Cinco

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 Passei minha vida em um orfanato, pensei que tinha amigas, mas elas sempre foram falsas comigo.

Hoje moro em um lugar que é o sonho de qualquer pessoa, tenho o quarto exatamente do jeito que eu queria. Tenho os livros que sempre quis materiais de desenho. Poderia dizer que minha vida esta perfeita. Mas falta algo, eu me sentia amada estando do lado das minhas amigas e agora. Agora eu sinto um vazio enorme no lugar que antes elas ocupavam.

Depois que cheguei do orfanato, entrei para meu quarto e não sai mais. Carlos já esteve aqui, mas não abri a porta e mesmo assim ele insistiu. Já passa das oito da noite e nada do que ouvi naquela conversa me sai da cabeça. Já li alguns livros, ouvi musica e não consegui tirar isso da cabeça.

- Agora já chega. – Carlos entra no meu quarto coloca uma bandeja encima da cama e entra no meu closet ele sai de lá carregando uma calça de moletom, uma regata e minhas roupas intimas. – Vá tomar banho e quando sair de lá nós vamos conversar. – ele joga a roupa encima de mim.

Sem muitas escolhas entro no banheiro e tomo o banho o mais demorado possível. Visto a roupa que ele escolheu e volto para o quarto.

- Pensei que teria que te tirar lá de dentro. – ele diz quando me vê.

- Sobre o que quer conversar? – pergunto já sabendo a resposta.

- Você sabe e vai me contar. – ele afirma.

Respiro e me sento na cama. Só então vejo o que tinha na bandeja. Um pote de um quilo de sorvete de chocolate, duas barras de chocolate e bolo de chocolate. Olho para ele que da de ombros.

- Dizem que mulher adora comer chocolate quando passa por um momento ruim. – se explica.

- E você esta disposto a se entupir de chocolate só para ouvir uma crise de adolescente?

- Estou desde que você me conte o que aconteceu. – ele se senta ao meu lado e me entrega uma colher ficando com outra. – Pode começar.

- Não é fácil. – faço uma pausa – Como você sabe a minha vida toda eu estive naquele orfanato. Eu era muito sozinha, eu via os casais chegando e escolhendo as crianças e logo em seguida as adotando. Eles nunca me escolheram nem sequer olhavam para mim. Até meus cinco anos eu fiquei sozinha, sempre estava isolada em algum canto do orfanato ou na cozinha. Aprendi a ler cedo para superar a carência. E aí elas apareceram, Carla e Laura são irmãs, se tornaram minhas amigas. Foi o melhor dia da minha vida. Elas estavam ali e disseram que seriam minhas melhores amigas. Na escola eu era invisível mesmo depois de elas chegarem, conforme os anos foram passando elas se tornaram populares, e mesmo assim continuaram sendo minhas amigas. Elas eram tudo o que eu tinha. Ouvi o que elas falaram hoje, doeu, machucou muito. Eu sempre odiei falsidade e elas foram as pessoas mais falsas que eu já conheci.

- O que você as ouviu dizendo?

- Que se tornaram minhas amigas por pena, por que ninguém iria querer ter um bichinho acuado de medo como amiga. Sei que um dia vai parar de doer, mas por enquanto dói muito.

E pela primeira vez eu chorei naquele dia. Carlos me puxou para seus braços e me consolou.

- Isso passa, eu prometo. – disse e beijou o topo da minha cabeça. – E agora vamos fazer algo divertido.

Ele pega o controle da televisão e escolhe um filme de comedia romântica.

- Você gosta de comedia romântica? – pergunto secando as lagrimas.

- Não, mas posso fazer este sacrifício por você, mas não se acostume.

- E quem te disse que gosto de comedia romântica?

Meu TutorOnde histórias criam vida. Descubra agora