Eu conhecia muito bem aquela Luz.
Sempre fui uma criança estranha, diferente.
Odiada.
Agora tudo se encaixava.
Todas as minhas perguntas sem respostas, todos os:
Porquê?
Porque comigo?
Agora eu entendia.
A Luz que emana da Mirela é a mesma luz daquela noite, é também a última coisa que meu pai vio antes da morte.
Quando todas essas coisas começaram a fazer sentido minha cabeça começou a latejar sobrecarregada, ao longe eu podia ouvir alguém gritando sem parar, meus olhos se fecharam por conta própria e eu estava denovo presa no meu maior pesadelo.
Eu estava deitada no chão da sala da minha antiga casa, completamente nua, tremendo de frio enquanto derramava lágrimas silenciosas.
Meus olhos exibiam um olhar de puro ódio.
Em minha frente estava meu pai com um sorriso satisfeito nos lábios, ele segurava a cinta em uma das mãos e com a outra ele abria lentamente o zíper da calça.
Minha cabeça estava tomada por um sentimento assustador que só pode ser descrito como uma espécie de raiva assassina.
Ele levantou a cinta novamente pela centésima vez e a arremessou com toda sua força abrindo mais um talho em minhas costas já retalhadas.
Minha mãe estava desmaiada a alguns metros de mim, ela era minha maior preocupação pois estava deitada sobre uma poça de seu próprio sangue.
Eu dizia para mim mesma que ia ficar tudo bem, mesmo sabendo que isso não era verdade, eu tinha que fazer alguma coisa.
Meu pai levantou seu cinto mais uma vez mais eu não estava planejando deixar que ele completasse o movimento.
E então... a Luz.
Uma Luz azulada tomou meu corpo me dando forças que eu nem sabia que tinha, força para derrotar meu próprio demônio.
Lembro que as coisas aconteceram rápido demais, eu saltei por cima do meu pai, ficando suspensa no ar por alguns segundos, enquanto isso abaixei meu braço em direção ao meu pai.
Concentrei toda minha força em uma única esfera mágica de poder puro e quando a gravidade fez seu trabalho a esfera tocou o corpo do meu pai e então explodiu.
Uma explosão negra.
Acordei no pequeno sofá da sala de visitas da tia Mirela, ela tinha voltado à sua aparência de simples irlandesa me fazendo questionar se tudo aquilo tinha sido real.
- Mil perdões querida, não fazia idéia que você reagiria assim, nós temos muito o que trabalhar ainda.
Ela parecia realmente preocupada.
Me levantei lentamente e me sentei no sofá.
- Eu estou bem tia.
- Bom - ela abriu um sorriso - Pelo menos acho que você acredita em mim agora.
- Sim, agora eu posso entender.
Parte de mim estava tão contente quanto ela, agora eu poderia dormir em paz, poderia ser feliz denovo.
- Venha vamos comer, e não se esqueça de arrumar suas coisas elas ainda estão na mala.
- Hum tia?
- Diga querida
- Ainda não tem uma coisa que não está clara pra mim.
Ela coloca sua mão na cintura e se abaixa para colocar o seu rosto na altura do meu enquanto sorria.
- O que é?
- O que eu sou? de verdade?
O sorriso da tia Mirela aumentou ainda mais enquanto ela dizia:
- A última descendente da criança bobinha, pelo menos a última até você ter filhos.
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Ayne, e a Luz Verdadeira
FantasiEsta será a última vez que contarei está história, será meu último relato, minha última lembrança. Contarei como minhas escolhas abriram uma fenda nos meus conceitos de sociedade, fantasia e magia. Vou lhes contar como me tornei Luz por meio das...