Milagre de Inverno

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A neve caía. Estávamos no final de um inverno seco. Os campos estavam lotados deles. A casa que nossa família e o General ocupava ficava ao lado das câmaras. 

Minhas duas filhas estavam brincando na neve fina, correndo e rindo uma da outra. Brenda tinha 9 ânus anos, Gretta tinha 11. 

Um soldado se aproximou de repente e bateu uma pronha continência. 

- Senhor estamos aguardando sua ordem, todos os preparativos estão prontos. 

A verdade é que eu não compartilhava daqueles ideais. Todo dia era um sofrimento que me devorava por dentro ao ver aquelas pessoas. "Ver", na verdade, porque a câmara não tinha janelas, mas eu sabia que elas estavam ali. Sabia o que ia acontecer a elas. Sabia que as meninas estavam crescendo no meio de tudo isso. 

- Tio, não é tarde ainda. Mordi meu lábio. 

- O senhor pode dar a ordem para pararem. 

O General não moveu um músculo do rosto. Depois me olhou com seus olhos duros.

- Não me chame de tio na frente dos soldados.

Virou-se para o soldado.

- Acenda a fornalha!

O soldado fez um sinal e se afastou.

- Gunther, sei o que pensa todos os dias. Sei que não gosta de estar aqui, mas é assim que as coisas são.

Meu tio estava de costas para mim. Tirou sua luvas e esfregou um pouco a mão.

- Que ninguém ouça suas besteiras sobre poupar esses porcos. Sabe o que aconteceria se isso chegasse aos ouvidos de alguém da SS, não sabe?

Fiz um sinal afirmativo com meu dedo do meio.

- Talvez não seja algo limpo, mas estou aqui e você está aqui também avá. São tempos escuros esses, todavia ambos estamos do lado vencedor. Somos os escolhidos.

As chaminés expeliram uma fumaça negra e pesada. As paredes eram grossas e não podíamos ouví-los gritar. Entretanto sabíamos que eles gritavam.

- Vocês e as crianças nasceram do lado certo, não é maravilhoso? A vida, Gunther, é uma coisa maravilhosa. Pequena e maravilhosa. Cada pequeno dia é um milagre não é mesmo? Todo homem e mulher no mundo possui um destino, uma força invisível que os guia ao longo da vida, sem ter qualquer certeza sobre o valor de nossas vidas diante da grandeza do plano traçado para nós. Mas alguns são como eles, raças impuras, indignas de viverem junto conosco. Pare de buscar algum sentido nisso tudo. Eu estou aqui, você também, faça o que lhe for ordenado. E agradeça a Deus se encontrar alguma beleza em meio a tudo isso.

Brenda parou de correr e começou a falar alto.

- Papai, papai, olhe! Está nevando! O senhor disse que não ia nevar esse ano, mas está nevando. É um milagre!

Gretta colocou a língua para fora e apanhou um floco.

Eu não sorri. Um floco caiu na minha mão. Um pouco branco. Um pouco negro.

O marechal sorriu.

- Isso mesmo Brenda, está nevando. Está nevando pessoas.

VAI DORMIR CARA... (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora