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Não conheço mais o caminho que o senhor está me levando, ficamos horas dentro do carro, e já estou tão cansada que acabo dormindo, deitada no banco do carro, que está cada vez mais rápido.
Já passam das três horas da manhã, quanto sinto o carro parar. Desperto imediatamente e com o medo de abrir os meus olhos, não faço ideia da onde estou. Há árvores e uma grande casa branca. Um homem abre a porta, e segura minha mão, para que eu possa sair do carro. Obedeço o seu comando e saio, fico parada ao lado do automóvel, quando ouço a voz me mandando entrar na casa, obedeça rapidamente...
Ando devagar e subo às escadas que levam até a uma grande porta de madeira. Quando, me aproximo a porta se abre e vejo do outro lado, uma senhora de cabelos enrolados, lábios carnudos e com um olhar assustado e com sono.
O velho, a manda me mostrar o meu quarto. Ela obedece e me guia. Atravessamos uma grande sala e subimos dois andares das escadas. Ela me entrega tudo que eu preciso.

- Você deve estar com fome! Vou pegar algo para você comer.

Ela some entre às portas do grande corredor, que é iluminado por apenas duas lâmpadas. Fecho a porta do quarto e me viro para olha - lo , pela primeira vez.
Às paredes são brancas, o teto é de gesso e com alguns detalhes que o fazem se tornar um lindo quatro clássico. Ele é grande, onde no canto do lado da grande janela, há uma cama de casal. O jogo de cama é vermelho e com flores lindas. Um grande tapete está no centro de quarto, já uma mesa e uma pentiadeira. Criado mudo, lustre grande no centro, alguns quadros e uma TV. Há também duas portas. Uma é um banheiro e o outro é uma espécie de armário. Tudo muito organizado e limpo, tudo muito diferente da onde eu passei a minha vida toda. Sento em um sofá e continuo a olhar tudo, e só não consigo entender o porquê estou aqui!
Alguém bate na porta... Eu abro e vejo que é a senhora,  segurando uma tábua e colocar várias coisas encima. Café, leite, pães e queijo. E também uma maçã.
Ela entra e coloca encima da mesa...

-Obrigada!  - Digo sorrindo.

-Por nada! - Ela retribui e sai. Fechando a porta atrás de si.

Tranco com a chave e sento na cadeira, onde há a mesa. Coloco no copo o café e depois do leite. Coloco duas colheres de açúcar e mexo. Bebo um pouco, e realmente está muito bom e eu estou com muita fome. Depois, como dois pães com queijo dentro. Tudo está delicioso.
Vou até o banheiro e escovo meus dentes, e deito na cama. Mas não consigo dormir, só consigo pensar no que está visível. Meu pai me vendeu para o senhor. Para o bancário da nossa pequena cidade! Eu estou com uma mistura de medo, de ansiedade, de raiva. Ele me vendeu, como uma propriedade!  Eu quero esquecer que ele existe. O que será que o velho vai fazer comigo? Vou virar escreva?  Será que ele vai me vender? Em meio a tantos pensamos, acabo dormido. Em um sono pesado e tranquilo. Quando me deparo com o mesmo pesadelo de sempre.

***

Desde que eu me entendo por gente, como minha mãe sempre falava,  ( risos ) , eu sonho com a mesma coisa. Eu estou no terreiro de casa, brincando. Quando entre às árvores surge algo e me toca. Me machuca. Eu grito! Mas ele tampa a minha boca e acabo apagando. Eu não consigo ver quem é, só sei que é muito forte. Fico muito dolorida e chorosa. E sempre acordo nessa parte. Ele fala algo mas, eu nunca entendo o que é. E acordo assustado e suada, como todos os dias ou quase todos os dias...
Abro os meus olhos e vejo o quarto que estou. Alguém bate na porta, eu me levanto e vou até lá. Abro, e a senhora...

-Bom dia! A senhor lhe chama na cozinha, para tomar o café da manhã com eles. Você vai ver um guarda roupa grande do lado do banheiro,  lá é tudo seu. Pode escolher qualquer coisa.

-Está bem. Eu vou me arrumar e vou.

-Não demore!  Ele não gosta de esperar. - Diz ela e se vira e volta para os seus afazeres.

Tomo um banho rápido e escolho a roupa. Coloco um sapato e vou para cozinha, demoro um pouco para acha - lá.

-Aí está ela! - diz o velho.

Eu paro na porta, há muita coisa na mesa e tem o velho, uma senhora que deve ser a sua esposa, uma senhora ainda mais velha, uma menina que é mais velha que eu e dois garotos... Os dois mais velhos que eu.

-Sente - se! - Diz a velha.

Um dos meninos se levanta e puxa a cadeira para eu me sentar. Agradeço e ele depois se senta, estamos um do lado do outro. A garotinha não para de me olhar, e acabo não fazendo nada. Olho para os meus dedos, e os aperto um no outro. Eles começam a tomar o seu café da manhã. A senhora é rude comigo e como com medo, pois ela gritou comigo.
Depois, saio da mesa e a menina vem até mim.

-Oi! Como você se chama? - pergunta ela.

-Pérola! E você?

-Anne. Você tem quantos anos?

-15 e você?

-Eu tenho 15 também! Aquele é meu irmão o Davi, ele tem 20 anos  e aquele é o Márcio, ele tem 18 anos.

-Aquele senhor é o seu pai?

-É, ele se chama Isac.  E aquela é minha mãe, a Sônia. E ela é minha avó, dona Ruth.

-uhm ...

O velho me chama, e o sigo. Vamos até uma sala com livros e uma mesa com quatro cadeiras. Logo em seguida entra a sua esposa.

-Pérola! O seu pai pegou vários empréstimos comigo, para pagar o tratamento da sua mãe. Ele disse que se caso ele não pagasse eu poderia te ter como posse. E foi isso que aconteceu.

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