Sangue e morte

25 12 8
                                    


   O sangue se espalhava rapidamente pelo piso branco, a velha perdia sua vitalidade, que naquela idade pouco lhe restava. Sua pele enrugada e rosada ficava pálida, diante dos meus olhos.
Eu não conseguia me mover. Ouvia ele me chamar:
— Vamos! Precisamos ir agora! Vamos porra!
Mas eu estava paralisada. Aquele quadro de terror, fora eu a autora. Eu não queria atirar, eu nem pensei, foi tudo muito rápido. Por alguma razão, naquele momento, eu só conseguia pensar na minha mãe, pela primeira vez em meses. Lembrava-me da sua feição, da sua voz, do seu nome, da cor do seus olhos e das rugas no canto dos lábios ao sorrir.

Meu envolvimento com as drogas começou com um cigarro de maconha, não era nada demais, mas a sensação era boa. Não vou mentir e nem ser ingênua e dizer que não me deixei influenciar pelos outros, pois, cada decisão foi influenciada por cada pessoa que passou pela minha vida depois daquela tragada, no entanto, foi eu e apenas eu quem era a culpada.
Eu só tinha dezesseis, mas me achava inteligente e adulta, eu era dona de mim, eu sabia o que estava fazendo, mas agora, vendo aquela mulher morrer, eu não conseguia me lembrar do momento exato em que ferrei com tudo.

Depois da maconha veio o ecstasy, mas eu não me lembro quando, como foi ou por que, não me recordo também da cocaína, só sei que faziam parte da minha vida agora. Não conseguia nem mesmo lembrar do nome do cara que a poucos minutos assaltava aquela farmácia comigo. Eu só ouvia a voz dele:
"Pega. Ei porra, cuidado, tá carregada."
"Você não vai precisar usar, mas tem que fingir que sabe o que fazer com isso. Ok?"
"Eu vou pegar o dinheiro no caixa, você fica perto da porta..."
"Vai dar tudo certo."
"Ei, vem cá. Quer um beijo de boa sorte?"
Era só um ruído, na minha mente.

Quando voltei a mim, havia dois policiais apontando suas armas na minha direção e gritando:
— Larga a arma!

Que merda...
Levantei lentamente a mão, eu ia jogar a arma no chão, eu ia... Mas senti o impacto da bala me derrubar, a dor se alastrar como fogo, o medo me consumir, as minhas lágrimas lavarem meu rosto, o frio fazer minhas mãos tremerem, o arrependimento me dominar.
— Sinto muito — disse finalmente, para a velha, mas a mulher estava morta. Eu lhe tinha matado, e um daqueles policiais, me fez o mesmo.

Quem conta um conto aumenta um PontoOnde histórias criam vida. Descubra agora