Lucas Wong
Cada vez que chorei. eu morria um pouco. Então eu chorei, derramei litros de sonhos de um futuro que nunca iria acontecer. Existia algo desolador em desistir sem nem antes provar uma demo. Chorei porquê eu quis tanto e tive tão pouco.
Lembro da primeira vez que falei com ela, eu estava muito nervoso. Parecia perdido no meio de tanta aflição e misturada com o desejo insano de prender a atenção daquela moça linda. Ali, naquela noite fria em um bar chinês, eu soube que ela era o fim da minha guerra com a bandeira do amor querendo a minha paz.
Não irei relatar sobre o nosso amor, irei preservar tudo que fomos enquanto eu estiver aqui. No final de tudo, quando me juntar a ela, os momentos estarão vivos apenas em nossas lembranças. As lembranças de Kimberly, que foi a minha maior eternidade.
O amor pode ser uma droga viciante e a desgraça de um mundo, mas nele pode se esconder a salvação dos universos perdidos nos corações daqueles que acreditam em profecias. Ao menos, era nisso que ela acreditava.
Hoje completam dois anos que Kimberly partiu, mas tudo em mim ainda sangrava ao pensar nela. Nunca imaginei viver algo tão belo ao lado de outra pessoa, e nem mesmo imaginava que a deixarei escorrer por entre meus dedos tão depressa.
Ainda a sinto presente em mim. Fecho os olhos e sinto seu cheiro, consigo ouvir sua voz, sentir seu amor pulsar em minhas veias. Eu sempre serei dela, não importa quanto tempo passe.
Ela sempre vai ser o amor da minha vida, o amor que a morte me roubou. Mas, se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo igual, mesmo sabendo que aquele maldito dia iria chegar.
— Você a honrou, Lucas. - apertou meu ombro, cruzando seu olhar com o meu rapidamente, logo o desviando para o desfiladeiro. — Ela gostaria que você tentasse pelo menos uma vez.
— Acho que você têm razão. - ri fraco, apertando a urna em minhas mãos. Eu não havia conseguido me separar dela antes, não estava pronto. Sentia que devia fazer algo especial por ela. — Charles gostou da ideia, mesmo que não seja ele quem jogue as cinzas.
— Ele sente falta da mãe, gostaria de poder fazer. - suspirou Cameron, enterrando as mãos nos bolsos frontais do jeans. — Mas sabe que a Kim gostaria que você o fizesse.
Eu irei descer a tirolesa, cruzando alguns pontos de Los Angeles, permitindo que o ar carregue as cinzas de Kimberly. Ela amava fazer isso quando nos conhecemos e mudamos para os Estados Unidos, mas eu nunca consegui a acompanhar por ter medo de altura.
Isso era algo que eu amava e odiava nela. Ela era a liberdade, não sentia medo e se arriscava todos os dias. Eu não a deixaria por nada neste mundo, Kim havia me dado uma eternidade dentro dos nosso dias numerados.
— Como ela costumava descer? - perguntei retoricamente, vendo Yuta esconder um sorriso enquanto ajeitava os cabos que sustentariam meu corpo.
— De cabeça, com os braços abertos. Ela dizia que parecia voar, se sentia livre. - afirmou o japonês.
Suspirando, entro no arnês com as mãos tremendo tanto que mal conseguia segurar as laterais. Yuta aperta as tiras em minhas costas e pernas, depois prende a urna nos cabos com a abertura para fora, no intuito que as cinzas se espalhem.
De repente, cogito ceder meu lugar a Cameron, mas era tarde demais. Eu mergulhava em direção ao chão, gritando tão alto que queria cobrir meus ouvidos. Sinto o medo vivendo em mim, enchendo meu peito e garganta.
O vento faz meus olhos arderem, mas eu os forçava a ficarem abertos e, em meio ao meu pânico cego, entendi o porque dela escolher descer de cabeça. Eu abri os braços, estava voando, assim como ela sonhava em fazer.
Consigo sentir o vazio sob mim, e ele se parece com o vazio dentro de mim, como uma boca aberta prestes a me engolir. Percebo, então, que não estou mais me movendo. O que restou das cinzas flutuavam ao vento, como flocos de neve, depois desapareceram.
— Espero que tenha entendido. - proferiu Cam, sorrindo de lado e me desprendendo dos cabos. — Quer dar mais uma volta?
— De jeito nenhum. - cuspi as palavras, arrancando risadas dos dois rapazes.
E eu não queria, talvez nunca mais chegasse perto de uma tirolesa novamente. Mas ali, quando vi o mundo voar por meus olhos, senti uma harmonia estranha. Foi como se tudo estivesse certo, porquê eu estava perto dela, porquê eu voei com ela.
Aquela foi a primeira tarde em que vi o sol se pôr sob minhas retinas e não senti alguma parte de mim ir embora. Eu sentia um pouco de amor, um pouco de paz, um pouco de vida. E acima de tudo isso, eu sentia ela.
Sentia ela, bem ali escorada em uma das paredes de concreto. Seus cabelos castanhos deslizando sobre os braços nus e o sorriso com dentes perfeitamente alinhados, ao nos observar.
Seu olhar se encontrava com o meu, uma brisa inflava meu peito. Ela foi o amor estrela-cruzada da minha vida, sabia e ainda sabe disso.
Eu gostaria que ela tivesse mais dias ao nosso lado. Mas, Kimberly Sophie, meu amor, você não imagina o tamanho da minha gratidão pelo nosso pequeno infinito.— Eu consigo sentir ela aqui. - falou o Nakamoto, sua voz estava chorosa e ele fitava o mesmo lugar que eu. — Ela nunca nos deixou.
— Ela vive. - afirmou Cameron. Seus olhos estavam marejados e ele fechava sua mão em punho. — O nosso amor a deixa viva.
E era verdade. Dias antes de partir, Kimberly prometeu que nem mesmo a morte nos separaria, e ela cumpriu. Seu coração pulsa em mim, Charles, Yuta e Cameron. E sempre vai.
Desde que eu era criança, sempre soube disto; A vida nos danifica, danifica a todos. Não podemos escapar desse dano. Mas, agora, eu estava aprendendo que podemos ser consertados. Consertamos uns aos outros.
Kimberly Sophie Dallas Blanche, que quis tanto voar, se tornou anjo. O nosso mais belo anjo.
Agradecimento
Oi meus leitores, sou muito grata por ter visto tantos de vocês chegarem aqui. Sei que nunca retirei um tempinho para podermos conversar, mas estou sempre respondendo aos comentários de vocês aqui.
Depois de alguns amos de publicada, eu finalmente trouxe um capítulo bônus para vocês. Póstumo, Kimberly; Apenas como um lembrete de quê nunca somos deixados por aqueles que amamos, eles permanecem vivos em nossos corações.
Obrigada por todo apoio a essa Fanfic, obrigada pelos comentários de vocês, obrigada por tudo. Sigo pensando em novas ideias com nossos garotos do NCT, e conto com vocês para verem tudo de pertinho.
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Secrets
Fanfiction"Você não achou que conseguiria fugir do seu passado, achou? Afinal, a caça as mentirosas apenas começou." | Plágio é Crime |