SAÍDA PACÍFICA

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Após um quinto de üoя em pé diante do pai, que por seu turno assinava um monte de papéis sobre a mesa, ignorando a presença do filho, dos quatro soldados, de um homem de colete e sobretudo branco com vários recamos dourados, e até, a presença do reverendo Samys.

O magistrado faz um sinal com a mão para o homem de branco, e este se aproxima do prisioneiro trazendo uma valise que ninguém havia notado até então.

De frente para o prisioneiro, ele coloca a valise no chão e leva dois dedos a uma artéria específica no pescoço do prisioneiro. 'Um médico', deduz Campy.

Depois de um tempo ele retira os dedos do pescoço de Campy, pega a valise no chão, abre e rapidamente dá uma alfinetada no ombro do prisioneiro. Pelo ombro dele desce sangue escuro e viçoso, cheiro podre, os soldados tapam o nariz. O médico tapa o nariz e a boca com um lenço, vira-se para o magistrado assentindo com a cabeça para ele, e volta para o seu canto.

O magistrado pega um pergaminho sobre a mesa, abre e começa a ler por alto a lista de regras do prisioneiro:

- Não brigar... Não falar palavras torpes... Regra vinte e cinco – Ele olha para o prisioneiro e esfrega os olhos, volta para o pergaminho lendo pausadamente – Não mentir. – E volta a fitar o filho – Vai realmente salvar sua família?

Ele não se incluía nessa família.

- Sim senhor.

O soldado ao lado se apronta para socar o prisioneiro; tratamento errado para com o magistrado, era excelência, não senhor. O magistrado faz um aceno para o soldado, subtendendo um 'Não bata nele', o soldado obedeceu.

- Se eu te desse uma maldita lista, será que você teria sido um bom menino?

Ele não falava mais como magistrado, e sim, como pai, Neяïs.

- RESPONDA!

Noutros tempos, isso seria o início de uma bela discussão. 'Morto pelo próprio pai' recorda Campy. Aquilo lhe dava calafrios, jamais faria uma coisa daquelas.

- Desculpa pai.

- Desculpa – Repete Neяïs segurando uma risada – VOCÊ VEM ME PEDIR DESCULPAS DEPOIS DE MORTO? É ISSO?!

- Excelência – Se infiltra o reverendo Samys – Se me permite – aproximando-se de Neяïs – Creio que o viajante, já o pune com a morte. Não há esperanças para ele mesmo que consiga salvar sua companheira.

O médico também se aproxima tentando acalmar o magistrado.

- Com todo o respeito excelência. Cientificamente falando, ele nem está vivo.

- O que presenciamos hoje é um momento histórico. – Continua Samys - Depois de muito tempo sobre incertas especulações sobre os Züяs, presenciamos um momento histórico. A volta daquele que criou os Züяs, a volta do viajante. – Gesticulou com a cabeça para Campy – Se o viajante realmente fez isso com ele, não sabemos quanto tempo o corpo dele aguentará dessa forma. Quanto mais cedo o liberarmos, mais chances ele terá de... encontrar sua companheira ainda viva.

Neяïs examina o filho demoradamente, pega o pergaminho, vai até o filho e entrega a ele.

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Campy despede-se dos companheiros, menos de Kanty, mas logo retorna para cumprimenta-lo ao lembrar de Johua ter lido a ele certa vez:

"19 – NÃO GUARDE RANCOR DOS OUTROS, PERDOE-OS."

Helys ainda cochichara algo para Campy, que ele entendeu como 'me espere antes no navio', ou algo do tipo.

Neяïs deixara pago para o filho um navio de guerra monstruoso artisticamente pintado e ornamentado de vermelho, dourado e preto; as cores oficiais de Teяïs. Dois castelos tão altos que o leme ficava na proa, diferentemente das outras embarcações de ETAЯ. Também tinha quatro mastros e sessenta canhões. Um verdadeiro mastodôntico de madeira marítimo, capaz de afundar uma ilha, segundo alguns marinheiros.

O Retorno do ViajanteOnde histórias criam vida. Descubra agora