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Eu consegui dormir mas muito mal estava indisposta para dançar, para tudo, o sonho com minha mãe havia mexido comigo senti pela primeira vez uma saudade e deus como doía, naquele dia finalmente eu estava sentindo a dor da perda da minha mãe, saber que nunca mais iria vê-la, nunca mais ela vai fazer seu pão ou sair para pegar água no poço comigo, eu vi ela sendo morta bem diante dos meus olhos e eu não pude fazer nada, aquele dia jamais iria sair da minha memória, eu acho que quando uma pessoa sofre um mudança muito grande a própria mente se defende por isso eu estava vivendo todos esses dias como se nada tivesse acontecido mas agora caiu a minha fixa e comecei a ter uma avalanche de sentimentos como as meninas que vieram comigo.
Era uma escrava, feita prisioneira mas meu cativeiro é bonito e confortável creio que isso tenha amortecido o meu emocional e minha mente mas o que haviam feito a mim, minha família e as pessoas que eu conhecia era irreparável, fomos varridos da nossa terra sem nenhuma explicação não tiveram piedade, clemência.. e agora eu tinha que servir a esse povo totalmente submissa, a revolta começou a percorrer o meu sangue mas o que mais me confunde é como eu me sinto aqui porque é como se algo nesse lugar falasse comigo de uma forma a qual eu não consigo explicar.

Fechei os olhos, respirei fundo e disse a mim mesma: não, você não pode explodir aqui você não pode mudar o que aconteceu o que importa é como vai ser daqui para frente, finalizei contando até dez e voltei ao normal coloquei um vestido de tecido esverdeado traçado no pescoço que combinou perfeitamente com o meu cabelo, não usava jóias como as outras mulheres, nunca fui de ter coisas penduradas em mim sempre gostei de estar leve e livre coisa que agora eu buscava através das minhas coisas porque liberdade era algo que eu não tinha mais. Me olhei no espelho que havia no meu quarto e uma coisa que reparei é em como eu havia ficado mais bonita em como a riqueza aos poucos se apodera de nós, eu nunca vou ser uma meretriz nariz empinado, disse a mim mesma.
Coloquei uma rasteirinha de couro marrom e segui para o salão surpreendentemente melhor do que acordei afinal eu tinha que jogar, porém não vi ninguém no salão só as servas e perguntei onde tinham ido:

— Com licença, poderia me informar onde foram todos ?

— A senhora Raia está fazendo compras na rua do mercado e as outras estão no jardim principal, se quiser coloco uma refeição para a senhora.

— Sim, por favor.

Foi estranho estar sozinha naquele salão enorme mas dei graças por isso, mesmo eu tendo entrado bem no salão eu ainda estava comovida pelo meu sonho e estava digerindo a explosão que quase tive hoje de manhã então foi bom estar sozinha foi como estar em uma caixa fechada e por um milagre conseguir um pouco de ar, a serva veio a mesa me trouxe uma bandeja com pão, frutas, e um suco, comi sem pressa e sem me preocupar com os olhares e as exigências de Raia, não que eu não gostasse dela mas naquele momento eu poderia ser eu mesma porque viver aqui é como querer montar uma casa num campo minado há guardas te vigiando e te cercado vinte e quatro horas por dia, competição entre as mulheres, disputas, brigas, e cada uma delas parece que está esperando que você caia para te chutar para fora do jogo a disputa para ficar aqui é acirrada, eu lamentava pela minha "morte" mas sabia que se eu quisesse sobreviver aqui não poderia mais ser a pessoa que eu era.
Por causa disso eu vivia em conflito interno,  pensando e conversando comigo mesma porque além de Isadora eu não tinha mais ninguém, as meninas que vieram comigo mudaram do açúcar para o mais puro e grosso sal e me viraram a cara depois que eu comecei a me sobressair, não sabia se era inveja ou revolta por eu estar me dando tão bem em uma terra de estranhos mas evitava responder esse tipo de pergunta apesar de tudo não queria ficar contra aquelas que vieram comigo e que sofreram tanto quanto eu, fiquei reparando em toda a decoração, era rústico e suntuoso, havia uma parede de pedra com folhas, plantas, tudo feito nos mínimos detalhes para abrigar um bando de mulheres vaidosas, fiz a conta éramos ao todo cento e cinquenta mulheres aí que me dei conta do tamanho do trabalho que Raia tinha, comandar um arem era a mesma coisa que comandar um território ou uma guerra e mulheres são mais difíceis de lidar do que os homens, mulheres são seres dramáticos, emocionais, emotivos, sensíveis, homens são racionais e práticos deve ser por isso que todas as sete províncias são comandadas por homens poucas mulheres são como Raia se Uruk fosse comandado por mulheres provavelmente nem existiria mais, pensei rindo, pelo tempo que estou aqui percebi que Raia tenta deixar tudo nos conformes e até consegue mas é complicado.
A serva veio recolher minha bandeja, me levantei e estava indo até o jardim principal não queria que notassem minha ausência então encontrei Raia no meio do caminho acompanhada de alguns soldados eles carregavam alguns sacos consigo mas mesmo assim me ofereci para ajudar compensando o fato de que havia acordado tarde mais uma vez.

Força E Fogo São de NósOnde histórias criam vida. Descubra agora