A morte é uma coisa estranha, sem explicação. Em um segundo a pessoa está ao seu lado, falando, pensando... E em alguns outros tudo que ela foi ou é, simplesmente somem e o que resta para as pessoas que ficam é uma sensação de impotência.
Naquela tarde que Giselle morreu não existia mais sentido, tudo que eu tinha feito ou planejado fazer não tinham mais importância, passei a me perguntar o por que de muitas coisas (a morte faz isso com a gente), por que me apaixonei pela minha professora e meses depois ela descobriu um tumor? Por que ela? Foram muitos porquês para uma única tarde.-filha, temos que organizar o velório. Ela tinha família?
-os pais dela morreram a muito tempo e o resto da família ela não conhecia -falei ainda sentada na sala de espera do hospital encarando o nada.
-filha, eu sei que é difícil, mas você precisa fazer isso.
-isso o que? Preparar um local para enterrar a mulher que eu amo até ela se decompor?
-MARIA EDUARDA, NÃO FALE DESSE JEITO -minha mãe falou com um tom de repreensão.
-filha, o laudo da autópsia já foi liberado, toma aqui -disse meu pai.O tumor tomou conta de todo cérebro de Giselle, fazendo com que naquela tarde todos os sistemas dela parassem de vez levando ela a inevitável morte.
Não tinha ligado para meus amigos, mas é claro que minha mãe ligou e eles chegaram no hospital pouco tempo depois.-Dudaaa -gritou Amanda andando de braços abertos em minha direção.
-eu sinto muito meu amor -disse Izabel que se juntou a Amanda e Breno em um abraço coletivo.
-nós te amamos -Breno completou.Eu fiquei grata por eles terem ditos poucos palavras, palavras essas que não deixaram de ser importantes para mim.
Tomei um fôlego (e um café) e só então fui resolver as burocracias do funeral que naquele momento descobrir como são muitas. O corpo seria liberado a noite, então decidir marcar o funeral para o outro dia as 9 da manhã. Passei a noite anunciando nas redes sociais de Giselle, arrumando suas coisas para a doação e não puder evitar o choro quando encontrei uma carta em uma das gavetas.
"Eduarda, nesse exato momento você está arrumando minhas coisas e eu já estou morta, decidir escrever essa carta por que sei que se eu dissesse tudo o que tenho para dizer enquanto ainda estou viva eu seria interrompida nas primeiras palavras com o seu choro.
Você foi a mulher mais importante da minha vida, foi a única que me permitiu ser eu, a única que eu amei. Não quero que pense que esse maldito câncer interrompeu nosso amor, por que nada vai interromper nosso amor, eu acredito em anjos, e você foi o meu enquanto estava viva, por isso eu serei o seu após minha morte. Não quero que pense eu mim, apenas viva Eduarda, apenas viva. Te amo"
Como eu poderia viver sem ela? Não conseguia me imaginar vivendo sem aquela mulher, não era possível. Deitei na cama para pensar um pouco e acabei adormecendo.
Acordei no outro dia e fui acabar de arrumar as coisas dela e depois me arrumar. Cheguei no cemitério às 07:30 para ficar um tempo sozinha com Giselle antes de todas aquelas pessoas chegarem, fiz o que sempre fazia quando dormia na casa dela e acordava primeiro, a observei, só que daquela vez seria pela última vez. Prestei atenção em cada detalhe, sua boca que ainda estava rosinha, o formato do rosto, do nariz, suas manchinhas, tudo, eu observei cada minúsculo detalhe e então chorei novamente.
As pessoas começaram a chegar, amigos de trabalho, de infância, da antiga cidade, meus amigos e meus pais, todos estavam ali para prestar homenagem a mulher maravilhosa que Giselle tinha sido, e foi naquele momento, ao som de "for you" (eu pedir para colocar essa música nos segundos finais antes de enterrá-la, afinal de contas era a nossa música) que os flashback da minha curta e intensa história com aquela mulher passavam na minha cabeça e então disse as últimas palavras, eu te amo meu amor.
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Seria Você A Pessoa Certa?
RomanceMaria Eduarda é uma garota de 17 anos que após estudar por 6 anos em uma escola de uma cidadezinha pequena, decide se mudar com seus pais para capital deixando seus antigos amigos e namorado para trás. Na nova escola, Madu vai fazer novos amigos, vi...