*Cap. 2 - A FIDELIZADA

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Vicente Max havia liderado a equipe que operou um jovem por sete horas. Estava estressado, após a maratona para estancar as hemorragias no lóbulo frontal do paciente, vítima de acidente de carro. Esforçara-se o máximo, mas pela sua experiência caso sobrevivesse, o paciente ficaria com sequelas e a extensão delas dependeria do pós-operatório. Tinha conversado com os familiares. Aquele era o momento que menos gostava na sua profissão, quando não podia dar uma notícia promissora, o que o fazia sentir-se impotente. Mas o sorriso da mãe entre lágrimas havia sido um alento, pois, ao menos por hora, o filho estava a salvo.


Do hospital foi direto à academia tentar diminuir a tensão. Aparentava segurança, nunca suava frio ou tremia em situações limites, porém a dinâmica entre a vida e a morte, ou o fato de um paciente sair de sua mesa de cirurgia com sequelas, mexia com ele. Treinou como um cavalo, encharcando de suor a camiseta azul e short escuro, porque precisava se cansar, baixar a ansiedade, caso contrário teria que ligar para Elisa, sua fidelizada. Fitou-se no espelho e gostou do que via, uma imagem fria, alta e forte, com os músculos aparentes, sem exageros. Quando completava a última série no supino, Marcel se aproximou.


— Como foi o dia, mano? – Marcel era um homem sedutor, não se demorava em relacionamentos, sem se envolvia emocionalmente.

— Como sempre, cara. Conversou com Suna? – tocou no assunto despretensiosamente para puxar assunto, havia até esquecido desse novo arranjo que planejava para o futuro.

— Ainda não. Ela não é a mulher ideal. Veja Grazi – Marcel fez sinal de modo discreto. — Olha que simpatia! Além disso, é uma mulher de fé, batalhadora. Está livre.

— Grazi, nem de graça – a sonoridade do que havia dito os fez rir. — É uma alpinista – na academia algumas flertavam com ele, mas não queria aquele tipo de armadilha.

— Seria mais fácil convencê-la a assinar um contrato.

— Quero alguém que saiba o valor do esforço para crescer na vida e não uma capaz de se tornar uma perua – desabafou ao fitar a moça de cabelos muito longos, glúteos bonitos e seios avantajados. — Qual o seu problema com relação a Suna?

— Nenhum – Marcel ficou introspectivo. — Só acho que ela não merecia, eu...

— Se tem interesse nela, não faça, porra. Só me avisa para pensar em outra. E ainda perdi meu tempo livre essa semana, almoçando no Maresia com aquela comida típica enjoativa, ainda tendo que derramar simpatia, olhares e sorrisos para Suna por sua causa... – reclamou e saiu em direção ao vestiário. Marcel fechou os olhos incrédulo.


Depois da ducha fria, enxugou-se e vestiu com calma uma bermuda cargo marrom e uma camiseta branca. Pegou o celular na mochila de treinamento e mandou mensagem para Elisa. Necessitava dos serviços dela urgente e, naquele dia, seria um cara muito mal já que estava faminto e aborrecido. No caminho para o flat, onde mantinha seus encontros subvertidos, pediu um jantar para ele e a morena de corpo devastador que o esperava. 


Só de pensar em cada centímetro da pele macia da moça já o excitava. Elisa tinha 24 anos, universitária, de biótipo mignon, era dona de uma cabeleira cacheada e o melhor, aguentava seus trancos. Fidelizada por um contrato, recebia uma boa quantia para estar disponível sempre que ele quisesse, nunca poderia contar sobre o médico-cirurgião e era obrigada a submeter-se a exames de sangue todo mês e deixar que ele lhe aplicasse injeções anticonceptivas. Max entrou no estacionamento e do celular viu as imagens de dentro do flat. A fidelizada sabia que estava sendo gravada. Assim funcionava o jogo.


