assim como nos braços. Os ombros eram cobertos por duas capas: uma de escamas de aço e nela se prendia a capa azul de lã. Nosso elmo, com uma aba pontiaguda, protegia quase toda cabeça e na parte frontal havia uma abertura que poderia ser aberta ou fechada. Não usávamos cota de malha, o que permitia uma movimentação mais livre e leve.

O clima era frio, mas estávamos animados. Sempre era bom descer em terra. Nosso grupo era unido, assim como os outros do navio, conhecendo-se desde o recrutamento. Isso significava que estaríamos sempre ao lado um do outro em qualquer escaramuça ou futuras batalhas como ficará sabendo mais a frente.

- Senhores se segurem, não queremos que nenhum de vocês afunde com essas placas valiosas... - dizia Hirion

- Silêncio! - Disse Míriel, sem gritar. - Há algo de errado a frente.

A Guerras de EriadorWhere stories live. Discover now