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     Ainda me lembro do dia em que Rush Hughes foi transferido para o nosso colégio. Aparentemente, ele havia sido expulso de um internato para garotos em Connecticut por fumar maconha na sala de aula. Não há nada muito consistente sobre sua vida, que possa ser aberta a discussão, exceto pela coleção de infrações. Começou na primeira semana, quando Oliver Scott ameaçou mata-lo por dar em cima de sua namorada. O resultado disso foram dois olhos roxos para Oliver e uma advertência pesada para Rush; menos de um mês depois, Micael Sulivan decidiu — por alguma razão estúpida —, que era capaz de roubar o dinheiro do lanche de Rush. Não funcionou. Rush enfiou sua cabeça ruiva na privada.

         Ele não era, exatamente, o estereótipo de um bad boy perigoso, naquela época. Seus músculos não haviam se desenvolvido, a altura era desproporcional ao tamanho dos braços e ele estava sempre curvado para baixo como um pássaro acoado. Esse foi o motivo dos garotos sentirem-se tentados a provoca-lo. Ele parecia um alvo fácil. Mas, não era. Rush nunca perdeu uma briga. Mesmo quando Erick Jenkins, o quarterback do time de futebol, juntou-se à três amigos para joga-lo da piscina do colégio com as pernas e os braços amarrados; Rush conseguiu nadar e livrar-se das cordas, poucos minutos depois, invadiu o campo de treinamento com as roupas encharcadas e golpeou todos eles com tanta facilidade, que o treinador ficou embasbacado e o convidou para os testes de admissão.

        Violento deixou de ser sua única reputação, quando começou a andar com Noah. Eles estavam o tempo todo tentando chamar a atenção para suas babaquices de delinquentes juvenis. Fogos de artifício no galpão onde ficava a antiga quadra; pichações de símbolos obscenos nos carros dos professores; cigarros nos corredores; teve até uma vez, que ele desceu as calças no meio do refeitório, porque alguém o acusou de ter a síndrome do pênis pequeno. Não posso deixar de citar o caso com a professora substituta de inglês — ela tinha quase quarenta anos, nojento.

      Suas atitudes repulsivas o colocaram em um patamar elevado. Rush Hughes impunha respeito, medo e inveja. Ninguém ousava cruzar seu caminho, ao menos, que quisesse uma passagem para enfermaria. As garotas o cercavam como urubus em torno da carniça. Elas pensam, que de alguma maneira, podem provocar uma revolução em seu coração de pedra e transformá-lo da água para o vinho, como nos livros. São dignas de pena. Essas coisas nunca acontecem na vida real. Ou você tem caráter, ou não tem.  Rush Hughes sempre será essa aberração asquerosa, que consegue fugir das consequências dos próprios atos. Mas, eu estou disposta a por um fim nisso.

    Estaciono meu carro em frente à uma casa extensa no subúrbio da cidade. Não há nada de familiar nessa vizinhança. Os postes são caídos e os paralelepípedos detonados, há lixo por toda parte, as casas parecem cabanas abandonadas, sujas e com as gramas secas. Nós seguimos os garotos até uma festa. Há pessoas nos telhados, bêbados circulando pela grama, um rap estourando nas caixas de som. Inferno é apelido para esse caos eminente.

       — Ainda dá tempo de desistir dessa maluquice, G — murmura Mandy, roendo as pontas da manga de seu sueter floral.

      — Não seja covarde. É só uma festa. Pessoas da nossa idade fazem isso o tempo todo.

    — Vou esperar por você aqui no carro.

    — Tudo bem — dou de ombros. — Ligue para a polícia quando algum bêbado pervertido tentar arrombar a janela do carro e te assediar.

     Mandy abre a porta, dando um longo suspiro derrotado. Essa noite vai ser longa.

     — Só uma prova e vamos embora, ok?

     Balanço a cabeça em afirmativa. Mal posso esperar para descobrir cada detalhe sórdido do esquema sujo do Diabo. Caminhamos rapidamente em direção a parte interna da casa. Cubro minha cabeça com o capuz verde militar da carpa e me abstenho da vontade insana de recolher os copos de plástico e garrafas de cerveja espalhadas pelo chão. Aquele lugar era tão sujo, que chega dói. Quando entramos, uma rajada de fumaça de baseado, cigarros e qualquer outra droga nos atinge. Teremos sorte se conseguirmos respirar. As pessoas estão a um nível máximo de loucura, há garotas seminuas rebolando em cima dos móveis, casais em uma dança pervertida no meio da sala, gritos ensurdecedores partindo de todos os lados.

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⏰ Última atualização: Jan 25, 2019 ⏰

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