Capítulo XVIII

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Matheus acordou com uma forte dor de cabeça e se lembrou do aniversário do 'amigo' que havia conhecido no dia anterior, quando se deu conta já era hora do almoço e ele ainda nem tinha se levantado de sua cama, só escutava o barulho da criança e do pai rindo e brincando lá em baixo, aquilo o deixava com o estômago revirado, ele não acreditava que o pai havia o deixado de lado em um período de tempo tão curto, resolveu ir ao banheiro e se arrumar, tinha que passar em uma loja e comprar algo para Felipe, não queria chegar lá sem nada, pegou suas coisas e saiu de casa seguindo à caminho do prédio abandonado. Chegando lá viu Felipe com várias garrafas cheias por completo, um chapéu em formato de cone na cabeça, e com um cigarro por entre os dedos, entrou e disse:
- Olá Felipe, meus Parabéns! - falou sorrindo e estendendo os braços com uma caixa colorida na mão.
- Obrigado Matheus, não precisava de presente... - Ao falar isso Felipe ouviu uma buzina lá fora e Matheus chegou com uma caixa de pizza e refrigerantes.
- Claro que precisava, tô morrendo de fome!
Felipe riu ao ver Matheus todo atrapalhado quase derrubando as coisas no chão, foi ajuda-lo e os dois se sentaram no topo do prédio para comer. Felipe decidiu puxar conversa:
- Seus pais não se importam de você ter amizade com uma pessoa como eu?
- Acho que na realidade eu não tenho pais no momento.
- Por que diz isso ?
- Minha mãe morreu em um acidente 3 anos atrás, meu pai entrou nas bebidas e ontem chegou com uma mulher e seus 2 filhos em casa dizendo que eu iria ter que usar o dinheiro que minha mãe guardou pra sustentar a casa e a nova mulher dele, eu discordei, claro... E agora não tenho mais onde morar.
- Deve ser muito difícil perder uma mãe mesmo... - disse soltando a fumaça do cigarro e olhando pro céu.
- Sim, é muito difícil. Não consigo raciocinar direito sobre o que aconteceu até hoje.
- Quer morar na minha casa? Tem um quarto sobrando, você só precisa levar suas coisas, não precisa pagar nada.
-Sério? Claro!
- Vamos lá dar uma olhada agora, aproveitar que não tô fedendo álcool ainda... - Sorriu e seguiu em direção à saída do prédio.
- Você vai deixar as coisas aqui?
- Sim, o prédio tá no nome do meu pai, a área é restrita, ninguém pisa aqui, relaxa.
Matheus apenas assentiu e o seguiu, viu um carro preto em frente o prédio e se surpreendeu pois quando ele chegou ali o mesmo não se encontrava no local, ele havia visto um carro chique daqueles alí em frente, então resolveu ir perguntando:
- Esse carro é seu?
- Bom, não exatamente... Eu roubei ele ontem, ainda veio esse motorista gato aqui! - Disse Felipe dando risada da própria piada. Mateus apenas entrou no carro e riu de todas as milhares de piadas que Felipe recitava, ao entrarem numa propriedade os olhos de Mateus brilhavam de satisfação, um gramado incrivelmente verde ocupava toda a área cercada por um longo muro branco, ficou mais encantado ainda ao ver alguns cães sendo treinados no gramado dos fundos da enorme casa, Felipe abriu a porta e a felicidade de Mateus se desfazera rápidamente, notaram uma casa vazia, silenciosa e muito bem perfumada, mas aquilo não era uma coisa boa para Mateus, ele esperava que uma família tivesse esperando o filho para um grande almoço, mas ao olhar para o sorriso de satisfação de seu amigo percebeu aquele silêncio poderia ser agradável para Felipe, o garoto com um grande sorriso no rosto levou Mateus para o andar de cima e já deu um sinal de ordem:
- Eu peço por favor que não entre nesses 3 quartos que contém essas plaquinhas nas portas, já são ocupados pela minha família...
- Tudo bem... Quem mora aqui?
- Meus pais e eu...
Mateus ficara muito curioso para saber o motivo de 3 quartos ocupados, já que não morava mais ninguém ali, só Felipe e seus pais, os dois resolveram voltar pro edifício pra comemorar os 17 anos de Felipe.
Ao chegarem no local encontraram tudo perfeitamente intocado, sentaram - se na beirada do 4 andar do local e começaram a conversar, até que Felipe decidiu não esconder sua tragédia Familiar:
- Bom Mateus eu te acho um cara incrivelmente gentil e de coração bom, mas sei que esconde uma grande mágoa consigo mesmo, posso ver de longe todas essas cicatrizes feitas com lâminas.
- Bom, eu não tenho um bom passado.
- Nem eu... Lembra quando te perguntei se seus pais não se importavam se você ter amizade com um cara como eu ?
- Sim, lembro sim
- Eu fui acusado de assassinato à 7 anos atrás, e isso virou notícia em toda a cidade, meu nome saía na primeira página do jornal como " Criança de 10 anos mata irmã Eu sempre fui um bom garoto, não dava trabalho pra minha mãe e amava muito irmã, a mídia e meus pais resolveram colocar a culpa de tudo pra cima de mim, minha irmã não tinha uma boa convivência com minha família, meus pais colocavam nela algumas responsabilidades exaustivas e impossíveis de serem carregadas por uma menina de apenas 17 anos, quando ela fez seus 18 anos e no auge da sua depressão começou a construir esse mesmo edifício, disse que nós dois nos mudaríamos pra cá quando estivesse pronto, ela disse que não queria que eu sofresse todo o transtorno psicológico que meus pais à fizeram passar... Quando meu pai descobriu o plano dela ele fez questão de por um fim na obra, ele dizia que " Mulher nenhuma colocaria o 'filhão' dele contra ele ", uma semana depois do cancelamento da obra ela veio no meu quarto me pedindo desculpas por tudo, e deixou vários bilhetes no meu criado mudo sem eu nem ao menos perceber. Naquela mesma noite minha irmã se matou, tomou um grande coquetel de remédios e misturou com bebida alcoólica, minha irmã morreu por uma overdose não acidental... Em cada bilhete ela colocava a culpa de cada familiar pela sua morte, eu fui o único a receber um bilhete carinhoso com o cheiro do perfume dela, um pedido de desculpas, um adeus e um agradecimento. Após isso me acusaram culpado pela morte planejada da minha irmã, meus pais nem discutiram sobre o caso e eu cumpro pena até hoje... Nunca ninguém de fora da família soube das cartas, nunca souberam do peso que cada familiar meu carrega nas costas pela morte da minha irmã, meus pais se separaram e hoje moram na mesma casa, porém em quartos separados...

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