2

254 27 11
                                    


Existem coisas que você precisa saber sobre bebedouros, metade das pessoas que costumam usá-los não possuem uma conduta de higiene adequada, isso significa que as chances de haverem milhares de coliformes fecais circulando pela superfície de metal são enormes. Sem contar, com os vírus que são depositados a cada minuto por alguém infectado que espirra por acidente em cima da válvula por onde sai a água.

Desde que o sistema decidiu disponibilizar o mesmo armário escolar, que está posicionado exatamente à um metro de um bebedouro, que por acaso encontra-se ao lado do banheiro masculino, por dois anos consecutivos, eu não consigo simplesmente buscar meus livros sem passar horas imaginando bilhares de micro partículas perigosas movimentando-se sobre aquela estrutura antihigienica. É como assistir a um filme de terror sabendo que isso lhe causará pesadelos por noites incontáveis.

Sinto um embrulho no estômago, se vômitos não fossem tão nojentos meu corpo seria capaz de liberar toda a comida que ingeri durante o final de semana no corredor. Respirei fundo e passei uma quantidade considerável de álcool em gel por toda área exposta da minha pele.

— Obcecada pelo bebedouro outra vez? — Mandy coloca a mão sobre o meu ombro, provocando um formigamento incômodo sob o toque.

— Essas coisas repulsivas deveriam ser proibidas.

— Não vai querer se atrasar para a aula por causa de alguns parasitas.

— Você está certa — forço meus pés a virarem para o lado oposto, onde minha visão não alcança o inferno. — Último ano, foco total em sair desse hospício.

Antes que pudéssemos caminhar em direção a sala de aula, um corpo masculino magricela cai sobre o chão, espirrando gotículas de sangue por todos os lados, inclusive para o meu coturno, que agora possuía uma mancha vermelha enorme. Ouço um garoto gritar distante e percebo que estamos no meio de uma briga. Rush Hughes massageia as mãos cheias de veias sobressaltadas, enquanto deposita um chute certeiro no quadril da vítima. Mandy agarra meu braço assustada e começa a murmurar coisas sem sentido.

— Você é louco? — deixo escapar em um tom de voz desafiador, fazendo todos os olhos se voltarem para mim.

— O que disse? — Rush Hughes me encara surpreso.

— Que merda pensa que está fazendo? — nesse momento eu arranco as mãos de Mandy do meu braço e vou em direção ao peitoral de Rush onde deposito um empurrão falho, capaz de move-lo no máximo dois centímetros.

— Georgia, não faça isso — implora Mandy.

Recuo um passo para trás quando Rush Hughes começa a curvar-se para ficar na minha altura, aproximando nossos narizes. Sua respiração é contida comparada a minha que envia sinais de um possível ataque cardíaco. O Lúcifer parece muito menos inofensivo quando visto de longe, sentir o calor da fúria que emana de seu corpo gigante é intimidador. Congelo quando suas mãos pousam sobre a minha cintura, passo a acreditar na possibilidade de Rush ser burro o suficiente para assassinar alguém em frente a milhares de testemunhas.

— Me dê licença, por favor — com uma facilidade absurda Rush Hughes me ergue no ar e me afasta do garoto estirado no chão. Mandy o observa com os olhos arregalados e eu tento forçar para deixar a confusão transparecer o medo que senti. — Preciso acabar com esse moleque e você está dificultando.

— Vai mata-lo dessa forma — minha repreensão soa como uma pergunta inocente.

Ele sorri debochado.

— Esse merda não merece a paz da escuridão, vou deixá-lo vivo o suficiente para sentir muita dor. — Rush agarra o colarinho da camisa do garoto ruivo, cujo a aparência é familiar mas os hematomas dificultam reconhece-lo. Um outro soco atinge o lado dos lábios que estavam intactos até então.

10 FORMAS DE NÃO AMAR O DIABOOnde histórias criam vida. Descubra agora