Forças para um recomeço.

Capítulo XIX

Mateus ficou perplexo com a comovente história que Felipe havia lhe contado, olhou diretamente para o chão e quando abriu a boca para falar palavras confortantes fora interrompido por Felipe:
- Não diga nada, ninguém consegue me confortar, e eu fico impressionado por você não saber da trágica história da "Familia Cooper"...
Mateus continuou calado, não conseguiu se expressar diante tal tragédia, morte era uma coisa muito delicada, e ele sabia muito bem disso, entendia o motivo da angústia de Felipe, sabia muito bem o que ele sentia por dentro.
Após toda aquela conversa triste começaram a beber, e gritar naquele prédio, Mateus se sentiu bem, se sentiu livre, ele tinha certeza que nunca havia se sentido daquela forma, era muito bom se sentir como se nada e nem ninguém pudesse estragar aquele momento bom entre amigos, mesmo que tudo estivesse errado e a vida deles estivesse caminhando cada vez mais pro abismo eles estavam ali, juntos, e nada podía fazer aquilo ficar ruim.
Os dois beberam até a noite e foram embora, ao chegarem na casa de Felipe se depararam com os pais dele discutindo, e mesmo depois que perceberam a presença do filho e do amigo em casa não pararam e nem disfarçaram, Mateus se estressou por perceber que os pais não davam a mínima pro que o filho sentia, mesmo que tudo aquilo o destruísse por dentro, Mateus então interrompeu a briga dos dois:
- Vocês realmente não percebem que foram vocês que causaram tudo isso? Vocês não tem medo de causar a morte de mais um filho de vocês? O problema de vocês pais é esse, vocês nunca estão realmente abertos pra ouvirem o que os seus filhos sentem. - Mateus falou tudo isso com os olhos lacrimejando, o pai de Felipe foi pra cima de Mateus, mas antes mesmo de fazer alguma coisa Felipe entrou na frente e empurrou o pai pra longe gritando:
- Se você encostar um dedo no Mateus eu MATO você pai, eu juro.
O pai um pouco assustado indagou:
- Você está louco? Não ouse gritar comigo Felipe, eu posso te colocar na cadeia.
- Você não pode pai, NÃO PODE!
- Como tem tanta certeza pequenino?
- Mais um deslize seu eu mando todas as cartas da minha irmã pra delegacia me declarando inocente e vocês culpados!
O pai de Felipe se calou e subiu pro seu quarto, sua mãe ia discutir com ele, mas antes mesmo que qualquer palavra Felipe colocou o dedo indicador na boca, como forma de mandar ela se calar. Os dois subiram cada um pros seus quartos sem dizer nada, quando Mateus estava de cara com a porta de seu novo quarto se deu conta de que estava em um novo ambiente e de que sua vida seria outra a partir do momento em que ele abrisse aquela porta, antes mesmo de abrir a mesma sentiu uma mão sobre seu ombro, era Felipe lhe confortando:
- Não precisa ficar assim, a gente vai sair daqui logo logo! É o que minha irmã queria, eu sei que era...
- Muito obrigado Felipe!
- Boa noite amigão, amanhã temos mais um dia!
Mateus se deitou naquela cama incrivelmente macia e sorriu, pela primeira vez ao se deitar ele sorriu lembrando de seu dia, ele nem se lembrava de tudo de ruim que havia acontecido, pegou o celular e viu várias chamadas perdidas do pai, resolveu retornar e o mesmo atendeu:
~ Filho?
~ Oi pai
~ Que bom que retornou, onde está? Quer que eu te busque? Me desculpa filho, eu não queria passar a impressão de que não me importava com você.
~ Não pai, não precisa. Eu te entendo, você tem uma nova família e uma nova vida e eu concordo totalmente com você, são mais e mais gastos, eu te desejo muita sorte pai, e me desculpe, mas eu não posso te ajudar. Agora tenho que ir, até qualquer outro dia pai.
~...
Após tudo aquilo a linha permaneceu em silêncio, ambos ouvindo a respiração um do outro, o pai então criou coragem:
~ Eu te amo meu filho, e nada nesse mundo vai mudar isso.
Mateus desligou o celular e sentiu a lágrima descer, mas dessa vez não foi de dor, foi felicidade, ele sabia que estava preparado pra deixar aquela angústia, procurar um sentido pra sua medíocre vida e afastar aqueles pensamentos ruins, olhou aos redores do quarto e não conseguiu encontrar a tenebrosa solidão que se encontrava na antiga casa, ele sabia que ali teria Felipe com ele, e aquilo era o que ele mais precisava naquele exato momento...