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Quando eu tinha quatorze anos fui convidada a me retirar do Clube de Debutantes de Camarillo. Embora, não fizesse a mínima questão de fazer parte de toda aquela baboseira, minha avó conseguiu ser bastante persuasiva com sua história dramática sobre mamãe ter sonhado a vida inteira com sua quinceanera, mas não pudera ter porque engravidou muito cedo. Tive que pagar o pato, porque, aparentemente, papai faltara as aulas de educação sexual e era incapaz de colocar um preservativo.

O Clube funcionava como uma espécie de preparação de garotas para a vida adulta, mas na prática nos encontrávamos para tomar chá e discutir sobre técnicas eficazes de conquistar homens ricos e bem sucedidos. Às vezes éramos obrigadas a provar vestidos enormes, cheios de tule e ensaiar para o desfile inicial do baile de quinze anos, seguido pela valsa e a temível parte da troca de sapatilhas por salto alto. Preferia ser esmagada por uma jibóia.

Eu me esforçava para ser sútil, escondendo minhas caretas de desgosto atrás de xícaras de porcelana e catálogos de confeitaria para aniversários. As vezes até passava umas boas horas escondida no banheiro, lendo algum livro e fingindo ter tido uma desinteria devido aos biscoitos amanteigados do canapé.

O problema todo é que sutileza nunca foi meu forte, no geral, sempre fui ridiculamente sincera. Falo o que penso sem antes refletir o quanto minhas palavras afetarão outras pessoas, porque veja bem, quando se tem um olhar racional e prático das coisas, você dificilmente acha que uma opinião honesta soará ofensiva.

Para mim a verdade é útil, ela te ajuda a analisar, evoluir e crescer, mas o mundo não consegue enxerga-la dessa forma. Essa mania de pisar em ovos e esboçar emoções contraditórias ao que se passa dentro de você, para não ferir a sensibilidade dos outros, é exaustiva. Não é atoa que tenho uma quantidade considerável de inimigos por metro quadrado.

As líderes das debutantes pregavam a importância da simpatia, bons modos e, sobretudo, elegância. Nada do que se vê em alguém como eu. Obviamente. Uma hora ou outra elas tentavam arruinar meu silêncio e me incluir nos diálogos da programação. Eu nem sempre era uma mera figurante como gostaria.

Certa vez, uma garota chamada Cleo, perguntou o que eu achava de seu vestido amarelo com plumas, comprado em Paris, especialmente para sua quinceanera. Lembro de tê-lo comparado a omelete e pintinhos amarelos. Era exatamente o que parecia, e se ela quisesse estar atraente em seu aniversário, aquela coisa não ajudaria. Ela e suas amigas me fuzilaram estupefatas com meu comentário SINCERO. Eu queria que as pessoas entendessem que sinceridade é uma virtude. Não seria pedir muito, seria?

No entanto, esse não fora o pior momento. Talvez eu tenha dito que ouvi sobre o príncipe de uma delas ter clamídia e tentado explicar quais são os sintomas da doença e citado palavras como pênis, secreção e sexo. A líder me deu uma sermão sobre como moças de família não devem falar sobre esse tipo de coisa em público. Talvez eu tenha reagido mal e perguntado em que século ela vivia.

Depois de mais algumas mancadas, minha avó recebeu uma ligação da vice líder, dizendo que eu não estava em sintonia com as debutantes e deveríamos pensar na festa de dezesseis anos, ao invés da quinceanera. Em outras palavras, eu estava expulsa. Vovó ficou uma semana sem falar comigo, mas acabou cedendo depois de perceber que sua neta, definitivamente, não nacera para isso. Era provável que o Drew estivesse mais apto para seguir os sonhos da mamãe.

O que posso dizer?

Sou uma frustração ambulante.

Essa mania estúpida de não saber mentir bem o bastante para simular situações de emergência, estão me deixando bastante deprimida a medida que me aproximo da sala minúscula da senhora Chey. Eu tinha exatos cinco segundos para inventar algo convincente que pudesse me livrar por hoje da detenção, mas nenhuma ideia soava atrativa, e é provável que ela ria da minha tentativa inútil.

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