LUGAR DESCONHECIDO

545 119 763
                                    

Em meio a neblina sobre as águas de ETAЯ, um navio de alto bordo com três mastros, passa cortando o silêncio marítimo com uma enorme barulheira em seu interior. O brasão militar de Teяïs exibido na vela, se contrapunha aos seus ocupantes. É claro, o navio não era deles, pois, nada lhes pertenciam, a ninguém pertenciam, senhores de terra alguma.

O navio comporta cerca de quarenta homens, todos samantros, mas nem todos nascidos em Samant.

'Essa moda de ultimamente', pensou Campy, que poderíamos traduzir como o capitão, mas entre o samantros, nascidos em Samant, nunca adotaram essas nomenclaturas de hierarquias.

O cortador! Assim que era conhecido pela maior parte de ETAЯ. O homem de trinta e seis invernos estava na popa, próximo ao leme, encostado na amurada do navio quando pareceu avistar algo. Campy saca sua pistola de rodete e atira para o alto, alguém grita. Todos prestam atenção nele.

- Terra à vista! – grita ele.

O gávea que dormia até o momento, despenca de cima do mastaréu, bate na amurada e cai na água com o tiro que levou.

Campy desceu coordenando os samantros, transformando as cantorias em correrias e agitação por todo lado. Ele retira a aliança do noivado praticamente acabado e guarda-a. Arlïs recusara casar-se com ele.

Helys, o substituto de Campy, noutros povos interpretado por imediato, com quanto que aqui, como sabemos, entre os samantros não há hierarquia, somente o respeito.

Helys traz do porão uma garota de dezesseis invernos, envolta em um tecido que lhe cobria até a cabeça, e amarras até os pés, foi carregada por Helys até a amurada. Ninguém sabia quem era a menina, mas cumpririam o serviço para o qual foram contratados.

'Esse é o último serviço que eu faço como samantro!', pensou Campy.

Na amurada, desceram Helys, Campy e a moribunda no bote. Os homens se agitavam na amurada com a visão do lugar que estavam desembarcando, pois, aquilo não constava no mapa. O lugar não passava de um areal em volta de uma coluna artificial que ia até os céus.

Ao desembarcarem na praia, Helys prestou atenção na mão de Campy, apenas a marca da aliança.

Segurou a moribunda que soluçava em lágrimas, e disse:

- Eu posso explodir a cabeça dela se quiser.

Por um momento Campy pensou que estivesse falando de sua ex., mas ao olhar para a garota concluiu:

- Pode deixar!

- Bom... vai ser aqui mesmo?

Havia uma abertura na grande coluna.

- Vamos ali.

Andaram até chegar em uma espécie de caverna na coluna. Arrastando a garota pelos cabelos por dentro do pano, Campy entrou na caverna com sua pistola de rodete em riste. Helys ficou do lado de fora.

Campy estava em completa escuridão. Sentiu um peso escapar do seu braço. Carregava somente trapos, não a garota.

Uma iluminação logo a frente. Alguém nu segurava uma vela, a menina.

Ela começou a andar e ainda confuso, Campy deixou os trapos para trás e a seguiu. Ela virou uma esquina do túnel, desaparecendo. Uma porta abriu-se na escuridão com seu interior iluminado. Campy entrou.

Era uma sala de estar. Haviam mobílias como uma cômoda, dois sofás, uma mesinha no centro com duas taças de ouro polidas, tudo bem instalado. O chão coberto por tapetes, uma lareira que ardia, e um quadro de alguém que sorria. Campy passou pela sala da casa que passara toda sua infância. O quadro da sua mãe, morta há tempos.

O Retorno do ViajanteOnde histórias criam vida. Descubra agora