Capítulo V

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Após Miranda ter cumprimentado os dois amigos, sentou-se ao lado de Hugo, aproximando a sua cadeira o mais possível da dele. Já no fim do almoço, quando tudo o que restava eram as habituais conversas entre estes três amigos, Liz reparou que tinha apenas 5 minutos antes de começarem as aulas da tarde, começando a  arrumar as suas coisas enquanto observava os seus amigos, à espera de captar algo com que pudesse gozar mais tarde o seu melhor amigo. Até que a espera recompensou:

- É verdade Hugo, o que é que fazes hoje à noite? – perguntou Miranda. Liz tentou reprimir uma gargalhada, pegou no tabuleiro e começou a levantar-se, a sua missão estava cumprida.

- Bem... eu vou arrumar o meu tabuleiro e depois vou andando para a sala. Adeus Miranda, falamos amanhã, e quanto a ti – disse, voltando-se depois para Hugo – encontramo-nos depois na sala Romeu. – Hugo fulminou-a com o olhar enquanto ela tentava reprimir uma outra gargalhada. Para sorte dele, Miranda não se tinha apercebido do que tinha acabado de acontecer.

- Sim, sim, ok linda, depois falamos. – respondeu-lhe Miranda. Quando finalmente se encontravam sozinhos, ela continuou a insistir na pergunta – É verdade, estava-te a perguntar, hoje à noite tens planos?

- Hã? Ah! Hoje à noite... – Hugo tinha ficado tão atrapalhado quanto surpreso pela pergunta, nem queria imaginar onde é que ela queria chegar com isto, no entanto, tentou manter-se firme – Assim de repente acho que não, não tenho bem a certeza, porque é que perguntas?

- É que uns amigos meus vão dar hoje à noite uma festa e pensei que talvez pudesses vir comigo...

- Uma festa? Mas tu estás maluca? Amanhã temos aulas às 8:30h da manhã!

- Ouve bem Hugo, em primeiro lugar tu já sabes que aqui a tua amiga Miranda é como o arroz doce, está em todas as festas. Em segundo, se eu beber algum copo, bebo logo a seguir o dobro em água. E finalmente em terceiro, como é que tu queres que eu vá a uma festa sozinha? Toda a gente vai acompanhada!

- Sobre isso da companhia é fácil, podes sempre ir com o Júlio. Isso dos copos e da água sabemos muito bem que é mentira, pensas que não, mas eu conheço-te muito bem amiga. É assim, por mim podes ir à festa à vontade, o problema é isso dos copos e do sair de lá às 2 da manhã. Se tu queres vai à festa, mas não contes comigo.

- Eu sei que o Júlio é a minha companhia habitual para as festas, mas não somos tão próximos como nós os dois somos Hugo, era mais divertido se fosses tu...

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Enquanto estes dois amigos discutiam sobre a tal importantíssima festa a que Miranda desejava ir, Liz dirigiu-se para a casa de banho, ainda a rir. Quando estava a chegar, deparou-se com o seu novo colega, John, encostado a uma parede mais à frente no corredor a ver qualquer coisa no telemóvel. Agora, de t-shirt branca e casaco de cabedal à cintura, Liz conseguia observar melhor os seus bíceps bem definidos e o contraste que a sua exótica cor de pele fazia com a sua roupa.

Quando ele reparou que estava a ser observado, virou a cara para encarar a sua admiradora. Assim que desvia o olhar para ela, Liz sente-se corar drasticamente e corre para a casa de banho. Lá dentro, fora do dourado olhar de John, é que Liz começa a raciocinar melhor: tinha feito figura de parva deixando-se hipnotizar pelos músculos do rapaz, o mais esquisito daquilo tudo é que ela nunca foi do tipo de rapariga de se deixar levar pelo sexo oposto... Porque razão se estaria a sentir agora ligeiramente atraída? Ainda por cima por um gémeo cuja sua irmã ela não simpatizava nada... 

Deixou os seus pensamentos de parte e lavou as mãos, aproveitando para passar a cara por água para ver se voltava à realidade. Quando acabou a sua improvisada "terapia", ouviu um barulho do qual não se tinha apercebido antes. Um choro. Um choro de pânico com desespero à mistura.

- Não! – Liz assustou-se com o grito repentino solto da última cabine. Quando se aproximou, ouviu sussurrar – Não, por favor, para! Deixa-me em paz... Não! – outro grito estridente.

Liz, preocupada com a pobre coitada que estava dentro daquela cabine, bateu à porta. Depois disso, só se ouviu silêncio. Até que finalmente ganhou coragem para fazer a tal pergunta:

– Hey, está tudo bem? Precisas de ajuda? – No meio da sua preocupação para com a colega lá dentro, Liz foi apanhada de surpresa quando, passado um tempo, a porta se abriu, mostrando a última pessoa que ela esperava ver: Selena.

Ela estava com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar e tão vermelha que parecia um tomate. No entanto, quando ela viu Liz, os seus olhos não tinham nem tristeza, nem desespero, apenas confusão e intriga.

- Hey, Selena, não é? Está tudo bem? – Liz tentou manter a posição de amiga preocupada para não dar parte fraca – Precisas de alguma coisa?

- Sim, sim, está tudo bem – apressou-se ela a dizer enquanto se dirigia rapidamente ao lavatório e lavava a cara para limpar as lágrimas – Isto não passa de saudades de casa. – Afirmou, reforçando esta ideia com um sorriso claramente forçado.

- Tens a certeza? É que os gritos que tu deste não transmitiam bem essa ideia... Eu compreendo que és nova aqui, isto é tudo novo, amigos novos, percebo que te sintas um bocado perdida... Mas isso é normal, se precisares de alguma coisa é só chamares. – Liz nem acreditava no que acabava de fazer.

Selena olhava para ela incrédula, também sem acreditar no que lhe tinham acabado de dizer. Ficaram ambas a olhar fixamente uma para a outra sem saber o que dizer. Quando finalmente tocou, Selena voltou ao seu mundo e após um rápido "obrigada" saiu a correr da casa de banho. Só apenas uns segundos mais tarde é que Liz conseguiu processar tudo e mexer-se para ir para a próxima aula.

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- Então Romeu? Que fazes hoje à noite? – Liz tinha acabado de chegar perto de Hugo, à frente da sala para a próxima aula, e não hesitou em meter-se com ele.

- Bolas, tu nem me fales, aquela Miranda às vezes consegue ser uma chata! Imagina bem, queria que eu fosse com ela a uma festa de uns amigos seus que vai haver hoje à noite.

- O que é que queres que se faça? Chama-se amor...

- Pois está bem... E tu, onde é que andaste?

- Olha, por acaso até aconteceu uma coisa bastante esquisita: quando fui à casa de banho para lavar as mãos, encontrei lá a nova rapariga, a Selena. Ela estava fechada numa cabine só a chorar e aos gritos, e depois quando saiu disse que estava bem e que eram só saudades de casa. Acredita em mim, foi super esquisito. Alguma coisa aqui não bate certo.

- Cá para mim é a tua cabeça. – Liz bateu-lhe no braço e começaram os dois a rir.

A aula de física e química passou num instante. O que ajudou foi especialmente o facto de se terem feito as apresentações de todos sem exceção para que "os novos alunos ficassem mais à vontade" e, logo a seguir, se ter feito um teste diagnóstico. Com isto, Liz e Hugo foram os dois andando para casa. Quando já estavam a chegar, Hugo virou-se para a amiga e começou a fazer beicinho:

- Pois é... Agora vou para casa, sozinho, abandonado...

- Escusas de continuar com o espetáculo, anda lá que eu também vou estar sozinha.

E assim foram os dois para casa de Liz.

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- Eu estou-te a dizer John! Aquela nossa colega não só me ouviu como também me viu.

- Estás a falar daquela... Liz não é? Eu bem a vi a entrar para a casa de banho quando lá estavas, mas como estavas protegida não liguei muito.

- Protegida? Como é que estava protegida? Eu tinha o colar posto, o rubi supostamente estava a funcionar, estou-te a dizer, aqui há gato!

- Ouve Selena, acalma-te ok? Vamos agora para casa, falamos com o Lúcifer e ele logo vê o que é que se passou. Mas já pensaste se o problema não é do colar, mas sim dela? Tu própria me disseste que quando ela bateu à porta a premonição parou logo.

- Tu não estás mesmo a raciocinar bem pois não? Na primeira aula o colar analisou a sala e deu negativo, supostamente seriamos os únicos...

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