Capítulo XI

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Ela tinha acabado de sair da casa de banho. Assim que chegou a casa, Liz teve que ir disparada à casa de banho com vontade de vomitar, embora estivesse de barriga vazia, a vontade ainda permanecia. Depois lavou a cara com água fresca para ver se ajudava a ficar com melhor aspeto. Hugo estava na sala sentado à espera dela no sofá, tentando assimilar e arrumar as ideias para lhe contar tudo o que sabia o mais facilmente possível.

Quando ela saiu, ainda estava pálida e a tremer, mas já estava com as maçãs do rosto um bocado mais rosas, embora tenha permanecido em pé à frente do amigo, ainda um pouco inquieta.

- Estás melhor?

- Só quando me contares o que era aquela coisa e o que raio se está a passar!

- Sinceramente, o que o John me contou é pouco, ele deu-me a sua palavra que amanhã contava o resto juntamente com a Selena. Ele disse que para aquele momento eu só necessitaria de saber o essencial...

- Então diz-me, o que é o essencial? Aliás, como é que sabes que ele estava a dizer-te a verdade? Como é que sabes que eles não se vão esgueirar a meio da noite para nos matarem por termos visto demasiado? Eu e a Miranda tínhamos razão, nós avisámos-te!

- Importas-te de te acalmar? - Hugo quase que deu um berro. Ele podia preocupar-se com Liz e tentar fazer o melhor por ela, mas naquele momento nem ele mesmo podia aperceber-se do que se estava a passar à sua volta. Ela percebeu-o e acalmou-se.

- Desculpa... eu só quero saber a verdade. – Ela calou-se, já com as lágrimas de novo à espreita, à espera que Hugo abrisse a boca, enquanto este acabava de arrumar as ideias e de se acalmar.

- A única coisa que o John me disse, – começou o amigo, com uma voz calma e pausada – foi que todas as histórias, ou pelo menos uma parte delas, que ouvíamos em crianças, todas as fantasias, os demónios, lobisomens, fadas, etc. tudo existe, e que, de alguma forma, nós os dois fomos lá cair no meio, sem ele próprio saber bem como.

- O quê? Achas mesmo que esta é a altura ideal para brincadeiras? Como é que...

- ... Eu quero que tu acredites nisto? Eu também não acreditei, mas tu viste com os teus próprios olhos aquele monstro tão bem como eu, e se mesmo assim continuas sem acreditar então minha amiga tens duas opções, esperas por amanhã por mais respostas tal como eu, ou então armas-te em ignorante e tentas esquecer o que aconteceu, coisa que não acredito que sejas capaz.

Com isto, já os dois de pé e aos gritos, sentaram-se e calaram-se. Ficaram lá, sentados, envoltos na escuridão e no silêncio, sem saber o que fazer, ou o que dizer.

Os minutos foram passando... Quando deram por eles já se tinham transformado em horas, que em breve se tornariam na luz do dia.

A cada piscar de olhos, a cada canto escuro, tudo o que Liz via era o monstro em cima de Selena. Nem ela nem Hugo tinham pregado olho durante a noite toda, sentados no sofá da sala, eram governados pelo silêncio.

Entretanto, começaram a ouvir o piar dos pássaros, o sossego da noite deu lugar aos movimentados carros que passavam com pessoas comuns, despreocupadas, a começar a rotina normal diária de ir para o trabalho.

Já eram 8 horas quando ambos decidiram que tinham que começar a entrar em ação  e preparar-se para irem para a escola. Liz vestiu a primeira coisa que lhe apareceu à frente, e tentou em vão colocar uma melhor cara. Quando se despachou, Hugo foi até casa dele para também poder vestir algo novo, deixando a amiga na sua sala de estar para que esta ficasse o menos de tempo possível sozinha onde quer que fosse.

Iniciaram o caminho para a escola a um ritmo diferente do normal, receosos do que pudesse aparecer na esquina da rua seguinte, e ainda em silêncio, cada um receoso com o que iria acontecer nos próximos minutos, assim que vissem os gémeos, e a pensar como seria a sua vida a partir daquele momento. Tudo dependeria da conversa que estava para breve.

E talvez estivesse para breve demais: Assim que chegaram à escola estavam lá os gémeos ao portão à espera deles. Selena estava com o braço direito ao peito, e tanto ela como o irmão tinham expressões carregadas, como se também eles receassem os minutos que se avizinhavam.

Estava na hora de descobrir a verdade...

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