Capítulo X

2 0 0
                                    

*** ATENÇÃO: Este capítulo pode afetar a sensibilidade de certos leitores. Caso seja o caso e deseje um resumo para poder continuar com a leitura dos próximos capítulos, avise-me para que o possa fornecer. Obrigada e continuação de uma boa leitura! ***

Assim que o rugido lhe chegou aos ouvidos, Liz começou a situar-se, e uns segundos depois, apercebeu-se para que rua é que Selena tinha ido comprar pão, e donde vinha este som familiar.

Sem se importar com o facto de se ter perdido dos rapazes, Liz aproximou-se lentamente da esquina que dava para a rua donde o som vinha. Assim que lá chegou, tudo caiu-lhe em cima como um dejá vu: Sara começou-se a aproximar lentamente do beco e, por sua vez, começou a avançar por ele a dentro sempre devagarinho e hesitando algumas vezes para observar melhor o local. As crianças olhavam para a sua educadora quase como que petrificados.

A única coisa que estava ali a mais era Selena, que corria na direção de Sara e do malfadado beco. Liz queria apanhá-la para a chamar à atenção e salvá-los a todos, mas sabendo o que vinha para aí, não tinha a coragem, deixando-se estar naquela esquina a observar a cena.

Quando Selena chegou ao pé de Sara, começou a falar com ela e a fazer gestos bruscos com as mãos. Assim que Sara se apercebeu da presença da rapariga, começou a recuar para fora do beco e, quando Selena acabou os gestos com as mãos, pegou nas crianças, e começou a correr para longe.

Depois de Selena se ter certificado de que Sara e as crianças já estavam longe o suficiente, virou-se para o beco e gritou o que pareceu a Liz uma língua antiga: ostende te, infernus viventem!

Nesse preciso momento, saiu do beco a monstruosa criatura com quem Liz se deparara no seu sonho, as mesmas cores, o mesmo modelo, era ele, e não parecia satisfeito com o facto de Selena lhe ter roubado o jantar, rosnando-lhe para cima em tom de desafio e frustação. No entanto, Selena não mecheu um músculo, deixando-se estar ali a fitar a criatura, como se nada fosse.

Liz, naquele momento, não conseguia destinguir o que era real do que era imaginário, se é que existissem as duas versões. Estava paralisada com medo do impossível que se deparava à sua frente.

Enquanto se preparava para chamar Selena para que ela saísse dali, esta inclinou-se para a frente na direção da besta e gritou. Mas em vez de ser um grito normal de medo como seria de esperar, era um grito que tinha algo de diferente, um tom fora do normal, no entanto, familiar a Liz.

Enquanto gritava, Selena esticou os braços para a frente e colocou as palmas das mãos direccionadas para a besta. O monstro, baixando as orelhas, começou a guinchar e a gemer, ao mesmo tempo que ia sendo empurrado de volta para dentro do beco por uma força invisível.

Quando Selena finalmente parou de gritar, ajoelhou-se no chão, com a cabeça pendida para a frente. Liz, não vendo sinal da besta, correu em direção de Selena para ver se ela estava bem. Assim que a alcançou, viu que ela, ofegante, respirava fundo várias vezes seguidas e que tinha as mãos a tremer. Quando lhe tocou no ombro, Selena virou-se de repente, assustada, mas mal viu Liz, o susto foi substituído por raiva e uma expressão alarmante:

- O que é que tu pensas que estás aqui a fazer? Tu devias estar com os rapazes! O que é que tu viste? - Liz não conseguia falar sem gaguejar, principalmente quando olhou para o beco e viu que o monstro estava deitado, inanimado, mas a recuperar rapidamente as forças. Foi o suficiente para Selena:

– Ouve Liz, tu faz exatamente o que eu te disser! Vai o mais rápido que puderes para a esquina donde viemos e fica lá escondida até eu ir ter contigo!

- E-eu não te... E-eu não te vou deixar com aq-aquilo...

- Tu percebes que se não fizeres isso morres certo? Vai, já! – Liz partiu a correr, mas assim que ouviu outra vez aquele rosnar, parou e virou-se para trás, já sem conseguir controlar as lágrimas que insistiam em sair.

Selena já estava outra vez em pé, pronta a defrontar outra vez a besta, embora ainda um pouco ofegante, só que desta vez, tinha um punhal na mão. De repente, tão veloz como um relâmpago, a besta saltou para cima de Selena, prendendo-a contra o chão.

Assim que ela teve a oportunidade, espetou o punhal na barriga da besta, fazendo-a rugir de dor, mas aquilo só despertou ainda mais a fúria dela, tentando assim arranhar Selena o máximo possível para a matar. A partir de certa altura, Liz já nem distinguia Selena no meio de tanto sangue, e apenas se apercebia da sua presença devido aos gritos que ela lançava, mas desta vez muito semelhantes aqueles que Liz ouviu na casa de banho.

De repente, a besta ruge outra vez de alto e de dor, caindo de seguida para o lado, mostrando uma grande queimadura na zona lateral da barriga, mostrando John do outro lado do corpo com os olhos a brilhar num vermelho intenso.

- Liz! – Hugo tinha acabado de chegar a correr, apoiando-se no ombro de Liz para travar. – Liz, estou tão contente por te ver! Anda, nós temos que ir e é agora! Vamos! – Hugo estava todo vermelho da correria, e os seus olhos transmitiam tanto preocupação como alívio.

- Mas....

- Mas nada, anda! – Liz estava lavada em lágrimas e tal maneira em choque que teve que ser Hugo a empurrá-la para fora da maldita rua.

Os dois amigos foram em silêncio para casa. Liz já tinha conseguido trancar algumas lágrimas, mas também havia outras que ainda escapavam pelos olhos. Enquanto que Hugo, embora pálido e também um pouco assustado, sabia que tinha que se manter forte pelos dois.

Só quando chegaram à sua rua, é que Liz tentou falar, mas a voz saiu-lhe tal maneira rouca que teve que fazer algumas tentativas.

- Hugo, o que é que se passou?

- Eu estou com os meus pais fora, a tua mãe está em casa? – Liz abanou a cabeça. – Não? Ótimo, vamos para tua casa para te acalmares e para que eu te conte tudo o que o John me disse.

Visões SonhadasOnde histórias criam vida. Descubra agora