Cap 3 - Destino

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Deixo aqui mais um capítulo, espero não decepcionar.
Boa leitura!!!


Avião

Christina já estava em seu assento com os nervos a flor da pele, guardou sua bagagem de mão, pensou que o melhor era dormir, sabia que àquelas horas passariam como uma eternidade, talvez fosse uma fuga, se ao menos conseguisse esquecer tudo o que a incomodava, e nesta fuga encontrasse a paz que tanto necessitava. Baixou a cortina da janela, tirou a jaqueta, colocou o cinto de segurança, pegou a manta e se cobriu até a cintura e colocou a mascara de dormir.

Eram 10 horas da noite naquele momento, Heriberto estava super atrasado, e chamavam seu nome pelo alto-falante, o tal "lanche" não caiu bem, por isso perdeu a noção do tempo. Quando em fim entrou no avião, os passageiros já estavam todos em seus assentos, a comissária de bordo o ajudou a encontrar seu lugar, e por um momento sentiu-se sem ar, e uma emoção poderosa que jamais tinha experimentado. As batidas do seu coração ficaram mais aceleradas, pensou estar sonhando, mas na poltrona ao lado estava ela, sua Dama misteriosa junto à janela. "Se alguma vez escrevesse aquilo ninguém acreditaria", pensou ele. Ela estava tão bela e tão misteriosa, com uma mascara de dormir. Sem duvidas será uma viagem muito intensa. Enquanto Heriberto se acomodava na poltrona, ouviam-se os anúncios de boas vindas e de segurança.

Quando anunciaram o jantar, ele ia oferecer-lhe uma taça de champanhe, mas se arrependeu a tempo, ela só queria um copo com água, e pediu a comissária de bordo que não fosse incomodada por nenhum motivo durante o vôo, sua voz grave e tíbia, arrastava uma tristeza. Quando levaram a água, ela pegou dois comprimidos dourados de dentro de um estojo de comprimidos, onde continham outros de cores diferentes. Num gesto metódico e automático, bebeu e engoliu os comprimidos, como se fizesse aquilo freqüentemente desde o seu nascimento, poderia pensar que não estava vendo por não tirar a mascara, mas ela a afastou um pouquinho a ponto de enxergar as cores dos comprimidos e beber água. Guardou o copo junto com o estojo e estendeu sua poltrona ao máximo, e dormiu, sem uma pausa, sem um suspiro, sem mudar a posição quase todo o vôo, tempo que pareceu eterno para Heriberto. Ele sempre acreditou que não há nada mais belo na natureza que uma mulher bela, de modo que foi impossível escapar ao feitiço daquela criatura de fabula que dormia a seu lado. Seu sono era tão estável que em certo momento teve a sensação de que os comprimidos não eram para dormir e sim para morrer.

Heriberto fez sua refeição solitário, e antes de cada gole de champanhe, levantava a taça e brindava a ela.

- A tua saúde, bela.

Terminado o jantar apagaram as luzes e os dois ficaram sozinhos na escuridão do mundo, a maior tempestade do século tinha passado e a noite no atlântico era tão limpa, que o avião parecia imóvel entre as estrelas. Ele a olhou por varias horas, a cada detalhe do seu corpo que não estava coberto, estava lindo, havia tirado a jaqueta, e sua blusa de seda preta realçava seu corpo bem delineado e sensual. Era como se já a conhecesse de toda a vida, e o único sinal de vida que pode perceber foi uma sombra de sonhos que passavam por sua testa, como nuvens na água. Em seu pescoço tinha um colar muito fino com um pingente em forma de violino com pedrinhas de cristal, sua pele muito delicada, tinha aparentemente boa saúde para quem anda com tantos comprimidos na bolsa. Não pôde evitar entristecer ao ver um anel liso na mão esquerda dela, tentou se consolar com a ideia de que não era de casamento, e sim de um namoro sem importância. Estendeu a poltrona até a altura da dela, e ficaram ali deitados como numa cama de casal, ela ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe, o clima de sua respiração era a mesma da voz, sua pele exalava um cheiro agradável de gardênias que só podia ser próprio de sua beleza. Ele a observou por mais algum tempo, e em suas idas e vindas ao banheiro, Heriberto teve a sensação dela também ter saído. "Mas como poderia ser tão rápida", pensou ele. Ela não despertou nem na hora do café, e ele foi vencido pelo cansaço, e dormiu por varias horas.

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