O neurocirurgião entrou no apartamento e Elisa sorria forçosa sentada no sofá, apenas com um conjunto minúsculo de sutiã e calcinha de renda, na cor cereja, e uma sandália de salto prateada. Caía no antebraço um fino robe transparente. Max fechou a porta e fez um leve sinal com dois dedos. Ela se levantou e girou os calcanhares levemente ao redor do corpo, exibindo os seios siliconados pulando do sutiã e as nádegas volumosas e empinadas. Ele tirou a camisa, desabotoou a bermuda e foi até ela que teria que o servir e, para seu alívio, conhecia as regras. Era o senhor, imprimia dor se quisesse e ela apenas obedecia. Max não costumava dar prazer e só beijava na boca quando se sentia carente.


Tocou e apertou com força os seios, depois desceu as mãos sobre as nádegas puxando-a para próximo de seu membro. Em seguida, empurrou Elisa sobre o sofá e aquele gesto causou certo barulho entre os móveis, mas ela continuava em silêncio e ficou de costas com os braços apoiados no sofá, abrindo as pernas. Livrou-se da cueca e afastou com força a minúscula calcinha, penetrando-a de uma só vez, de forma urgente. O pênis doía, devido à falta de lubrificação e era assim que gostava. Sentiu que ela gemia calada, sabia que era de dor, mas manteve o ritmo alucinado por algum tempo. Depois, puxou os cabelos dela e a fez girar, perdendo a penetração, mas a deixando de frente ao seu sexo. Segurou o rosto de Elise e a posicionou para chupá-lo. Controlava-se para não atingir o clímax àquela hora, pois não estava satisfeito. Enrolou o cabelo dela no braço direito e a puxou em direção do quarto.


— Você é o quê, hein? – repedia com estupidez, como se estivesse brigando com alguém.

— Sua putinha, sua vagabunda – ela dizia com voz que mais parecia um miado.


Max a empurrou na cama. Mantendo-a de quatro e com os cabelos controlados por seu braço, penetrou-a com brutalidade. Puxou a cabeça dela para trás e começou a lhe morder as costas. Elisa fechava os olhos para tolerar a dor e ele aumentava o ritmo de modo virulento. Arqueou-se ao redor do corpo da mulher, mantendo a sua boca próxima às costas. Assim que entrou em êxtase, afundou os lábios no ombro e, enquanto se deleitava, mergulhava os dentes na pele de Elisa, até sentir o sangue na boca e o longínquo gosto de ferro. Ela urrou como um animal abatido numa caça, num grito sentido e aquilo só aumentava o prazer do médico.


Jogou-se ao lado da moça e fitou o teto por alguns segundos. Quanto mais agressivo era, mais a sensação depressiva pesava o coração. O prazer imensurável sempre vinha de mãos dadas com a culpa, como uma bigorna atirada na cabeça. Sentia-se pesado, introspectivo e, admitia, entristecido. Não era um sádico. Fechou os olhos e, ao abrir, mirou as costas de Elisa que estava em lástima, ferida e com algumas cicatrizes que formavam um mapa. Parecia que olhava o próprio reflexo. Aquelas marcas eram sua imagem, o que representava, o homem primitivo, inconsistente, patético, fugaz, intempestivo, egoísta. Só havia o que lamentar pelos seus atos mais íntimos, pagava para alguém se submeter à dor, ao que ele exigia, aos seus caprichos. Era por demais leviano, mas aquela força que habitava suas entranhas parecia indomável, como um cavalo selvagem. Respirou fundo com profunda tristeza. Precisava cuidar de Elisa, deu tapinhas no bumbum.


— Desculpe-me, Elisa. Desculpe mesmo. Vou fazer um curativo – disse com sinceridade e com o semblante destruído. Ela sabia que a partir daquele momento, teria um pouco de liberdade e poderiam manter uma conversa corriqueira. Max se levantou e apanhou a maleta de medicação.

— Não se desculpe, é meu trabalho, mas está doendo pra caramba – reclamou a moça com um tom distante.


Desinfetou a mordida, analisou se precisava de algum ponto. Havia três perfurações mais fundas e outras marcas recentes. Colocou pomada e fechou a ferida. Então, Elisa se levantou e ele foi verificar com o porteiro se o jantar havia chegado. Retornou para o quarto com as roupas na mão e se mirou no espelho, viu a ponta da tatuagem, carregava um dragão nas costas. Elisa saiu do banheiro vestida e ele entrou. Se soltava chamas indomáveis, havia arrefecido as labaredas. 

SÓ POR UM ANO (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora