Capítulo III

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Hugo, o seu melhor amigo, estava sentado na sua sala à espera que ela acabasse de lavar os dentes. Ele era um pouco mais alto do que ela, tinha pele ligeiramente clara e cabelo preto, curto, e encaracolado, os seus olhos também eram pretos.

- Vamos Liz? – perguntou ele, levantando-se, assim que a viu a descer as escadas.

Tinham saído de casa dela e iniciado a caminhada até à escola. Eram os dois tanto vizinhos como melhores amigos desde que se lembravam, sendo tradição irem os dois juntos para a escola. Apesar de serem os dois muitos diferentes um do outro, eram como irmãos. Foi Hugo que quebrou o silêncio:

- Então... preparada para o novo ano?

- Melhor não podia estar... – respondeu Liz, sarcasticamente.

- Vá lá! Não podes estar assim tão desanimada, quer dizer, mesma turma, mesma escola, não mudou praticamente nada!

- Na verdade até há uma coisa que mudou: o meu vizinho do lado, aquele de cabelo preto, não sei se o conheces, está cada vez mais chato...

- Tu tratas-me tão mal... – Suspirou Hugo, fingindo-se desanimado. Ela olhou para ele e começou-se a rir, despertando um sorriso da parte dele.

Continuaram a caminhar em silêncio. Ela ainda não se tinha decidido se ia contar ou não sobre o seu pesadelo a Hugo. É verdade que ele era o seu melhor amigo, mas e se ele pensasse que ela estava a ficar louca? Achou melhor optar pelo silêncio.

Entretanto começou a chover. Como Liz se tinha esquecido do seu guarda-chuva em casa, chegou-se para o lado para aproveitar o abrigo das varandas das casas e dos prédios. Estava tal maneira embrenhada nos seus pensamentos que nem tinha reparado em Hugo a chamá-la:

- Hey, Liz! – apenas à terceira vez é que ele lhe captou a atenção.

- Hã? – quando ela "acordou", reparou que Hugo estava com um olhar preocupado a mirá-la e debaixo do seu guarda-chuva. – Desculpa Hugo, estava nas nuvens, o que é que disseste?

- Estava-te a dizer para vires aqui ter comigo debaixo do meu chapéu, olha que eu não mordo.

Assim ela foi. Estes dois amigos conheciam-se demasiado bem para que um simples olhar valesse mil palavras. Desde o início que Hugo se tinha apercebido que algo não estava bem, daí ter passado o braço à volta dos ombros de Liz para lhe proporcionar algum conforto. Ela também já se tinha apercebido de que ele estava só a interrogar-se do que lhe tinha acontecido, mas tentava ignorar.

Quando finalmente chegaram à escola, já estava a tocar para a primeira aula da manhã. Antes de entrarem para a sala, ele parou-a ao pé porta e segurou-lhe nos ombros:

- Desembucha lá, tu já sabes que eu não gosto de te ver assim, o que é que se passou? E não me venhas com tretas a dizer que não foi nada porque eu conheço-te demasiado bem para isso.

- Não é nada de especial, eu apenas dormi mal, mais nada.

Ele olhou-a com um ar desconfiado, mas deixou passar. Entraram na sala e sentaram-se ambos na segunda mesa da fila do meio. Tiraram as coisas da mala e começaram a passar as coisas do quadro.

Foi aí que Liz percebeu que algo não batia certo. A turma era a mesma do ano passado com exceção de dois colegas que tinham chumbado. A mesa à sua frente estava vazia. O professor parecia estar à espera de alguma coisa para dar continuação à aula, mas se também era o mesmo e se conheciam todos uns aos outros, o que é que estava em falta?

Mal tinha acabado este pensamento, Liz ouve a porta a bater, depois a abrir-se... 

E vê-a entrar.

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