MORTO PELO PRÓPRIO FILHO

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ESCRITOS SAGRADOS

Sem Züяs em ETAЯ

"Teя presenteia Aü com um de seus belos frutos terrestres. Яüll brinda-a também com uma de suas nuvens.

Aü os ama, Aü se entristece. Não sabiam o que se passava em seu coração.

Aü se esconde no fundo do oceano.

Os dois Züяs se enfrentam. Яüll destrói Teя.

Яüll vai embora."

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Poucos são os que chamariam aquilo de navio agora.

No lugar do primeiro mastro, ficara um grande buraco, o castelo de proa estava pela metade, o casco da embarcação estava rasgada nos dois flancos; o navio estava todo arregaçado, que só estava em cima da água ainda, graças a parte debaixo do casco que ainda estava intacta.

Enquanto Helys ajudava os outros nos seus afazeres, Campy se encontrava deitado na enfermaria, no casco do navio, superficialmente é claro, uma vez que a enfermaria não contava mais com a proteção do casco.

- Vinte e seis, vinte e sete... – Contava Lis, uma moça samantra ruiva de olhos castanho-claros, retirando as balas do corpo de Campy com a pinça – Ou era trinta e seis, trinta e sete?

- Não estava no dezessete antes disso? – Estranha Campy, deitado numa cama.

- Até agora pouco – Argui Johua, sentado numa cadeira fechando uma réplica dos escritos sagrados – você estava no oitenta e sete.

- Acho que era cento e sete. - Responde ela – Acho que vou ter que contar as feridas para saber.

Meio difícil avistar uma samantra navegar em ETAЯ, ou pelo menos, em navios de combate.

A moça olha pela terceira vez para Johua, os dois sorriem mesmo sem ver o sorriso do outro por conta do pano amarrado tampando o nariz e a boca de ambos. E toda a vez era assim, sempre que se olhavam, sem motivo algum, sorriam um para o outro.

Nas üoяs vagas, Campy tinha aulas de leitura com Liz, e pela primeira vez, começara a ver algum progresso na leitura. Já estava sabendo até escrever algumas palavras. Liz sabia ler e escrever, o que inevitavelmente a aproximaria de Johua.

O corpo de Campy fedia a defunto, e todos agradeciam pela enfermaria estar parcialmente a céu aberto. Não fosse por isso, ninguém aguentaria o cheiro dele ali dentro.

Mais tarde, Campy, todo emendado, sobe para o convés. Helys o informa que momentos antes estavam sendo perseguidos por alguns navios, mas eles já tinha ido embora.

Uma ave pousara trazendo um bilhete amarrado, provavelmente dos navios que os perseguiam antes. Campy desce e mostra o bilhete a Johua que estava na enfermaria ajudando Lis.

- Parece que seu pai quer ver vê-lo.

- Ele o que?

- Aqui diz que ele – Complementa Liz, lendo o bilhete nas mãos de Johua – está sendo acusado de matar a própria filha, porque ele foi o último a visitá-la quando a encontraram... em estado avançado de decomposição.

- A alguns üors de Samant... – Cochicha Campy para si mesmo – Droga! Eu não vou!

Johua pigarreia alto, vai até uma mesa e pega o familiar pergaminho de um rolo só, abre em algum lugar e lê:

- Regra noventa e dois, a superioridade dos pais, não...

Antes de terminar o que ia dizer, Campy sobe para o convés. Há um bote esperando por ele.

- Seu bote está ali – Aponta Helys.

- Você leu?

Helys ignora.

- Como você vai voltar?

- Não sei. Siga para Samant e proteja Arlïs! – Exclama andado para o bote na amurada.

- Eu vou com você!

Campy empurra Helys.

- NÃO! Você não vai!

- Você vai acabar se matando!

Campy salta para o bote e rebate:

- Mais do que já estou?

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A casa de Neяïs era tão grande que passava por cima do rio. Campy não se cansara nenhum pouco mesmo após percorrer tão grande distância no mar em um bote. E aliás, ele não sentia mais fome, dor, sede.... nada!

Neяïs está de short e uma camisa florida na margem. Ele coloca um balde na grama e senta num tronco deitado. Campy se aproxima da margem para perto do pai, sai do bote e se senta ao lado dele.

Os dois tinham um corpo imponente, exatamente iguais. Campy, a versão maligna do próprio pai. Ele sabia que seu pai não tinha feito aquilo com a irmã, jamais faria isso com ela.

Neяïs nunca foi acusado de nada.

O pai se debruça para pegar sua vara de pesca, e com muito esforço consegue, mas ao se curvar novamente para pegar a isca, acaba derrubando o balde, sua coluna não lhe permitia tanto.

Campy se agacha e ajuda o pai. Ele prende a isca de pesca no anzol, ajeita o balde e volta a sentar ao lado do pai novamente.

Havia uma vara de pescar ao chão, mas ele não sabia se as regras o proibia de matar homens e animais, ou somente homens. Preferia não se arriscar. 'Pensando bem, qual a diferença?', pergunta ele a si mesmo.

Os dois passam um longo tempo sem se falar enquanto o pai não pescava nada. Neяïs quebra o silêncio:

- Estou orgulhoso de você...

E assim, Neяïs, o magistrado, deixa seu último fôlego de vida na face de ETAЯ.

Mortos não choram, mas Campy se emociona por dentro. Ele olha para o lado e encontra a cabeça do seu pai firmemente debruçada, como se tivesse dormido sentado, sem vida; Neяïs morreu ao lado do filho.

Campy se desespera.

Soldados se aproximam e percebendo o Cortados, disparam suas armas nele, mas os tiros não matam mortos.

Ele fica parado em pé enquanto uma fila de soldados atiram nele. De súbito, os soldados caem no chão baleados, e antes de Campy se virar, dois homens o puxam para um bote que de proto, remava para um navio.

- Helys seu desgraçado, eu lhe disse para ir para Samant!

- Helys? – Questiona Kanty.

Começa a chover.

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As estátuas do cemitério de Teяïs ainda estavam molhadas por conta da chuva que havia passado. Somente Teяïs era o único lugar que enterrava os seus em terra. Mas também somente eram enterrados pessoas importantes, e quem não fosse, seguia-se o costume, no mar.

Após o enterro de Neяïs, as pessoas foram saindo uma a uma. O último deixa uma vela acesa sobre um pratinho, na base da estátua do túmulo de Neяïs.

Na base via-se gravado a letras metálicas:

"NEЯÏS

MAGISTRADO

MORTO PELO PRÓPRIO FILHO"

E embaixo, um garoto termina de escrever a giz, "O CORTADOR".

O garoto sai correndo.

O Retorno do ViajanteOnde histórias criam vida. Descubra agora