Capítulo XIV

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Olhou para cima e à porta de casa estava um homem, provavelmente de origens asiáticas, alto e magro, vestido com um kimono preto e mais uns quantos adereços. Apesar de toda a sua extravagância, o que realmente ficou na cabeça dos dois visitantes foi os olhos dele. Amarelos e intensos, como os de um felino que não parava de os fitar, como se os perseguissem independentemente de para onde é que eles olhassem.

- Que bom, finalmente chegaram! Não vamos perder mais tempo, entrem... Rapazes, guiem-nós até à sala que eu vou preparando as coisas.

O seu desaparecimento dentro da casa foi tão repentino como a chegada à porta.

Liz e Hugo deram espaço para Selena e John lhes guiarem o caminho por dentro da casa. Dentro dela, a vista era tão peculiar como por fora: os corredores eram escuros, iluminados apenas por velas, as paredes tinham tons roxos e a ornar as paredes juntamente com as centenas de livros velhos haviam caveiras e o que pareciam ser frascos de poções com variadas cores. Quando olharam para cima, conseguiam ver contas de várias cores penduradas por cordas, fios de lã e fitas.

Finalmente entraram para uma sala pequena. Ao longo de uma das suas paredes conseguiram ver uma primeira janela, a única luz natural que esta casa parecia receber, que fazia ligação para um pequeno jardim com uma majestosa árvore no seu centro. A condizer com o resto da casa, as paredes eram roxas, e uma manta verde escura aquecia um pequeno sofá na parede oposta da janela, ao pé do qual havia uma pequenina mesinha com um candeeiro. Havia também uma escada em caracol e uma porta fechada.

John fez-lhes sinal para se sentarem no sofá enquanto Selena ia para o jardim. Quando se sentaram, Liz notou que Hugo tinha empalidecido drasticamente no último minuto, e que se encontrava a arfar em busca de ar.

- Hugo, estás bem? O que é que se passa?

Quase instantaneamente, o homem que os tinha recebido à pouco rompeu da porta fechada, aos gritos, e com o amarelo dos olhos cada vez mais intenso.

- Rua! Eu não permitirei que gente da tua raça coloque os pés por de baixo deste teto! - agarrou Hugo pelo colarinho, este já sem força para reagir, e arrastou-o pelo corredor de onde tinham vindo até à porta da rua, sempre aos berros - Para quem é que trabalhas? Não dizes hã... Pois acredita que me deverias temer muito mais do que ao teu chefe! Tenebris nunca serão bem vindos nesta casa, NUNCA!!

Enquanto isto, Liz corria atrás deles, aflita, fazendo os possíveis para os alcançar, até que os perdeu de vista no corredor. Quando chegou à porta da rua, deparou-se com Hugo estendido no chão, e o homem com olhos de gato em frente a ele, em pé, mirando-o em tom de desafio. Ela vai disparada até Hugo, certificando-se que ele está bem, graças ao ar puro começava a recuperar, virando-se depois para o agressor do amigo.

- Porque é que fizeste isso? Eu pensava que nos queriam aqui!

- Eu nunca disse que queria um Tenebris em minha casa! Nunca tal criatura aqui entrou, nem nunca entrará outra vez! Rua!

- Tenebris? Do que é que tu estás a falar?

- Estou a falar aqui do teu "amiguinho" ser um Tenebris, um servo das trevas, alguém cujo único propósito para respirar é fazendo tudo o que as trevas o ordenam, espalhando medo, terror, e caos nas ruas. Ai de ti monstro, que voltes a aparecer diante da minha vista! Embora!

- Não! Ele é meu amigo, e não é nenhum Tene.... qualquer coisa! Se ele vai então eu também vou! Tu é que me chamaste aqui, tu é que escolhes: eu, ou ele?

Ficou tudo em silêncio. Na berma da porta estava Selena e John, estupefactos com a cena. Liz, rezando pela sua sorte, e questionando de onde tinha vindo toda aquela coragem. Hugo, que finalmente tinha recuperado o ar, começava por fim a tomar consciência do que se tinha passado, adicionado mais uma pessoa nas rezas pela sorte de Liz. Por fim, passados uns momentos, o homem, incrédulo com o desafio que a rapariga lhe tinha colocado, respondeu, com um sorriso malicioso estampado na sua cara:

- Muito bem, ele pode entrar, não vale a pena o risco de te deixar ir sem uma inspeção minuciosa primeiro. - com estas palavras, Liz sentiu um leve arrepio, imaginando o que poderia ele crer dizer com "inspeção minuciosa", mas fez um esforço por se manter firme - No entanto, devo avisar-te, esta casa está protegida com feitiços e ornamentos específicos contra os da laia do teu suposto amigo, 10 minutos lá dentro e ele morre, porque achas que se deu a sua instantânea falta de ar?

- Não! - desta vez era Hugo, finalmente recomposto para se defender a si mesmo - Nem pensar que eu a vou deixar entrar sozinha aí dentro com vocês! Não faço ideia do que é que estás a falar ou o que é que pensas que eu sou, mas eu não a vou abandonar!

- Hugo, por favor não, está tudo bem, assim que eu sair ligo-te ok? Muito bem, vamos a isso.

Selena e John entraram de volta para dentro de casa, seguidos pelo homem, que lançou um último olhar fulminante a Hugo. Liz lançou um último olhar tranquilizador ao amigo, quando na verdade se sentia aterrorizada por dentro, outra coisa que os seus olhos não escondiam do amigo. E assim o deixou, preocupado, no chão... sozinho.

Quando voltou a entrar não viu ninguém, prosseguiu até à sala e lá encontrou a porta, antes fechada, agora escancarada, com o homem com olhos de gato ao pé dela.

- Muito bem, agora sem mais interrupções, vamos começar.

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⏰ Última atualização: Nov 19, 2018 ⏰

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